Ricardo Reis ou Vítor Gaspar: os prós e contras do (provável) próximo governador do Banco de Portugal

Com Mário Centeno em fim de mandato à frente o Banco de Portugal, Vítor Gaspar e Ricardo Reis estão na ‘pole position’ para ocupar o cargo de governador. Ambos têm reconhecimento internacional, mas…

Vítor Gaspar e Ricardo Reis
Ricardo Reis e Vítor Gaspar

Mário Centeno está na porta de saída do Banco de Portugal. Vítor Gaspar e Ricardo Reis parecem estar na ‘pole position’ para ocuparem o cargo de governador, decisão que o Governo deverá tomar nas próximas semanas – se quiser evitar que Centeno se mantenha para lá do fim de mandato, que termina em meados de julho.

Gaspar e Reis partilham de uma grande experiência a nível académica e gozam de bastante reconhecimento lá fora, mas também têm pontos fracos que podem minar qualquer hipótese de virem a ser o nome escolhido pelo ministro das Finanças.

“Mas são nomes que, pela grande qualidade intelectual, não terão qualquer contestação dentro do Banco de Portugal”, observa o professor da Nova SBE, António Nogueira Leite. “Têm um track record acima de qualquer um e até do próprio Mário Centeno, sendo que o governador do Banco de Portugal já é um quadro muito acima da média”, acrescenta.

O mandato de Mário Centeno — que teve uma relação tensa com o atual Executivo — no supervisor bancário termina no dia 19 de julho, mas o nome do sucessor ainda tem de ir a exame na Comissão de Orçamento e Finanças – embora não seja vinculativo, o Parlamento tem de dar o seu parecer — depois de ser designado pelo Governo em Conselho de Ministros.

Vítor Gaspar, diretor do departamento de Assuntos Fiscais do Fundo Monetário Internacional (FMI), durante a conferência de imprensa do Fiscal Monitor nas Reuniões da primavera de 2025 do FMI e do Banco Mundial, na sede do FMI em Washington, DC, EUA, a 23 de abril de 2025.EPA/WILL OLIVER

Vítor Gaspar: regresso a casa de um rosto da ‘troika’

Para Vítor Gaspar, seria um regresso a casa — liderou o Departamento de Estudos Económicos e Estatística. Mas o professor e economista, de 64 anos, ganhou notoriedade pública quando, em 2011, foi nomeado por Pedro Passos Coelho para ministro das Finanças com a grande responsabilidade de endireitar as contas públicas durante o período da assistência financeira internacional.

Rapidamente se tornou no braço direito de Passos Coelho e também num dos ministros menos populares do seu Executivo, responsável pelo “enorme aumento de impostos”, como chegou a admitir aquando do Orçamento do Estado de 2013. As medidas de austeridade que decidiu tornaram-no num dos rostos do período de ajustamento da ‘troika’, algo que ainda hoje não é difícil de não recordar e pode ser um ponto político a joga contra ele numa possível corrida para o banco central. “Politicamente é importante”, lembra uma fonte do setor financeiro ouvida pelo ECO.

Luís Aguiar-Conraria, presidente da escola de Economia da Universidade do Minho, contraria esta ideia: “Ter estado no governo poderia ser um contra, mas já foi há bastante tempo e manteve a sua carreira depois de sair do governo. Portanto, nada a dizer”, afirma.

Dois anos depois, acabaria por pedir a demissão do cargo de ministro, em julho de 2013, tendo sido substituído por Maria Luís Albuquerque, então secretária de Estado do Tesouro e atualmente comissária europeia.

Afastou-se de Lisboa e mudou-se para Washington, onde nos últimos 11 anos desempenhou o cargo de diretor do Departamento de Finanças Públicas do Fundo Monetário Internacional (FMI). “Deixará um legado de luta pela implementação de políticas sólidas”, referiu o FMI quando anunciou a sua saída em março passado.

No plano académico, conta com uma extensão investigação relacionada sobretudo com política monetária e contas públicas.

“É credível junto da opinião pública portuguesa, ter experiência internacional, e com uma imagem de contenção que coincide com a que se espera de um governador”, indica Aguiar-Conraria.

“Vítor Gaspar tem uma sólida carreira académica e grande experiência em instituições nacionais e internacionais”, resume Nogueira Leite.

Por outro lado, fonte da banca aponta-lhe a falta de conhecimento do setor – um ponto fraco que partilha com Ricardo Reis, ou seja, nesta dimensão estão em pé de igualdade. Certo é que os graves problemas que afetaram os bancos nos últimos 15 anos parecem ter ficado para trás e o setor está agora a consolidar um movimento de normalização, não se antecipando novo foco de crise.

Ricardo Reis, economista e professor na London School of Economics, em entrevista ao ECO - 20OUT23
Ricardo Reis, economista e professor na London School of Economics, em entrevista ao ECOHugo Amaral/ECO

Ricardo Reis: “autoridade mundial” sem experiência de gestão

Professor da London School of Economics (LSE), Ricardo Reis, 46 anos, é considerado um dos académicos mais conceituados de sempre de Portugal, segundo Nogueira Leite.

É uma autoridade mundial no que toca aos temas da política monetária e inflação. Tanto que é uma voz ouvida no seio dos bancos centrais, não só na Europa, mas também na Reserva Federal”, frisa o professor da Nova SBE.

“É dos maiores especialistas mundiais em política monetária e inflação. Os prémios internacionais que já recebeu são tão prestigiados que acima disso só o Prémio Nobel da Economia”, considera Aguiar-Conraria.

Doutorou-se em Harvard, deu aulas em Columbia e Princeton e é atualmente consultor académico do Banco de Inglaterra, do Banco Central da Suécia (Riksbank) e da Fed de Richmond (EUA) e ainda do Mecanismo Europeu de Estabilidade, de acordo com a sua biografia na LSE.

Aquilo que lhe sobra em currículo académico faltar-lhe-á provavelmente em gestão e experiência política — o que lhe pode colocar em desvantagem relativamente a Vítor Gaspar, outros podem ver como fator que lhe assegura a independência que se exige a um banqueiro central.

Ricardo Reis nunca desempenhou qualquer cargo executivo numa instituição ou organização em Portugal, ocupando sobretudo lugares consultivos, incluindo na agência de gestão da dívida pública (IGCP), na Fundação de Ciência e Tecnologia e na Business Roundtable Portugal.

Também perde pontos no que toca ao conhecimento do setor financeiro nacional. Mas nem por isso o professor da LSE deixa de ter uma visão crítica sobre os desafios que os bancos enfrentam, tal como demonstra a intervenção que teve na conferência do ECO há um mês.

“Tanto Ricardo Reis como Vítor Gaspar, não sendo grandes conhecedores do setor, saberão rodear-se de gente inteligente nesta matéria”, nota fonte da banca.

(Notícia atualizada às 10h02 com declarações de Luís Aguiar-Conraria)

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