Só 17% das empresas portuguesas ainda não sentiu impacto da guerra

Empresários afirmam que aumento dos custos, dificuldade em aceder a matérias-primas e consumíveis, e cancelamento ou redução de encomendas são principais reflexos do conflito na Ucrânia.

A guerra na Ucrânia tem dominado a atualidade mediática nos últimos dois meses e parece estar igualmente no topo das preocupações dos empresários portugueses. Um inquérito desenvolvido pela CIP – Confederação Empresarial de Portugal, em parceria com o Marketing FutureCast Lab do ISCTE, realizado no início de abril, mostra que apenas 17% das empresas ainda não sentiu impactos relacionados com a invasão russa.

A maioria dos inquiridos (76%) referiu o aumento dos custos como o impacto mais evidente e imediato da guerra em território ucraniano. Por outro lado, 24% referenciou igualmente a “dificuldade em aceder a matérias-primas e consumíveis” e 18% reportou ainda o cancelamento ou a redução de algumas encomendas. O estudo “Sinais Vitais”, que mede as expectativas empresariais e tem agora periodicidade trimestral, contou com uma amostra de 307 empresas (8% são de grande dimensão; metade do ramo da indústria e da energia) nesta 20ª edição.

E dizem as empresas que as medidas prioritárias nesta conjuntura são a redução do IVA ou do ISP sobre a energia (75%) e apoios diretos às empresas mais atingidas (65%) por esta contingência. 45% defende uma “intervenção nos mercados energéticos”, como é o caso da proposta ibérica para limitar os preços do gás natural, e novas linhas de crédito com garantia do Estado (37%). Já a reintrodução do regime de lay-off simplificado, que tem sido uma das propostas feitas com mais insistência pelas associações empresariais e que o Governo tem recusado, só colhe a preferência de 17% dos inquiridos.

“Sinais Vitais”, desenvolvido pela CIP em parceria com o Marketing FutureCast Lab do ISCTE

Entre matérias-primas, energia, mão-de-obra ou transportes, metade das empresas registou acréscimo de custos operacionais superiores a 15% em março, face a janeiro deste ano, antes do início do conflito militar que envolve a Rússia e a Ucrânia. No mês passado, o aumento médio global neste tipo de despesas ascendeu a 20%, de acordo com o inquérito apresentado esta quarta-feira pela CIP.

No conjunto das empresas que responderam a este inquérito, a energia pesa, em média, 16% no total dos custos operacionais. Por outro lado, quase 80% das empresas ainda espera no segundo trimestre deste ano um aumento nos custos da eletricidade ou do gás natural, que estima vir a ser na ordem dos 18%. Já questionados sobre as prioridades do novo Governo em matéria de “convergência económica”, a redução dos impostos sobre as empresas surge na posição cimeira.

Por outro lado, as empresas continuam a dizer que os programas de apoio do Estado estão aquém ou muito aquém do que é preciso (88%) — este indicador agravou-se em quatro pontos percentuais face a janeiro –, com apenas 12% a dizer que estão “à altura das dificuldades”. Quanto ao acesso, apenas 7% considera que é pouco ou nada burocrático.

E qual o impacto que esperam que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) irá ter, direta ou indiretamente, na atividade da empresa? 69% antecipa que será pouco ou nada significativo. “É extremamente frustrante constatar [estes valores]. Merece profunda reflexão porque é o principal instrumento e motivação para a recuperação da economia e as empresas”, desabafou Armindo Monteiro, vice-presidente da CIP, em conferência de imprensa.

Na componente de barómetro, o documento divulgado esta tarde aponta que 41% das empresas reportaram um aumento nas vendas e na prestação de serviços (acréscimo médio de 27%, em valor) no primeiro trimestre de 2022, face ao mesmo período de 2019 (pré-pandemia). Ainda assim, a análise por dimensão evidencia que, no caso das microempresas, quase metade afirma estar ainda abaixo do nível de negócio anterior ao surgimento do novo coronavírus na China.

O aumento de vendas pode ser uma mera ilusão por estar a ser feito à custa da margem das empresas, que não o poderão fazer sempre nem na totalidade.

Armindo Monteiro

Vice-presidente da CIP

Armindo Monteiro alertou, porém, para o facto de as empresas estarem neste momento a “sacrificar as margens” e que isso é algo que “a prazo vai atingir a viabilidade de muitas empresas”. “As empresas estão a assumir a fatura do aumento de custos. O choque dos preços chega amortecido aos consumidores. O aumento de vendas pode ser uma mera ilusão por estar a ser feito à custa da margem das empresas, que não o poderão fazer sempre nem na totalidade”, insistiu o vice-presidente da CIP.

Notando não ter conhecimento de empresas que estejam encerradas por causa dos aumentos dos preços da energia ou das matérias-primas, Armindo Monteiro admitiu que o lay-off simplificado, “sendo uma medida boa para algumas circunstâncias, e áreas de atividade, não será de espetro largo para toda as situações”. Contrapondo, isso sim, com a urgência de reduzir os custos operacionais. Seja no domínio energético, logístico ou para suprir falhas no fornecimento de materiais, que um estudo da Marsh mostrou ser o principal risco identificado pelos empresários portugueses em 2022.

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