Carlos Tavares defende “pacto lusitano” na TAP para “satisfazer” a esquerda e investidor de fora da Europa
Carlos Tavares defende "pacto lusitano" na TAP para "satisfazer" esquerda e diz que tenciona investir nas áreas da hotelaria, automóvel, saúde, inteligência artificial e transporte aéreo.
Carlos Tavares, ex-CEO da Stellantis, defendeu, esta segunda-feira, um “pacto lusitano de acionistas“ para satisfazer a esquerda no Parlamento “na sua vontade de guardar o controlo” da TAP, que passa por um modelo em que Estado fica com 40% do capital da empresa de aviação, os empregados outros 20% e a criação um fundo de investimento com outros 20% que inclua empresas de turismo nacionais. Os restantes 20% seriam vendidos a uma companhia aérea de fora da Europa. “A sustentabilidade de uma empresa como esta passa pela recorrência dos lucros”, advertiu.
Na ótica do gestor, este modelo, que propõe para a privatização da TAP — um assunto que tem agitado as águas no país –, seria o mais consensual e uma forma de agradar à esquerda no Parlamento, uma vez que garantiria capitais nacionais. “Há um pacto lusitano de acionistas com a possibilidade de guardar um controlo português desta companhia que é uma das exigências, pelo que eu percebo da parte mais de esquerda da nossa Assembleia [da República], que é perfeitamente lógico na lógica deles”, afirmou Carlos Tavares à margem do jantar anual da Associação Comercial do Porto (ACP), que aconteceu na noite desta segunda-feira, no Palácio da Bolsa.
O ex-presidente da Stellantis está convencido de que a sua proposta para a privatização da TAP colhe unanimidade junto de todos os partidos com assento político na Assembleia da República. “Não vejo razão pela qual os partidos políticos não poderiam apoiar isto”, notou. Por isso mesmo, o gestor de 66 anos propõe que o fundo de investimento detentor de 20% do capital da TAP inclua empresários do turismo português, com “um assento à mesa desta empresa que é uma das ferramentas para desenvolver o seu negócio”.
Há um pacto lusitano de acionistas com a possibilidade de guardar um controlo português desta companhia que é uma das exigências, pelo que eu percebo da parte mais de esquerda da nossa Assembleia.
Para Carlos Tavares, este “pacto lusitano de acionistas não impede ter uma gestão muito competitiva da empresa, numa indústria extremamente difícil, com margens fracas e com um nível de exposição à geopolítica que é muito elevado”.
Considerando que é ponto assente que “o Governo não sabe gerir a TAP” e, como tal, a privatização é uma “decisão estratégica, o gestor sugere ainda no seu modelo de negócio que 20% do capital seja vendido a uma outra companhia aérea que não seja europeia de modo a não gerar concorrência direta com Portugal na área do turismo.
“Depois ficam 20% para uma parceria com uma outra transportadora aérea que não pode ser de um país europeu, porque qualquer país europeu é um concorrente turístico em Portugal”, defendeu. E como tal, “não poderá ter como objetivo estratégico desenvolver o turismo em Portugal”.
Os principais interessados na companhia europeia são todos europeus. Os grupos IAG, Lufthansa e Air France – KLM já manifestaram publicamente a sua vontade em participar na privatização, que transitou para o próximo Executivo.
Outra sugestão do gestor passa por incluir no caderno de encargos da privatização da companhia aérea o reembolso de mais de três mil milhões de euros em injeções do Estado português na transportadora aquando da pandemia da Covid-19.
Fora de causa está a possibilidade de vir a gerir a TAP. “Nem pensar; claro que não. Tenho 66 anos e, portanto, a minha vida de CEO já acabou. Posso ter um papel na governação da empresa, mas não na liderança executiva”, disse.
Não põe de lado, contudo, a hipótese de também investir na transportadora: “Posso ser investidor, mas isso é são números que não estão ao meu alcance. Posso ajudar para que se crie um grupo de investidores que esteja interessado”.
Tavares quer investir na hotelaria, IA e indústria
Carlos Tavares tenciona investir em Portugal nos setores da hotelaria, automóvel, saúde, inteligência artificial e transporte aéreo, admitindo que tem “tido vários contactos nesse sentido, mais na área da indústria”, nomeadamente do calçado. Ainda assim, o gestor afirmou que “ainda é cedo para falar sobre isso”, porque só o deverá fazer dentro de meses. “Isso vai acontecer naturalmente”, garantiu.
Mas uma coisa é certa para Carlos Tavares: “Se eu tiver a possibilidade de investir, será no meu país prioritariamente“, não descurando, contudo, a hipótese de se aliar a capitais estrangeiros nesse desígnio. Até porque, Carlos Tavares é apologista de que “alguns modelos de negócios de investimento estrangeiro devem incluir capital nacional”, nem que seja com um peso de 10 a 20%.
“Vejo várias propostas em que se obviamente se está a investir em Portugal com um modelo de negócios estruturalmente negativo“, alertou, chamando a atenção para as consequências nefastas que daí podem advir caso assim não aconteça: não atrair capital português, reduzir as receitas fiscais, acabando por “sobrecarregar os outros atores económicos”, além de não fixar talento que o país tanto precisa e que emigra em busca de melhores condições de vida.
“Temos interesse em que os nossos jovens graduados fiquem cá com postos de chefia e salários de bom nível [assim como] haja lucro e receitas fiscais para financiar a educação, a saúde e a segurança”, sustentou Carlos Tavares.
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