Powell desafia Trump com quinta pausa nos juros, mas resistência deve acabar em setembro

A Reserva Federal vai manter as taxas de juro inalteradas de novo, mas a pausa deve acabar em setembro, até porque dois nomeados de Trump no banco central já estão a fazer pressão interna a Powell.

Devidamente equipados de capacetes, os adversários Donald Trump e Jerome Powell trocaram farpas e sorrisos amarelos durante a inesperada (e inédita) visita do presidente americano às obras de remodelação da sede da Reserva Federal (Fed) na passada quinta-feira. Trump criticou os custos da empreitada, Powell defendeu-se como pôde. Pela enésima vez, o republicano pediu ao chair do banco central para baixar as taxas de juro, desta vez até com uma palmada nas costas, mas não deverá ver satisfeito o desejo, pelo menos para já, na reunião de política monetária desta quarta-feira.

Analistas e investidores indicam que a Fed vai manter inalteradas as Federal Funds Rates no intervalo 4,25-4,50% no final da reunião de dois dias do FOMC (Federal Open Market Commission, comité de política monetária).

Michael Krautzberger, diretor de investimento (CIO) global de mercados públicos na Allianz Global Investors (AllianzGI), recordou que será a quinta reunião seguida em que a Fed não mexe no custo do dólar.

“O cenário de crescimento e inflação apoiam esta abordagem mais cautelosa por parte da Fed“, referiu, adiantando que desde a última reunião em junho, a procura dos consumidores tem continuado a perder força, à medida que as pressões inflacionistas induzidas pelas tarifas mostram sinais de estar a aumentar. “Porém, as condições financeiras mais favoráveis têm ajudado a aliviar alguns riscos de crescimento”.

“Acreditamos que a Fed pode dar-se ao luxo de esperar para ver como evolui o impacto das tarifas na atividade económica e na inflação em julho”, vincou.

Numa sondagem da Reuters publicada esta segunda-feira, 105 economistas foram unânimes quando questionados sobre a decisão da Fed esta quarta-feira. Michael Krautzberger sublinhou que os mercados parecem estar alinhados com as baixas expectativas de um corte.

Segundo o site CME FedWatch Tool, que monitoriza a negociação dos futuros das taxas de juro, esta quarta-feira a probabilidade de a Fed manter as Federal Funds Rates no intervalo atual de 4,25-4,50% era de 97,4%.

Para Philip Marey, senior US strategist no neerlandês Rabobank, a maioria do FOMC não tem pressa em reduzir as taxas e aguarda mais clareza sobre a política governamental e o seu impacto na economia. O impacto estagflacionário das tarifas provavelmente puxará a Fed em duas direções opostas, sublinha.

“O impacto ascendente das tarifas sobre o desemprego exigiria reduções nas taxas para apoiar a atividade económica. Em contrapartida, a recuperação projetada da inflação poderia exigir aumentos nas taxas para desacelerar a procura agregada e controlar a inflação”, referiu.

“Em suma, pensamos que a Fed será, portanto, lenta e modesta nas suas reações e, por enquanto, continuamos a esperar apenas um corte nas taxas na segunda metade do ano, provavelmente em setembro”, adiantou Marey.

Em relação à probabilidade de uma descida no custo do dólar na reunião de 16 e 17 de dezembro, 53% dos economistas sondados pela Reuters apontam para um corte de 25 pontos base para 4,00%-4,25%. Nos mercados, o CME FedWatch Tool aponta para uma probabilidade de 62,8% dessa descida.

Pressão interna no comité

Na visita ao estaleiro da Fed, Trump disse que não pretende despedir Powell por causa da derrapagem no custo das obras. O republicano tem ameaçado exonerar o presidente da Fed por causa da demora em descer as taxas de juro, mas por impedimento legal ou por receio da reação nos mercados não avançou.

Isso não quer dizer, contudo, que a pressão sobre Powell esteja a diminuir. Antes pelo contrário: começa a ser interna, com dois membros do FOMC nomeados por Trump – Chris Waller e Michelle Bowman – a apoiarem um corte das taxas de juro já esta quarta-feira.

“A preferência de Waller e Bowman por reduzir as taxas em julho é um sinal preocupante”, afirmou Philip Marey, do Rabobank, “pois sugere que Trump já ganhou espaço no FOMC”.

“Isso significa que agora esperamos mais cortes nas taxas em 2026 do que havíamos previsto anteriormente, quando assumimos que o FOMC seria capaz de manter a política monetária livre da influência de Trump”, adiantou, notando contudo que o Rabobank não espera que a Fed perca totalmente a sua independência,

A questão da independência do banco central foi também abordada na sondagem da Reuters, com 36 de 50 economistas, ou seja mais de 70%, a mostrarem preocupação sobre o assunto, incluindo 10 disse que disseram estar muito preocupados.

A decisão do FOMC é comunicada às 19h00 (de Lisboa), seguindo-se a conferência de imprensa de Jerome Powell às 19h30.

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