“Aumentos de tensão em cascata.” Peritos apontam causa inédita para o apagão
"Uma série em cascata de desconexões de geração e os aumentos de tensão como o motivo mais provável do apagão", indica o regulador português, com base nas conclusões dos peritos europeus.
O grupo de peritos da Rede Europeia de Operadores de Redes de Transporte de Eletricidade (ENTSO-E) aponta “uma série em cascata de desconexões de geração e os aumentos de tensão como o motivo mais provável do apagão”, explica a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) em Portugal. Um motivo para este tipo de evento, até agora, sem paralelo a nível europeu.
“Tais aumentos de tensão em cascata nunca foram anteriormente associados a um apagão em qualquer parte do sistema elétrico europeu. Se confirmado, exigirá uma análise e investigação aprofundadas por parte de todos os especialistas em sistemas elétricos da ENTSO-E”, lê-se no documento partilhado pelo regulador português, esta segunda-feira, e que incide sobre as conclusões da última reunião dos peritos.
Na cronologia dos eventos de 28 de abril, registam-se três eventos que antecederam ao colapso e que foram determinantes para o mesmo. Às 12:32:57, foram observados disparos de produção nas regiões de Granada, Badajoz e Sevilha, totalizando uma estimativa inicial de 2.200 megawatts (MW), “devido ao disparo de um transformador de geração”, na sequência de um problema no lado de menor tensão, na região de Granada. Às 12:33:16, desligaram-se instalações fotovoltaicas e termosolares conectadas a duas subestações de transporte na área de Badajoz, tendo interrompido a injeção de cerca de 720 MW (megawatts).
O terceiro evento pelas 12:33:17, incluiu a desligação de diversos geradores em diferentes áreas, em menos de um segundo: parques eólicos em Segóvia e Huelva, fotovoltaicos em Badajoz, Sevilha, Cáceres e Huelva e termo-solares em Badajoz, assim como outros geradores em diferentes locais, num total de mais de 1100 MW. “As causas desses três eventos ainda estão sob investigação“, remata o relatório.
Entre o 12:33:18 e 12:33:21, “a tensão na região sul de Espanha aumentou drasticamente e, consequentemente, também em Portugal”. A sobretensão desencadeou perdas de produção em cascata, o que levou a uma queda da frequência em ambos os lados da fronteira. Foi precisamente às 12:33:19 que os sistemas de energia de Espanha e de Portugal começaram a perder sincronia com o Sistema Europeu, pelo que foram ativados os Planos de Deslastre Automático e de Defesa do Sistema de Espanha e Portugal, mas estes “não conseguiram evitar o colapso do sistema elétrico ibérico“.
Tendo em conta estas conclusões, a ENTSO-E considera necessário atuar em duas frentes, de forma a prevenir futuros incidentes com este mesmo fundamento. Por um lado, sugere “melhorar os procedimentos e capacidades de gestão do controlo da tensão de todos os intervenientes ativos do sistema elétrico”; por outro, pretende “avaliar como os planos de defesa do sistema podem proteger melhor o sistema elétrico europeu contra este novo tipo de fenómeno”.
Na primeira fase da investigação, o Painel de Peritos recolhe e analisa todos os dados disponíveis sobre o incidente, para reconstruir os eventos de 28 de abril e determinar as causas do apagão. No final desta primeira fase, o Painel de Peritos entregará um primeiro relatório factual, para apresentar os factos e dados sobre o incidente. Embora o prazo legal para produzir este relatório seja 28 de outubro de 2025, seis meses após o incidente, o Painel de Peritos pretende entregá-lo antes. A próxima reunião terá lugar a 18 de agosto.
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