Cinco respostas sobre a XE, a nova versão híbrida da Ómicron

Chama-se XE, resulta de uma junção das linhagens B.A.1 e B.A.2 da Ómicron e foi detetada pela primeira vez no Reino Unido. O ECO preparou um guia com cinco respostas sobre esta recombinante.

Há uma nova sublinhagem da variante Ómicron a centrar as atenções internacionais. Chama-se XE, resulta de um evento recombinante que mistura as linhagens B.A.1 e B.A.2 da Ómicron e foi detetada pela primeira vez no Reino Unido, embora tenho sido já identificados casos esporádicos noutros países.

Para já, ainda há pouca informação sobre esta recombinante. Não obstante, a Organização Mundial da Saúde estima que esta estirpe poderá ser 10% mais transmissível do que a linhagem BA.2 da Ómicron. Mas afinal, o que se sabe e o que falta saber sobre a XE? O ECO preparou um guia com cinco perguntas e respostas.

1. Que recombinante é esta e onde surgiu?

Existem muitas variantes a provocar casos de Covid-19. No entanto, as autoridades de saúde concentram as suas atenções naquelas que têm mutações que, aparentemente, tornem o coronavírus mais contagioso, ou que sejam comprovadamente mais perigosas. Neste momento, o Centro de Europeu para o Controlo de Doenças (ECDC na sigla em inglês) classificou três variantes como “variantes de preocupação” (na qual se incluem as linhagens B.A.1 e B.A.2 da Ómicron e a variante Delta) e outras duas como “variantes de interesse”.

Contudo, há uma nova variante, que, apesar de ainda não estar em nenhuma destas categorias, está a centrar as atenções da comunidade científica internacional. Em causa está uma nova subvariante da Ómicron, que foi detetada pela primeira vez no Reino Unido. Chama-se “XE” e consiste numa junção da linhagem da variante original da Ómicron (B.A.1) que surgiu no final de novembro de 2021, e da linhagem B.A.2 também da Ómicron, que se mostrou ser mais transmissível face à original e à variante Delta e é já dominante em todo o mundo.

Os últimos dados da Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido, indicam, que, desde 19 de janeiro deste ano e até ao início de abril, já tinham sido identificados 1.125 casos de pacientes infetados com a XE, segundo a CNBC. Além do Reino Unido, onde está a ganhar terreno, a recombinante XE foi já detetada noutros países como Tailândia, Índia, Israel ou Japão. Mais recentemente, na semana passada foi também detetado um caso associado a esta variante na Austrália, noticiou o The Guardian.

Quanto a Portugal, o último relatório do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) assinala “que os poucos vírus recombinantes identificados até à data foram detetados em casos esporádicos”. Contudo, a entidade liderada por Fernando Almeida não faz, para já, qualquer referência a casos associados à recombinante XE.

2. Como é que acontece esta recombinação?

A circulação de várias linhagens ou variantes do vírus ao mesmo tempo na comunidade aumenta a possibilidade da ocorrência de infeções mistas, ou seja, quando uma pessoa fica infetada simultaneamente por mais do que uma delas. Isso pode levar a uma mistura do material genético entre essas linhagens, resultando num perfil genético misto designado de “recombinante”. Nesse contexto, a OMS já identificou vários SARS-CoV-2 recombinantes, entre os quais os resultantes das variantes Ómicron com a Delta e das linhagens BA.1 com a BA.2.

Este tipo de eventos de recombinação acontece quando duas linhagens do vírus se encontram num mesmo hospedeiro e vão cruzar-se entre si, como se houvesse uma troca de material genético entre as duas linhagens e cria-se uma sublinhagem mista que é uma combinação das outras duas“, explica Miguel Prudêncio, em declarações ao ECO. No caso da recombinante XE, “estamos a falar sempre da mesma variante, da variante Ómicron, mas que poderíamos designar por sublinhagens diferentes de uma mesma variante”, acrescenta o investigador do do Instituto de Medicina Molecular (iMM).

3. Há razões para nos preocuparmos com esta nova variante?

Os especialistas apontam que o surgimento de recombinantes não é um processo incomum, tendo acontecido várias vezes durante a pandemia. Porém, avisam que é ainda demasiado prematuro para tirar conclusões relativamente a esta nova recombinante, bem como sobre a sua eventual capacidade para escapar à imunidade conferida pelas vacinas contra a Covid.

Os dados preliminares da Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido apontam que esta recombinante poderá ser 9,8% mais transmissível do que a Ómicron, ao passo que a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta para um taxa de transmissibilidade cerca de 10% superior. Importa sublinhar, no entanto, que estes dados precisam de confirmação.

Para já, os especialistas acreditam que poderá não haver razões para alarme, dado que existem relativamente poucos casos associados a esta subvariante desde que foi detetada pela primeira vez no final do ano passado. “A Ómicron foi identificada pela primeira vez em novembro [de 2021] e, em quatro semanas, estava em todo o mundo. Portanto, não é uma nova variante tão dominante quanto a Ómicron”, sinaliza Andrew Badley, professor de doenças infecciosas da Clínica Mayo, nos EUA, em declarações ao The Times.

4. O que falta saber sobre a XE?

Ainda não há informações suficientes para dizer, com certeza, se a recombinante XE se espalhará mais rapidamente ou causará doenças mais graves do que outras variantes do SARS-CoV-2. Não obstante, e através do que já foi estudado sobre as linhagens B.A.1 e B.A.2, já se podem seguir algumas pistas.

“Aquilo que realmente importa é que o comportamento desta linhagem XE, nomeadamente em relação às vacinas, é muito idêntico ao da Ómicron original”, sinaliza o investigador Miguel Prudêncio, ao ECO, notando que a resposta imunitária criada por cada indivíduo pode-se dividir em duas partes: os anticorpos, que são sobretudo importantes para bloquear a infeção e, por outro lado, as células T cuja função principal é a de eliminar as células infetadas, ou seja, impedir o vírus de se propagar e de conduzir a formas graves da doença.

Assim, e partindo do conhecimento atual, “sabemos que a capacidade de neutralização dos anticorpos para a Ómicron é inferior ao de outras variantes, por isso, é que, em termos de proteção contra a infeção, as vacinas impedem menos a infeção pela Ómicron”, sublinha o investigador, acrescentando, no entanto, que “no que diz respeito à proteção contra as formas mais graves da doença ela mantém-se em níveis muito elevados com a Ómicron” pelo que estes elementos deverão continuar a ser reconhecidos na sublinhagem XE.

Nesse contexto, e apesar de ainda não haver 100% de certezas, Miguel Prudêncio considera que, mesmo que esta sublinhagem mista se revele efetivamente mais transmissível, “não há razão para alarme”, dado que não se trata de uma variante completamente desconhecida. “À partida, as características não foram alteradas significativamente”, sinaliza ao ECO.

5. Qual é o impacto do surgimento de recombinantes do Sars-CoV-2 na evolução da pandemia?

Miguel Prudêncio diz que ainda não há dados suficientes para prever com exatidão como se vai comportar uma nova variante, seja através de uma estirpe completamente desconhecida ou de recombinações de variantes já conhecidas. Contudo, o investigador sublinha que, no que toca especificamente a eventuais novas recombinações, estas são por definição “recombinações de elementos que estão presentes naquilo que é a variante que está a recombinar”, pelo que os “elementos base” deverão à partida ser os mesmos.

Nesse sentido, o investigador não antecipa que possa surgir uma recombinação com características de tal forma diferentes que possam provocar um agravamento da pandemia. “Não temos dados que nos apontem para que daqui possa acontecer uma alteração de tal forma significativa que estes elementos deixam de ser o que são e passam a ser outra coisa qualquer. E aí já não estaríamos a falar de uma recombinação, mas de uma nova variante”, conclui.

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