Consumidores já não compram o medo da inflação e antecipam economia da Zona Euro menos negativa

As expectativas dos consumidores para a inflação nos próximos 12 meses e a 3 anos voltaram a cair. Já as expectativas de crescimento económico para os próximos 12 meses tornaram-se menos negativas.

As mais recentes conclusões do ECB Consumer Expectations Survey de maio revelam uma tendência de estabilização das perspetivas económicas na Zona Euro, com os consumidores a demonstrarem maior confiança no futuro próximo.

Os dados, publicados esta terça-feira pelo Banco Central Europeu (BCE), mostram que as expectativas de inflação para os próximos anos continuam a diminuir, aproximando-se da meta oficial de 2%, enquanto as perspetivas para o crescimento económico se tornam menos pessimistas entre os consumidores da área do euro.

O inquérito mensal, que teve como amostra cerca de 19 mil consumidores adultos de 11 países da Zona Euro, incluindo Portugal, oferece uma radiografia das perceções e expectativas das famílias europeias sobre temas centrais da economia.

As expectativas medianas para a inflação nos próximos 12 meses diminuíram 0,3 pontos percentuais para 2,8%, aproximando-se da meta de estabilidade de preços.

Segundo os dados do inquérito, “as perceções medianas dos consumidores sobre a inflação nos 12 meses anteriores mantiveram-se inalteradas, enquanto as expectativas medianas para a inflação a um e três anos diminuíram, e as expectativas de inflação mediana para cinco anos à frente mantiveram-se inalteradas“.

Os números revelam uma convergência gradual das expectativas de inflação em direção ao objetivo do BCE. Em maio, a taxa mediana de inflação percebida nos 12 meses anteriores manteve-se inalterada nos 3,1% pelo quarto mês consecutivo, representando o valor mais baixo desde setembro de 2021. Esta estabilização contrasta com os picos inflacionários que marcaram os últimos anos.

Mais significativo ainda é o comportamento das expectativas futuras. As expectativas medianas para a inflação nos próximos 12 meses diminuíram 0,3 pontos percentuais para 2,8%, aproximando-se da meta de estabilidade de preços. A tendência mantém-se para horizontes temporais mais longos: “as expectativas para três anos também diminuíram, em 0,1 pontos percentuais, para 2,4%, enquanto as expectativas para a inflação cinco anos à frente mantiveram-se inalteradas nos 2,1% pelo sexto mês consecutivo”, lê-se no comunicado do banco central.

Estes dados revelam que os consumidores começam a internalizar a trajetória descendente da inflação, reforçando a credibilidade da política monetária do BCE, com a incerteza sobre as expectativas de inflação para os próximos 12 meses diminuiu em maio, invertendo o aumento observado em abril.

O inquérito revela também alterações significativas na formação das expectativas inflacionárias. “Embora a evolução geral das perceções e expectativas de inflação tenha permanecido relativamente alinhada entre os grupos de rendimento, ao longo do último ano e meio as perceções de inflação e as expectativas de curto prazo para os quintis de rendimento mais baixos foram, em média, ligeiramente superiores às dos quintis de rendimento mais elevados“, refere o BCE em comunicado.

Esta disparidade reflete os diferentes perfis de consumo e a maior sensibilidade dos agregados familiares de menores recursos às variações de preços de bens essenciais. Por sua vez, os inquiridos mais jovens (18-34 anos) continuaram a reportar perceções e expectativas de inflação mais baixas do que os inquiridos mais velhos (35-54 e 55-70 anos), embora esta diferença seja menor do que em anos anteriores.

Economia cresce e desemprego recua

O cenário económico mais amplo também apresenta sinais de melhoria. As expectativas de crescimento económico para os próximos 12 meses tornaram-se menos negativas, situando-se em -1,1% em maio face aos -1,9% de abril. Embora ainda em terreno negativo, esta evolução sugere um abrandamento das preocupações recessivas, com as perspetivas a recuarem para valores registados em janeiro.

No mercado laboral, “as expectativas para a taxa de desemprego nos próximos 12 meses diminuíram para 10,4%, face aos 10,5% de abril”. Os dados revelam que os consumidores continuam a esperar que a taxa de desemprego futura seja apenas ligeiramente superior à taxa atual percebida (9,9%), “implicando um mercado de trabalho amplamente estável”.

No setor imobiliário, as perspetivas mantêm-se estáveis. Os consumidores esperavam que o preço da sua casa aumentasse 3,2% nos próximos 12 meses, valor inalterado face a abril. Contudo, persistem disparidades por nível de rendimento: os agregados do quintil de rendimento mais baixo continuam a esperar um crescimento superior dos preços da habitação comparativamente aos do quintil mais elevado (3,5% e 3,1%, respetivamente).

A convergência das expectativas inflacionárias em direção à meta de 2% do BCE, combinada com perspetivas menos pessimistas para o crescimento e o emprego, aponta para que os consumidores começam a antecipar um cenário de maior estabilidade macroeconómica.

Já no crédito habitação, observa-se uma tendência descendente. “As expectativas para as taxas de juro hipotecárias 12 meses à frente diminuíram para 4,4%, face aos 4,5% de abril”. Também aqui se verificam diferenças significativas: os agregados familiares de menores rendimentos esperam as taxas de juro hipotecárias mais elevadas (4,9%), enquanto os de maiores rendimentos antecipam as taxas mais baixas (4,1%).

Paralelamente, “a percentagem líquida de agregados familiares que reportaram um aperto (relativamente aos que reportaram um alívio) no acesso ao crédito nos 12 meses anteriores diminuiu”, tendência que se mantém para as expectativas futuras.

No horizonte dos rendimentos familiares, observa-se uma ligeira melhoria, com os dados a mostrarem que “as expectativas de crescimento do rendimento nominal dos consumidores para os próximos 12 meses aumentaram para 1%, face aos 0,9% de abril”. Este aumento foi transversal a todos os grupos de rendimento, sugerindo uma perceção generalizada de melhoria das condições económicas.

Contudo, as intenções de consumo seguem na direção oposta. “O crescimento esperado do gasto nominal para os próximos 12 meses diminuiu para 3,5% em maio, face aos 3,7% de abril”. Esta diminuição foi prevalecente em todos os quintis de rendimento, exceto no grupo de rendimento mais baixo, possivelmente refletindo uma atitude mais cautelosa face ao futuro ou uma maior propensão para a poupança.

Os dados do ECB Consumer Expectations Survey de maio desenham um retrato de crescente estabilização das expectativas económicas na Zona Euro. A convergência das expectativas inflacionárias em direção à meta de 2% do BCE, combinada com perspetivas menos pessimistas para o crescimento e o emprego, aponta para que os consumidores começam a antecipar um cenário de maior estabilidade macroeconómica.

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