Compras portuguesas aos EUA disparam 30,5% no primeiro trimestre. Vendas caíram, mas pouco

Peso dos EUA no total de exportações portuguesas caiu para 6,2% no primeiro trimestre. Venda de medicamentos e mobiliário disparou com antecipação de exportações antes das novas tarifas.

As exportações portuguesas de bens para os Estados Unidos caíram 1,8% no primeiro trimestre, face a igual período do ano passado, mas as importações subiram 30,5%, impulsionadas sobretudo pela evolução verificada em março, mês em que as tarifas de 25% sobre o aço e alumínio anunciadas por Donald Trump avançaram.

Os dados são do Instituto Nacional de Estatística (INE), disponibilizados ao ECO, e revelam ainda que nos primeiros três meses do ano as exportações totais portuguesas subiram 7,7% em termos homólogos e as importações 7%. No entanto, os números escondem detalhes sobre a relação comercial com os Estados Unidos, que parece já refletir o efeito das tarifas.

Nas compras aos EUA registou-se um crescimento de 30,5% entre janeiro e março, face ao mesmo período do ano anterior. O peso dos EUA no total de importações portuguesas nos primeiros três meses do ano passou de 1,8% para 2,2%.

A influenciar este desempenho esteve o aumento de 44.305,9% nas importações de cereais, produto que passou de representar 95,9 mil euros no primeiro trimestre de 2024 para 42,6 milhões de euros no primeiro trimestre deste ano. Ou seja, se no período de referência este bem não tinha peso no total de bens importados por Portugal dos EUA, agora pesa 7,2%.

Descontando os combustíveis e óleos minerais, que subiram 8,95% e representam 43,7% no total de bens importados dos EUA, as importações de máquinas e aparelhos subiram 253,2%, para 53,56 milhões de euros, com um peso de 9,1%, e as aeronaves e aparelhos especiais 951%, para 36,7 milhões de euros, com um peso de 6,2%.

Isolando o mês de março, destaca-se o aumento homólogo de 115,8% para 190,2 milhões de euros, ainda que tenha caído 28,9% em termos mensais.

Exportações de medicamentos e mobiliário dispararam

A venda de bens para os Estados Unidos fixou-se ligeiramente abaixo do verificado no primeiro trimestre de 2024, cifrando-se em 1.313 milhões de euros. O peso dos EUA no total de exportações portuguesas também se deteriorou passando de 6,8% no primeiro trimestre de 2024 para 6,2% nos primeiros três meses deste ano.

Entre os principais bens, destaca-se o crescimento de 32,1% no primeiro trimestre face a igual período do ano passado dos produtos farmacêuticos, que valeram 463,8 milhões de euros (quando descontando as transações com vista ou na sequência de trabalhos por encomenda o valor é menor: 399 milhões), com um peso de 35,3% no total de exportações para os EUA, e de 31,9% dos móveis e colchões, para 39,2 milhões de euros.

Estes crescimentos não foram contudo suficientes para contrariar a queda de 43,8% de combustíveis minerais e óleos minerais para 133,4 milhões de euros. Assinalam-se ainda as quedas de 19,6% das máquinas, aparelhos e materiais elétricos, de 19% dos reatores nucleares, caldeiras e máquinas, de 13% nas obras de ferro fundido, ferro ou aço e de 18,3% no ferro fundido, ferro e aço.

Isolando o mês de março, verifica-se que as exportações portuguesas para terras americanas recuaram 8,6% em termos homólogos, para 565 milhões de euros, mas subiram 34,8% em termos mensais.

 

Os primeiros meses do ano ficaram marcados pelo anúncio de tarifas do presidente norte-americano, Donald Trump. Primeiro, com taxas de 25% para o aço, o alumínio e os automóveis europeus e, mais tarde, de 20% em taxas recíprocas ao bloco do euro. Estas últimas estão atualmente suspensas até julho, período durante o qual decorrem negociações entre as partes.

Ainda assim, Bruxelas propôs na semana passada uma lista de bens industriais e agrícolas dos EUA para taxar, num valor de 95 mil milhões de euros, caso as negociações com os EUA não resultem, preparando-se também para apresentar uma queixa na Organização Mundial do Comércio (OMC).

De acordo com cálculos de Bruxelas, cerca de 70% das exportações do bloco comunitário para os Estados Unidos estão sujeitos às novas tarifas.

Entretanto, os Estados Unidos e a China acordaram fazer uma pausa de 90 dias na sua guerra tarifária e descer, de forma substancial, o volume de tarifas que se impõem reciprocamente. As tarifas chinesas sobre os produtos norte-americanos vão baixar de 125% para 10% nos próximos 90 dias, enquanto as dos EUA vão reduzir-se de 145% para 30%.

EPA/OLIVIER MATTHYSEPA/OLIVIER MATTHYS

O ministro das Finanças reiterou esta segunda-feira que a Comissão Europeia deve negociar com a Administração Trump para chegar a um entendimento sobre as tarifas. Joaquim Miranda Sarmento falava aos jornalistas à entrada para o Eurogrupo, em Bruxelas, quando foi questionado sobre se o entendimento entre os EUA e a China era um sinal de esperança também para o bloco comunitário.

É preciso negociar, sentar à mesa com a Administração americana. Há um processo negocial a decorrer. A Europa tem de olhar para os seus interesses, mas procurar chegar a um entendimento para que não haja aplicação de tarifas ou que sejam o mais mitigado possível“, disse.

Por seu lado, o presidente do Eurogrupo, Paschal Donohoe, considerou que o acordo entre Washington e Pequim “é bem-vindo”, mas admitiu incerteza no comércio global e um impacto económico das tarifas norte-americanas.

“Apesar de tudo, o nosso desempenho económico [da Zona Euro] continua a ser muito sólido. Neste momento, está atrasado em relação a outras partes do mundo, mas estamos na linha da frente de muitas das forças de incerteza e as nossas economias continuam a ter um desempenho forte”, disse Paschal Donohoe, citado pela Lusa.

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