PME estão mais preocupadas com as pessoas do que com as vendas em 2022

Se há um ano o foco das micro, pequenas e médias empresas (PME) portuguesas estava principalmente virado para as vendas, tendo em conta o impacto que a pandemia de Covid-19 estava a ter nos negócios, em 2022 “assiste-se a uma inversão do paradigma” e são as pessoas (60%) que encabeçam a lista de prioridades.

Os resultados de um inquérito realizado em fevereiro junto de 853 empresas com operação em Portugal, a que o ECO/Pessoas teve acesso, mostra um aumento de 33% na preocupação com o tema dos recursos humanos, em relação a 2021. Substitui as vendas, que caem para terceiro lugar (48%), emergindo igualmente neste ano o dossiê da sustentabilidade (52%).

Numa fase pós-pandemia e de maior estabilidade dos negócios, quando os efeitos da guerra na Ucrânia ainda estavam fora da agenda empresarial, quase metade (49%) das participantes na segunda edição do Barómetro PME Magazine dizia espera poder aumentar o número de colaboradores em 2022, sobretudo para reforçar a área de operações (45,4%) e o departamento comercial (18,7%).

No último trimestre do ano passado, em relação ao período homólogo de 2020, aponta o estudo realizado em parceria com a More Results, a Iberinform e a Nova SBE Executive Education, a percentagem de empresas que reduziu o seu quadro de pessoal caiu de 19,6% para 15,1%, enquanto a que aumentou o número de colaboradores cresceu de 16,3% para 20,5%.

“Com o alívio decorrente da recuperação comercial, as empresas conseguem agora dirigir os seus esforços para outras áreas não tão ligadas à sobrevivência do negócio”, lê-se no sumário executivo deste barómetro. É apontado o exemplo da sustentabilidade, apesar de mais de metade das empresas admitir que não tem planos sobre impactos ambientais. A seca (25,4%), as alterações climáticas (21%) e a vontade de terem uma menor pegada ambiental (15%) são as principais ameaças identificadas neste campo.

Já no que toca ao volume de negócios, depois de 64% das empresas inquiridas terem registado um crescimento em 2021 – 18% mantiveram e outras tantas viram a faturação cair face ao primeiro ano da pandemia –, antes de irromper o conflito militar entre a Rússia e a Ucrânia, quase metade (48%) diziam esperar um aumento das vendas em 2022, em relação à performance evidenciada no ano passado.

As PME estavam confiantes numa subida de vendas, sentindo uma menor necessidade de apoios financeiros e dirigindo as suas preocupações para a necessidade de contratar e reter colaboradores.

“As PME estavam confiantes numa subida de vendas, sentindo uma menor necessidade de apoios financeiros e dirigindo as suas preocupações para a necessidade de contratar e reter colaboradores [e] de tornar os seus negócios mais resilientes face aos desafios de sustentabilidade ambiental, destaca João Silveira Lobo, professor assistente na Nova SBE.

Se, por um lado, a maioria das empresas participantes nesta segunda edição do barómetro indica que recorrem a ferramentas digitais para potenciar o negócio (a relevância para o negócio e a facilidade da comunicação com o cliente são as principais razões apontadas), por outro, existem ainda cerca de 40% que não utilizam estas ferramentas, “principalmente porque não as consideram úteis e porque são ainda percecionadas como um custo e não um investimento”.

75% quer investir em marketing digital

O marketing, sim, é visto pelas PME como “essencial” para o aumento das vendas. Registam-se mais investimentos, ainda que em mais de metade dos casos corresponda a 1% ou menos do orçamento total. Os canais de marketing digital são a aposta da maioria destas empresas para o atual exercício, descendo, por outro lado, a intenção de investimento no marketing offline.

“Verifica-se um regresso ao investimento no marketing, ainda que este investimento seja reduzido – sobem cerca de 40% as empresas que pretendem alocar, pelo menos, 1% do seu orçamento ao marketing, mas descem as alocações superiores e, consequentemente, a alocação média. Esta situação poderá estar ligada à estabilização do negócio e o sentimento positivo que a possibilidade de aumento das vendas acarreta”, interpretam aos autores.

Depois de em 2021 ter havido margem para despesas de marketing digital em cerca de 55% das empresas inquiridas, em 2022 essa intenção de investimento sobe para 75%. As campanhas em redes sociais e o trade marketing em canal de e-commerce são as principais apostas para este ano — e aquelas que beneficiam da maior alocação dentro do orçamento dedicado ao marketing.

Já o marketing offline mereceu a atenção de 36% das empresas no ano passado, descendendo para 29% a percentagem das que vão optar por estes canais em 2022. O telemarketing e os brindes vão continuar a ser as principais apostas, ainda que seja na publicidade outdoor que se verifica a maior subida na alocação média do orçamento.