Produção de eletrolisadores: uma oportunidade para a indústria europeia

  • Pedro Amaral Jorge
  • 11 Maio 2022

Não será possível acelerar a produção de hidrogénio verde sem acelerar, antes de tudo, a produção de eletrolisadores. Este é um desafio e uma oportunidade gigante para a indústria europeia.

A Comissão Europeia está a impulsionar o fabrico europeu de eletrolisadores de forma a incrementar a produção de hidrogénio verde na Europa. Esta medida enquadra-se na nova estratégia europeia de descarbonização e diversificação de fontes de energia: RePowerEU.

Este plano europeu ambiciona, no caminho para a independência energética, alcançar, até 2030, a capacidade de produção anual de 20 milhões de toneladas de hidrogénio verde, metade produzidas em espaço da União Europeia e metade importadas de países mediterrânicos, com o objetivo de reduzir substancialmente a necessidade do gás natural de origem russa.

Alcançar este objetivo pressupõe um desafio sem precedentes, mas corresponde, ao mesmo tempo, a uma oportunidade gigante para a indústria europeia, na qual a indústria portuguesa terá certamente um papel a desempenhar. O conhecimento tecnológico europeu poderá ser assim colocado ao serviço da causa climática, da segurança de abastecimento e da autonomia energética.

No dia 5 de maio o Comissário Europeu do mercado interno, Thierry Breton, e 20 administradores de empresas que representam o setor de engenharia e fabrico de eletrolisadores na Europa, deram um passo importante para concretizar esta nova política assinando uma declaração conjunta, que assenta em três pilares:

  1. O primeiro prevê um enquadramento regulatório adequado que permita que seja possível atingir as ambiciosas metas previstas na diretiva das energias renováveis e combustíveis alternativos, sendo que estas metas poderão vir a ser ainda mais ambiciosas a partir de 18 de maio, dia em que será apresentado o REpowerEU.
  2. O segundo prende-se com o acesso adequado a financiamento europeu através de uma renovação do fundo de inovação de forma a apoiar a produção de equipamentos de baixo carbono, como é o caso dos eletrolisadores.
    Será necessário também, referiu Thierry Breton, o acesso a apoios estatais, tendo em conta os riscos associados a estes investimentos, e, muito importante, a operacionalização de mecanismos de estabilidade de preços e quantidades, do tipo Contracts for Difference (CfD) de CO2, para incentivar, alargar e democratizar o acesso a financiamento para desenvolvimento de projetos de tecnologias limpas, de larga escala, com base no hidrogénio.
    Os CfD reduzem o risco para os investidores, diminuindo, dessa forma, os custos de produção do hidrogénio verde. Estes contratos preveem que o Estado assegure ao investidor, através de mecanismos concorrenciais, a diferença do valor estabelecido em relação ao preço de mercado ou vice-versa, o que é compreensível atendendo à necessidade de assegurar as diversas formas de financiamento privado necessário, sem o qual será impossível alcançar a escala de produção de 20 milhões de toneladas de hidrogénio verde por ano.
  3. O terceiro pilar está direcionado para a necessidade de investigação e desenvolvimento de forma a assegurar a disponibilidade de componentes necessários de forma atempada e acessível.

A nova estratégia com que a União Europeia se comprometeu exigirá uma grande quantidade de eletrolisadores para a produção de hidrogénio verde numa área em que a Europa lidera.

"A indústria portuguesa poderá ter aqui uma grande oportunidade para se posicionar na engenharia, no fabrico e em serviços de operação e manutenção de eletrolisadores.”

A indústria europeia, certamente com a respetiva contribuição da indústria nacional, terá de aumentar, no mínimo, dez vezes a capacidade de engenharia e fabrico de eletrolisadores para ajudar a cumprir as metas já anunciadas da estratégia RePowerEU e, por seu lado, a Comissão Europeia irá apoiar este incremento que potenciará o aumento da produção de hidrogénio verde que a Europa espera e precisa.

Não será possível acelerar a produção de hidrogénio verde sem acelerar, antes de tudo, a produção de eletrolisadores e a implementação de mecanismos de estabilidade e suporte aos preços de produção de hidrogénio verde, o que exige um quadro regulatório e apoios financeiros adequados. Soluções acessíveis, económicas e escaláveis parecem, até ao momento, ser o caminho.

Este é um grande avanço com vista a aumentar a independência energética de combustíveis fósseis, em particular do gás natural proveniente da Rússia. Ao mesmo tempo impulsionará a “produção” de energia limpa com recurso a fontes endógenas renováveis, salvaguardando a autonomia e segurança energética, com a mais-valia que constitui a primazia a atribuir à tecnologia europeia.

A indústria portuguesa poderá ter aqui uma grande oportunidade para se posicionar na engenharia, no fabrico e em serviços de operação e manutenção de eletrolisadores.

  • Pedro Amaral Jorge
  • Presidente da APREN

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