Gestor do Alqueva defende diferentes preços da água consoante a cultura

O presidente e CEO da EDIA, José Salema, defende também que deve existir uma reflexão sobre eventuais limites às culturas permanentes, como o amendoal e o olival, no Alentejo.

José Pedro Salema, presidente e CEO da EDIA – Empresa de Desenvolvimento e Infra-Estruturas do Alqueva, considera que “objetivamente, há a capacidade para suportar um preço na água ligeiramente mais alto”.Hugo Amaral/ECO

No coração do Alentejo, a discussão sobre o preço da água ganha nova força, num momento em que as pressões sobre os custos das culturas agrícolas desafiam gestores, agricultores e decisores políticos.

A EDIA – Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva, responsável pela gestão do Alqueva, há muito que defende a necessidade de atualizar os tarifários de água — imutáveis desde 2017, e cuja decisão cabe ao Governo. Em declarações ao ECO/Capital Verde, José Pedro Salema, presidenta e CEO da EDIA, defende ainda que qualquer subida de preços deverá atender à especificidade das culturas e à sustentabilidade do setor agrícola regional.

“Há algumas culturas em que o preço pode ser um problema muito grande”, reconhece o gestor, alertando por isso para o impacto diferenciado que o aumento dos preços pode ter sobre os agricultores. Enquanto para algumas culturas, como o milho — altamente exigente em água e fortemente pressionado pelos preços internacionais –, uma atualização de preço pode ser a diferença entre lucro e prejuízo, outras culturas, como a vinha, o olival ou a amêndoa, mostram-se consideravelmente mais resilientes.

“Uma pequena subida do preço pode matar por completo a margem de uma cultura como o milho”, diz. O mesmo não se passa nas culturas permanentes. Segundo José Pedro Salema, a vinha “gasta muito pouco” no que diz respeito à água. O olival exige um consumo ligeiramente mais alto, mas “ainda pouco” e “tem margens interessantes. Nos últimos anos, margens interessantíssimas”, refere.

“Um caminho interessante seria fazer dois preços”, defende José Pedro Salema, presidente e CEO da EDIA, apontado para um preço mais baixo para as culturas anuais e um preço “geralmente mais alto” para as culturas permanentes.

O responsável da EDIA reconhece que, apesar do descrito, o expectável é que exista alguma resistência por parte dos agricultores a estes aumentos. “Mas, objetivamente, há a capacidade para suportar um preço na água ligeiramente mais alto”, acredita.

Neste sentido, entende que deve ser proposto ao Governo uma diferenciação de preços, perante o dado de que a subida seria incomportável para algumas culturas. “Um caminho interessante seria fazer dois preços”, defende. Um preço mais baixo para as culturas anuais e um preço “geralmente mais alto” para as culturas permanentes. Isto, também à luz do plano recentemente apresentado pelo Governo, que pretende promover a produção de cereais no país. “Se subirmos os preços para todos, se calhar não temos cereais”, avisa.

De momento, as culturas permanentes ocupam 75% da área abastecida pela EDIA, embora cite especialistas que referem pelo menos um terço de culturas anuais como um número “interessante”. Confrontado com a questão de se esta distribuição responde ao melhor interesse do país, José Pedro Salema observa que é a governação que tem de perceber se Portugal se está a concentrar demasiado num determinado setor, “e fazer alguma correção de mercado se necessário”.

“Uma discussão que deve ser tida é se devemos apostar tudo em culturas permanentes, se não devemos fazer um limite”, sugere, ao mesmo tempo que alerta para os riscos: “num evento extremo de escassez, uma cultura permanente que não tem água é um investimento muito grande porque morre. Uma cultura anual não se faz”. Neste sentido, aponta que uma aposta alargada nas culturas permanentes expõe “muito” o país a um evento de seca prolongada.

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