Ucrânia pede a Portugal para reabrir embaixada em Kiev
Embaixadora da Ucrânia em Lisboa defende reabertura da representação portuguesa na capital ucraniana e insiste no pedido a António Costa para apoiar na "perspetiva europeia" e fornecimento de armas.
A reabertura da Embaixada de Portugal em Kiev seria um passo importante para a segurança na capital ucraniana e para que mais países regressem à Ucrânia, considerou a embaixadora em Lisboa, Inna Ohnivets, em entrevista à Lusa.
“Já muitas outras embaixadas começaram a restaurar o seu trabalho em Kiev”, afirmou a embaixadora da Ucrânia em Portugal, que tem mantido contactos com o Governo português, nomeadamente com o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho.
Ainda sem informação sobre a reabertura da representação diplomática portuguesa, Inna Ohnivets defendeu que seria um passo importante, depois de as forças russas terem aliviado a pressão sobre a capital: “Na minha opinião isso é muito importante, porque também vem demonstrar uma segurança para todos em Kiev”.
Quando se passam dois meses desde a invasão russa, iniciada em 24 de fevereiro, a embaixadora revelou estar a trabalhar com as autoridades portuguesas no sentido de articular uma visita à Ucrânia, depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros de lhe ter manifestado esse interesse.
“Vamos trabalhar sobre esta questão, mas tive uma videoconferência com o novo ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, João Gomes Cravinho, e ele já visitou a Ucrânia no ano passado. Participou na conferência internacional dedicada à desocupação da Crimeia por meios pacíficos, por meios diplomáticos, e durante a nossa videoconferência ele disse que gostaria de visitar a Ucrânia”, indicou a diplomata, que está em Portugal desde 2015.
Portugal ajuda muito para que possamos no futuro continuar a nossa vida pacífica e espero que o Governo português apoie a nossa perspetiva europeia e também apoie a Ucrânia com fornecimento de armas.
“Portugal ajuda muito para que possamos no futuro continuar a nossa vida pacífica e espero que o Governo português apoie a nossa perspetiva europeia e também apoie a Ucrânia com fornecimento de armas”, afirmou, na sequência do pedido que o Presidente do país, Volodymyr Zelensky, endereçou às autoridades portuguesas ao discursar no parlamento, na quinta-feira.
Da Rússia, Inna Ohnivets não espera mudanças de regime, mas acredita que as sanções da União Europeia vão fazer com que “pouco a pouco” a situação se altere. “A situação vai piorar na Rússia. E também muitos militares russos morreram na Ucrânia. Durante este período de dois meses, mais de 20.000 soldados russos e generais morreram na Ucrânia. Os militares ucranianos defendem a sua terra natal e os militares russos têm o estatuto de ocupantes, de invasores”, disse ao ser questionada sobre o desfecho do conflito.
Embaixadas em Lisboa de costas voltadas desde 2014
Para a embaixadora da Ucrânia, a Rússia atual é “muito parecida com a União Soviética” e com o regime de Estaline: “Putin restaurou este regime e isso significa que na Rússia existe o campo de concentração para os russos. Por isso muitos deles têm medo de realizar manifestações, mas claro que os russos que as realizaram, que se atreveram a demonstrar a sua posição contra Putin, têm uma posição heroica, porque na realidade isso é um perigo na Rússia, mostrar a posição real”.
A Embaixada da Ucrânia não mantém qualquer contacto com a Embaixada da Rússia, “uma tradição” já com oito anos, nas palavras da embaixadora, desde “a anexação ilegal da Crimeia”, em 2014.
Inna Ohnivets encara a missão que desempenha como “muito honrosa”, em representação de um Estado que luta pela independência e pela preservação da soberania. “Gostaria de fazer tudo o que for possível para a nossa vitória”, confessou.
“Gostaria de dizer que o povo ucraniano avalia a solidariedade, toda a assistência humanitária prestada à Ucrânia, aos refugiados ucranianos e isso significa que teve um amigo verdadeiro, um povo de coração grande e sincero. Muito obrigada. Força Portugal e Glória à Ucrânia [‘Slava Ukraini’]”, afirmou.
Este foi o único momento em que sorriu abertamente durante uma entrevista a que compareceu vestida de preto e que começou com um aviso. Precisava de falar de Mariupol, da emergência de retirar milhares de civis e soldados feridos, de um cenário que descreveu como “terrível”.
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