Governo afasta aumento do preço da água no Alqueva
Tanto o Governo como os agricultores se mostram avessos à posição do gestor da empresa responsável por distribuir a água de Alqueva, que considera importante atualizar os preços.
O presidente e CEO da EDIA, José Salema, defende que os preços da água que é vendida por esta empresa aos agricultores deveriam aumentar, refletindo o aumento de custos com energia. Um desequilíbrio que tem ditado prejuízos no balanço e injeções de capital por parte do Estado, já que a EDIA é pública. Contudo, o Governo garante que esse aumento não está em cima da mesa. Uma subida que os agricultores também rejeitam.
“O Governo não está a ponderar um aumento do preço da água no Alqueva“, assegura o Ministério da Agricultura, em resposta ao ECO/Capital Verde.
A mesma oposição é partilhada pelos agricultores que “seguramente que não devem pagar a fatura do défice de exploração da EDIA, especialmente com aumentos do preço da água“, nas palavras do secretário-geral da Confederação de Agricultores de Portugal (CAP), Luís Mira.
[Os agricultores] “seguramente que não devem pagar a fatura do défice de exploração da EDIA, especialmente com aumentos do preço da água.
O representante da CAP sublinha que “pode haver um défice de exploração para a EDIA, mas não há um défice financeiro para o Estado“, na medida em que “as receitas fiscais geradas pela atividade do Alqueva, com particular destaque para a atividade agrícola, são largamente superiores”, como indicou o estudo apresentado pela própria EDIA, encomendado à EY e apresentado no início do ano.
Luís Mira considera que a EDIA “está a ser bem gerida” e que, havendo receitas da concessão que entram diretamente nos cofres do Ministério das Finanças, “o que deve acontecer é uma transferência do Orçamento de Estado para a EDIA” para compensar o défice de exploração.
Por seu lado, a Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP) considera que “a água em Alqueva não é barata” e que “um eventual aumento do preço da água não se justifica“. Contudo, a existir, “deve ser tecnicamente fundamentado, economicamente viável e, acima de tudo, socialmente equilibrado”, acrescenta.
A água em Alqueva não é barata. (…) um eventual aumento do preço da água não se justifica.
O impacto de um aumeto do preço da água, segundo a AJAP, depende do negócio em causa. Para aqueles que detêm áreas consideráveis, “o preço da água pode não ser tão expressivo em determinadas contas de cultura”. Enquanto para outros, “o preço da água tem um papel fundamental na escolha da cultura a instalar e dos gastos da mesma”.
A mesma associação frisa ainda que a rentabilidade das explorações produtoras de culturas anuais (milho, tomate, hortícolas e forragens) “seria posta em causa”. E calcula que nestes casos, seguindo a posição do gestor da EDIA, a água passaria a representar um encargo de 20% a 35% do custo direto da produção por hectare.
Um aumento que “será mais facilmente suportável” para os grandes grupos de empresas investidoras no olival em sebe e amendoal. Em declarações posteriores à publicação desta notícia, o diretor-geral da AJAP, Firmino Cordeiro, reforçou a posição de que um aumento do preço da água não só “não se justifica”, tal como a associação defendeu em reação à entrevista a Salema, como “a AJAP é totalmente contra qualquer tipo de aumento do preço, seja qual for a cultura“.
Por seu lado, reconhecendo diferenças entre o tipo de plantações, José Salema sugere um aumento de preços diferenciado, consoante o tipo de cultura.
A AJAP acrescenta ainda que, nos últimos anos, os agricultores têm vivenciado uma “elevada incerteza” dado o aumento do preço dos fertilizantes e fitofármacos, a instabilidade nos preços de venda das suas produções, e ainda fenómenos climáticos irregulares que “complicam” a atividade, pelo que um aumento no fator de produção água seria “caótico”.
(Notícia alterada às 13:57 retirando a menção de que a posição da AJAP “vai de encontro” à de José Salema no que diz respeito à diferenciação de preços. E atualizada às 16:55 com declarações complementares do diretor-geral da AJAP)
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