Fundição portuguesa fatura 536 milhões e assegura 5 mil empregos

Mais de 90% da produção das seis dezenas de fundições é exportada sobretudo para o automóvel. Oportunidades na ferrovia e tecnologia balanceiam custo da energia e falta de qualificação da mão-de-obra.

Há perto de 60 fundições a operar atualmente em Portugal, maioritariamente pequenas e médias empresas (PME), que asseguram diretamente mais de cinco mil postos de trabalho e que exportam mais de 90% da produção, com destaque para os mercados da Alemanha, França e Itália. Implantada sobretudo nos distritos de Aveiro, Porto e Braga — perto de 80% das fábricas estão neste território –, estas indústrias faturaram cerca de 536 milhões de euros em 2021.

Este é o retrato do setor traçado pela Associação Portuguesa de Fundição, que organiza esta quarta-feira na Torre da Oliva, em São João da Madeira, o XIX congresso nacional com o tema “Fundição: Futuro e Desafios” para debater os problemas desta indústria, partilhar conhecimento técnico e “recolher informação estratégica capaz de acrescentar valor à resposta das fundições portuguesas a novas necessidades do mercado”.

A estrutura liderada por Filipe Villas-Boas, em representação do grupo SLM – Schmidt Light Metal, diz que o setor enfrenta vários desafios, dando o exemplo dos custos de energia – está pressionada pelo preço e pelo peso que o gás natural e a eletricidade têm nas operações –, da qualificação da mão-de-obra, da escassez no fornecimento de chips que continua a afetar a produção no ramo automóvel, ou do aproveitamento das areias provenientes dos processos de moldação (cerca de 80 mil toneladas anuais) como matérias-primas para outras fileiras, como as indústrias cimenteiras, dos betões asfálticos, dos barros ou dos materiais de construção.

Filipe Villas-Boas, presidente da Associação Portuguesa de Fundição

Por outro lado, vê oportunidades como o investimento público na ferrovia — “área em que temos experiência e onde queremos reforçar as competências e a capacidade instalada”, sublinha Villas-Boas –, na “evolução técnica e tecnológica” das fábricas portuguesas e na “interação crescente” entre empresas e instituições de ensino superior e de investigação e desenvolvimento (I&D). Na apresentação do plano estratégico desenhado em 2018 pela Católica Porto Business School, esta associação sediada no Porto lamentava que a fundição fosse uma “atividade subestimada, com campeões ignorados, escondidos”.

O subsetor que mais contribui para as exportações é o dos não-ferrosos, em que sobressaem as ligas de cobre e a fabricação de peças em ligas de alumínio quase exclusivamente destinadas à indústria automóvel. Valeu 325 milhões no ano passado. Acima dos 210 milhões de vendas ao exterior que representou o dos ferrosos (produção em ferro fundido e em aço), que, ainda assim, continua a ter uma quota exportadora relevante no panorama da fundição nacional.


A organização do congresso, que conta com uma intervenção de Miguel Fonseca, administrador da EDP Comercial, e será encerrado por Beatriz Freitas, presidente executiva do Banco Português de Fomento, espera a participação de cerca de 180 congressistas, entre empresários, gestores e técnicos das áreas de engenharia, I&D e inovação das empresas. Assim como a presença de representantes das suas clientes, de instituições de ensino superior e do sistema científico e tecnológico.

A indústria de fundição nacional é atualmente constituída por empresas de alta tecnologia, ligadas sobretudo ao fornecimento do setor automóvel, mas também à construção civil, indústria metalomecânica, cerâmica, mineira e de remoção de terras, elétrica e eletrónica, naval, de máquinas agrícolas e industriais, ferroviária, eólica, indústria aeronáutica e aeroespacial.

Distribuição por área de aplicaçãoAPF

Este foi um dos setores ouvidos há duas semanas pelo novo ministro da Economia, António Costa Silva, que andou pelo Norte do país a falar com associações representativas de várias outras indústrias, como metalurgia e metalomecânica, indústria automóvel, setor elétrico, cortiça, indústria extrativa, moldes, calçado, cerâmica e conservas de peixe. Numa nota enviada na altura às redações, o gabinete ministerial referiu que o governante “encontrou agentes motivados, mas apreensivos com o atual contexto económico”.

O programa do congresso agendado para quarta-feira inclui quatro painéis ao longo do dia, em que vão ser abordados temas relacionados com a economia circular, a digitalização, a tecnologia ou os mercados. Entre os vários participantes especialistas, nacionais e estrangeiros, a APF destaca a presença de Fynn-Willem Lohe, secretário-geral do Comité de Associações Europeias de Fundição (CAEF), organismo que congrega associações de 22 países europeus.

Indústria de fundição

A referência aos custos energéticos e à economia circular como fatores críticos para a competitividade e sustentabilidade do setor já era feita no Plano Estratégico para a Indústria Portuguesa de Fundição, há quase quatro anos. Em comunicado, Filipe Villas-Boas reconhece, porém, que as boas práticas que a generalidade das fundições portuguesas adotou em matéria de economia circular está ainda longe de satisfazer completamente os agentes do setor.

“Todas as possibilidades de incorporação deste tipo de materiais foram já testadas em diversos projetos, alguns deles com significativa importância e promovidos pela própria APF em conjunto com associados. No entanto, tais resíduos continuam a ser depositados em aterro, na esmagadora maioria dos casos, no âmbito de projetos de recuperação paisagística”, desabafa o empresário.

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