Banco de Portugal alerta para riscos crescente à estabilidade financeira
Apesar do aumento dos riscos globais e da incerteza económica, o sistema bancário português mantém indicadores sólidos de rentabilidade, liquidez e capitalização, salienta o regulador.
Os riscos para a estabilidade financeira acentuaram-se nos últimos meses, refletindo a crescente imprevisibilidade das políticas económicas norte-americanas e as tensões geopolíticas, segundo o Relatório de Estabilidade Financeira de maio de 2025, publicado esta quarta-feira pelo Banco de Portugal.
O documento, no entanto, sublinha a resiliência do sistema bancário português, que continua com elevada rendibilidade, qualidade creditícia dos ativos, liquidez e capitalização. “Solidez do mercado financeiro a todos os níveis”, destaca Clara Raposo, vioce-governadora do Banco de Portugal na apresentação do relatório, sublinhando, contudo, que “um cenário mais adverso na materialização das condições adversas poderá originar uma deterioração da atividade dos bancos.”
No arranque da apresentação do relatório, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, destacou que “Portugal beneficia de ter um setor financeiro que se reestruturou, recuperou das crises financeiras e de dívida soberana”, apresentando “hoje índices de resiliência que quando são comparados com os seus congéneres europeus são muito auspiciosos”, notando por isso a importância de garantir essa continuidade.
O governador acrescentou ainda que “a palavra incerteza deve ser utilizada pelos governantes com muita parcimónia”, sublinhando que tanto o Banco de Portugal como o governador recorrem a esta expressão “poucas vezes e com contenção”, mas “neste momento é difícil não a usar atendendo aos maus exemplos de políticas económicas que temos vindo a observar globalmente.”
É nesse sentido que Mário Centeno salienta a importância de que “em momentos de maior incerteza devemos manter uma atuação mais previsível e não criar espaços que criem eles mais incerteza”, lembrando que “não devemos usar políticas economias para adensar ciclos económicos”, não deixando de se mostrar “otimista na forma como as economias corrigem as incertezas que se forem colocando.”
Riscos e vulnerabilidades
Segundo o relatório, “nos últimos meses, os riscos para a estabilidade financeira acentuaram-se, refletindo os desenvolvimentos adversos na atividade económica global associados a maior imprevisibilidade de políticas económicas dos EUA, que se junta a um contexto de elevada incerteza geopolítica”.
O documento alerta que “as tensões resultantes dos conflitos militares na Ucrânia e no Médio Oriente, a que acrescem as alterações na política externa dos EUA, sobretudo nos domínios geoestratégico e comercial, aumentam a probabilidade de disrupções nas cadeias de abastecimento e nos fluxos comerciais, com repercussões negativas no crescimento económico, na inflação e nos preços dos ativos.”
Apesar do contexto de incerteza, o sistema bancário português apresenta indicadores sólidos. O relatório salienta que “no final de 2024, o setor bancário caracterizava-se por elevada rendibilidade (1,4% do ativo), qualidade creditícia dos ativos, liquidez e capitalização (rácio CET1 de 18%), beneficiando do ajustamento significativo dos últimos anos.”
A diversificação geográfica da exposição à dívida soberana e o peso da componente a custo amortizado funcionam como fatores mitigantes de risco para o sistema bancário. Adicionalmente, conforme destacado pelo governador, dois bancos portugueses estão entre os melhores da Europa em termos de níveis de resolubilidade e um deles teve o melhor desempenho nos testes de stress realizados em 2023.
No que diz respeito à dívida pública, o relatório indica que “em 2024, o rácio da dívida pública nacional reduziu-se para 95% do PIB, face a 98% em 2023, apesar do aumento da dívida nominal.” As projeções do FMI preveem a continuação da redução do rácio da dívida em percentagem do PIB, colocando-o abaixo da média da área do euro em 2026. Contudo, Clara Raposo destaca a importância de, “para a estabilidade financeira do mercado em Portugal, é importante preservar a redução do rácio da divida publica”.
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