Exclusivo Gestores oferecem 8,5 milhões para ficar com SLM e salvar 363 empregos em Oliveira de Azeméis

Plano desenhado pela equipa de gestão, que diz ter o apoio da Volkswagen, propõe MBO aos credores da Schmidt Light Metal, ligada ao pai de André Villas-Boas e insolvente com dívidas de 68,5 milhões.

Há uma ‘luz ao fundo do túnel’ para a recuperação da Schmidt Light Metal (SLM), histórica fabricante de componentes para a indústria automóvel sediada em Oliveira de Azeméis e que tem o grupo Volkswagen como principal cliente, que acumula dívidas de 68,5 milhões de euros e em março deste ano foi declarada insolvente pelo Tribunal de Aveiro.

O plano de insolvência apresentado pela equipa de gestão propõe aos credores a compra por 8,5 milhões de euros – livre de “quaisquer passivos”, além dos que decorrem da transmissão dos trabalhadores –, com o negócio a passar para uma nova sociedade detida pelo gerente Marc Schmidt, pela diretora financeira Daniela Alegria e pelo consultor Carlos Pais.

De acordo com o requerimento enviado ao tribunal, a que o ECO teve acesso, esta solução, que abrange igualmente as outras duas empresas do grupo (DMM – Desenvolvimento, Maquinagem e Montagem; e ATC – Autoconceptus), prevê a manutenção dos atuais 363 trabalhadores. A maioria dos empregos (224) está afeta à SLM, que detém também uma fábrica mais pequena na Áustria.

Com este Management Buy Out (MBO) acena com a “recuperação integral” nos créditos privilegiados e garantidos, obtendo os credores comuns uma taxa estimada de 6% dos seus créditos. Já no cenário de liquidação, advertem que “o produto da venda dos ativos da DMM e da ATC não será suficiente para fazer face aos respetivos créditos laborais” e também na SLM “não será suficiente para pagamento da integralidade dos créditos garantidos, pelo que a taxa de recuperação de todos os credores comuns das entidades do grupo será de 0%”.

Stand da SLM na edição de 2022 da Hannover Messe (Alemanha), a maior feira industrial do mundo, em que Portugal foi “país parceiro”

Fundada em 1989 e com instalações fabris situadas na zona industrial de Santiago de Riba-Ul, em Oliveira de Azeméis, tem como acionistas os herdeiros do fundador Ralf Schmidt, Marc Schmidt e Filipe Villas-Boas (pai do atual presidente do FC Porto, André Villas-Boas, que ali trabalhou nas férias, entre os 13 e os 15 anos, como “castigo” pelas más notas). Além da própria SLM, que detém quotas próprias e que em 2022 faturou 42,4 milhões de euros. Sem dívidas vencidas à Autoridade Tributária nem à Segurança Social, o passivo totaliza 68,5 milhões, com o Novobanco, o BCP e o BPI a encabeçarem a lista de credores.

A equipa liderada por Marc Schmidt garante que este plano tem o apoio dos trabalhadores e dos principais clientes, incluindo a Volkswagen, que têm “interesse em manter a sua colaboração” e “já manifestaram a sua confiança na nova gestão” – está em funções desde junho de 2023 e, com a ajuda da consultora PwC, tentou “sem sucesso” encontrar um investidor disponível para capitalizar o grupo. Diz ainda que esta proposta tem também a “concordância” da OBIDIL, proprietária e senhoria de dois dos pavilhões onde exerce atividade.

“Num cenário de liquidação, com o subsequente encerramento da atividade, [a Volkswagen] já informou a devedora de que deixará de efetuar novas encomendas e cessará relações comerciais, o que reduz substancialmente a possibilidade de venda do estabelecimento, sendo que, sem um acordo com o seu principal cliente, a SLM não será viável”, avisam. Notam ainda que a satisfação dos créditos dos credores que teriam algum montante a receber (privilegiados e garantidos) “seria bastante mais morosa, estimando-se cerca de 18 a 24 meses só para a conclusão do processo de venda dos ativos”.

Num cenário de liquidação, com o subsequente encerramento da atividade, [a Volkswagen] já informou a devedora de que deixará de efetuar novas encomendas e cessará relações comerciais, o que reduz substancialmente a possibilidade de venda do estabelecimento.

Plano de insolvência da SLM

Contactado pelo ECO, o administrador judicial Jorge Calvete recusou a prestar esclarecimentos. No final de março, quando a empresa foi declarada insolvente, o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores das Indústria Transformadoras, de Energia e de Atividades de Ambiente do Centro-Norte (SITE-CN) falou em dificuldades de “tesouraria corrente”, já que antigas dívidas a fornecedores “vão-se arrastando e acumulando juros”. Justino Pereira alegou à Lusa que o problema “não é falta de encomendas” e que “os trabalhadores nunca estiveram parados e até fizeram horas extras” nestes últimos dois anos.

Na proposta enviada ao tribunal, com data de 28 de maio, a gestão explica que o preço global de 8,5 milhões de euros e a respetiva divisão (6,5 milhões pela SLM, incluindo a filial austríaca; 1,2 milhões pela DMM; e 800 mil euros pela ATC) teve por base uma análise da situação patrimonial de cada uma das empresas e “corresponde ao montante máximo que a nova sociedade é capaz de pagar – estando em processo de obter financiamento para o efeito – e que, por conseguinte, é a contrapartida mais alta que poderá propor para a aquisição dos estabelecimentos comerciais” do grupo.

Neste mesmo documento, os gestores da SLM, que abandonou a agenda mobilizadora Hi-rEV – Recuperação do Setor de Componentes Automóveis, liderada pela Palbit no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), deixam também detalhes sobre a ordem e condições do plano de pagamentos:

  1. Dívidas da massa insolvente: serão integralmente pagas até ao montante de 250 mil euros, incluindo, nomeadamente, a remuneração do administrador de insolvência;
  2. Créditos privilegiados dos trabalhadores sob condição: assumindo a homologação deste plano, não será necessário realizar qualquer pagamento;
  3. Crédito do IAPMEI com privilégio mobiliário geral: será pago com prioridade relativamente aos créditos comuns, até ao montante de 391,5 mil euros;
  4. Crédito garantido da LC Asset 2 (cedido pelo BPI): será pago com prioridade sobre os créditos comuns, até ao montante de 2,5 milhões de euros, respeitando-se as hipotecas sobre os prédios urbanos que fazem do estabelecimento comercial;
  5. Créditos comuns: o montante remanescente disponível, no valor global de 3,35 milhões de euros, será distribuído proporcionalmente entre os credores comuns, em função do valor dos respetivos créditos reconhecidos.

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