Venda de livros em Portugal está 8% acima do nível pré-pandemia

No Dia Mundial do Livro, o ECO faz um balanço do mercado no pós-pandemia. Este ano, o mercado livreiro já cresceu 8% face a 2019. APEL reivindica medidas de incentivo à leitura e compra de livros.

O mercado livreiro português teve este ano um crescimento de 8%, até 10 de abril, em relação a igual período de 2019, o ano anterior à pandemia de Covid-19, que veio depois afetar a venda de livros por todo o país. Os dados foram adiantados ao ECO pelo presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), Pedro Sobral, mostrando que este mercado está, aos poucos, a acompanhar a recuperação de outros setores da economia. Ainda assim, reivindica que “são precisas políticas públicas que incentivem a leitura e a compra de livros, como uma maior redução no IVA aplicado ao livro, de forma a que o preço não seja uma barreira”.

No Dia Mundial do Livro e principalmente quando “o mercado português vive de baixos índices de leitura e literacia” muito aquém dos outros países europeus, segundo o presidente da APEL, o ECO faz um balanço do mercado no pós-pandemia. Apoiado em dados recolhidos até 10 de abril deste ano, Pedro Sobral divulga que “o mercado está a crescer, em valor, 42% à semana 14”, quando comparado com igual período de 2021. Só que, feitas as contas, é preciso ter em consideração, advertiu o também responsável pelo grupo Leya, que “no ano passado o mercado esteve totalmente fechado dez semanas e parcialmente outros dois meses“. Mas se compararmos o corrente ano “com as primeiras 14 semanas de 2019, o mercado cresce 8%”, revelou.

São precisas políticas públicas que incentivem a leitura e a compra de livros, como uma maior redução no IVA aplicado ao livro, de forma a que o preço não seja uma barreira.

Pedro Sobral

Presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros

Em jeito de balanço, Pedro Sobral adiantou ainda que “no primeiro ano de confinamento, ou seja 2020, o mercado perdeu 17% em valor, o que é uma perda enorme e repentina para um setor, já de si frágil, e muito dependente dos índices de consumo privado”. Só que 2021 revelou-se um ano de retorno com melhores índices de vendas. “Apesar do confinamento duro com o fecho total do mercado durante 10 semanas e parcial por dois meses assim como as restrições durante a época de Natal, 2021 acabou por recuperar os 17% que tinha perdido em 2020”. O que acaba por ser uma lufada de ar fresco no setor, tendo em conta o impacto que a pandemia teve na venda dos livros. “Acabou por anular a perda sofrida no primeiro ano da pandemia”, afirmou.

Sem adiantar, contudo, valores de faturação do mercado livreiro no país, o presidente da APEL avançou que “depois dos dois confinamentos e fruto do disparo do índice de consumo privado, as vendas subiram após o segundo período de confinamento”. Pedro Sobral apontou, contudo, “o facto de, em 2021, ainda existirem muitas restrições às viagens e ao usufruto do espaço público e também a necessidade de algum escapismo que muita gente sentiu”.

De acordo com dados recolhidos pela GfK Portugal, a que o ECO teve acesso, o ano de 2021 mostrou-se otimista para o mercado dos livros. A venda de livros em Portugal cresceu 16,6% em 2021 face a 2020, “mas ainda aquém dos valores pré-pandemia”, ou seja, o ano de 2019. De acordo com o mesmo estudo, “o preço médio dos livros também sofreu um ligeiro aumento, durante 2021, correspondente a mais 1,2%, sendo atualmente equivalente a 13,34 euros”. O que, segundo a empresa de estudos de mercado, demonstra que “a evolução positiva das vendas foi acompanhada de um aumento moderado dos preços médios”.

Refira-se que esta análise da GfK é baseada em dados de vendas de livros físicos, durante 2021, na Alemanha, Bélgica, Brasil, Espanha, França, Holanda, Itália, Portugal e Suíça.

Em grande parte dos países analisados neste estudo, incluindo Portugal, as categorias de livros que demonstraram uma variação fora de série no crescimento das vendas globais foram a bandas desenhadas e as “Mangas” que registaram um maior nível de evolução, ou seja, mais 72,7% e cerca de 100%, respetivamente. A GfK Portugal constatou ainda uma tendência no consumo de livros infantojuvenis com um crescimento médio acima dos níveis do mercado dos livros no geral (mais 21%). Também as obras de YouTubers alcançaram grande popularidade em 2021, principalmente junto dos mais jovens.

As feiras do livro de Lisboa de 2020 e de 2021 resultaram muito bem, tendo apresentado resultados muito acima das expectativas, nomeadamente a de 2021.

Pedro Sobral

Presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros

Voltando ao mercado português, as feiras do livro trouxeram uma lufada de ar fresco ao setor.As feiras do livro, nomeadamente a de Lisboa, são muito importantes, porque permitem o contacto dos autores com os seus leitores e a venda de livros que já não estão muitas vezes disponíveis nas livrarias”, referiu o presidente da APEL, considerando que, nestes dois últimos anos, estes eventos superaram as expectativas. “As feiras do livro de Lisboa de 2020 e de 2021 resultaram muito bem, tendo apresentado resultados muito acima das expectativas, nomeadamente a de 2021 que viu muita gente nova pelo Parque Eduardo VII, o que obviamente dá alento aos editores”, afirmou.

Ainda assim, lamentou, “o mercado português vive de baixos índices de leitura e literacia” e fica muito aquém dos outros países, sendo os hábitos de leitura dos portugueses desanimadores. “De acordo com um estudo para a Gulbenkian pelo Instituto de Ciências Sociais (ICS), 61% dos portugueses não leram um livro em 2020”, aponta Pedro Sobral. O que representa quase o dobro dos dados recolhidos em Espanha com 32% dos espanhóis a não o fazerem também. “Já 60% dos suecos leem ou ouvem sete livros por ano”, divulgou o presidente da APEL, alertando para o facto de “estarmos muito longe das médias europeias e na cauda da Europa. Urge mudar isto, porque Portugal tem de ter por base índices de leitura bem diferentes do que tem agora para ser um país desenvolvido”.

Uma das medidas passa, por isso, defendeu, pela implementação de “políticas públicas que incentivem a leitura e a compra de livros”. Entre elas estão, enumerou, “cheques ou vouchers de livros que permitam às famílias portuguesas comprar e ler” assim como “uma redução maior no IVA aplicado ao livro de forma a que o preço não seja uma barreira” à aquisição do mesmo.

Livraria Lello duplica venda de livros

Um exemplo da maior procura de livros foi o registo do dobro de vendas durante a semana antes e depois da Páscoa deste ano pela famosa Livraria Lello, no Porto, em relação a igual período de 2021, segundo avançou ao ECO Andreia Ferreira, da direção deste espaço cultural, garantindo que “este foi um pós-pandemia extraordinário em termos de vendas de livros, sobretudo os clássicos da literatura e os de ficção, as obras mais procuradas pelos consumidores.

“Já se vinha a notar, desde o início deste ano, uma melhoria significativa nas vendas por causa do aumento de turistas na cidade”, justificou a mesma responsável do grupo nortenho, sem, contudo, apresentar valores ao nível de faturação.

Entretanto, um pouco por todo o país várias autarquias quiseram assinalar o Dia Mundial do Livro. É o caso de Barcelos, em que a Câmara agora liderada por Mário Constantino (eleito pelo PSD) ofereceu um voucher de 150 euros às bibliotecas escolares para a aquisição de obras assim como um marcador de livros a todos os alunos dos 1º e 2º ciclos do Ensino Básico.

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