Pequenos hotéis procuram ajuda para escalar “montanha” do digital
Especialistas e empresários da hotelaria estiveram reunidos no Porto para falar sobre transição digital e o obstáculo da inflação. Governo promete Estado 4.0 para não “afundar” setor em burocracia.
Ainda não havia Covid-19 quando a associação que representa hotéis, restaurantes, cafés e similares (AHRESP) começou a pensar na transição digital da hotelaria. Três anos depois do início dos trabalhos, o projeto Hotel 4.0 teve o evento final nesta quinta-feira, no centro de congressos da Alfândega do Porto. Ajudar os pequenos negócios a enfrentar o mercado digital é a principal preocupação.
“Preocupam-nos as pequenas empresas. São os pequenos empresários que mais precisam de nós. Por isso é importante desmistificar o digital e tornar o dia-a-dia mais simples“, destacou o vice-presidente da associação, Tiago Quaresma, na abertura da sessão.
Num hotel da geração 4.0, a tecnologia de inteligência artificial serve para ajudar os funcionários a tratarem melhor os hóspedes e proporcionar-lhes experiências personalizadas. “O digital é uma maravilhosa ferramenta para trazer soluções e reforçar a dimensão humana do nosso setor”, acrescentou o mesmo responsável.
Depois das perdas astronómicas na pandemia, este é o momento de investir nas empresas. Ainda há muitas empresas, sobretudo as pequenas, que não tiram partido das novas ferramentas digitais
O mesmo aviso para as pequenas empresas de hotelaria foi deixado pela entidade de turismo do Porto e Norte de Portugal. “Depois das perdas astronómicas na pandemia, este é o momento de investir nas empresas. Ainda há muitas empresas, sobretudo as pequenas, que não tiram partido das novas ferramentas digitais”, assinalou a dirigente da região de turismo, Mónica Gonçalves.
Aposta na transição
A aposta no Hotel 4.0 também foi trazida ao debate pela convidada internacional da conferência, a diretora-geral da associação europeia congénere da AHRESP. Maria Audren destacou a transição digital como uma das quatro prioridades da entidade para o longo prazo.
“Queremos contribuir para uma hospitalidade mais inovadora, o que implica instalar ferramentas digitais. Isso implica investimento e compromisso de longo prazo. Só que para as pequenas empresas é uma montanha para escalar”, alertou a responsável da HOTREC.
A inovação na hotelaria foi também o tema em debate num outro painel, que contou com Fernando Alexandre, professor de Economia da Universidade de Aveiro; a diretora-geral do hotel Sheraton no Porto, Joana Almeida; e o presidente do programa operacional de fundos comunitários Compete, Nuno Mangas.
Quando estávamos a lançar a rampa [da recuperação pós-Covid], agora temos o impacto da guerra, que afeta a logística e o custo dos bens.
O economista Fernando Alexandre destacou que Portugal “não passará para outro patamar de investimento se não inovar mais e apostar em conhecimento”.
Já a líder do Sheraton Portugal chamou a atenção para a nova dificuldade que a inflação está a gerar na gestão dos negócios. “Quando estávamos a lançar a rampa, agora temos o impacto da guerra, que afeta a logística e o custo dos bens”, lamentou.
Para ajudar na transição digital dos hotéis, o líder do Compete deixou uma sugestão para eventuais candidatos a apoios e financiamentos com selo europeu. “Não aguardem pelo aviso para desenvolverem a vossa proposta. Não deixem de ir trabalhando para aproveitarem as oportunidades”, recomendou Nuno Mangas.
Em dois anos, o projeto Hotel 4.0 juntou centenas de empresas de Norte a Sul do país, assim como especialistas e decisores nacionais e internacionais, em estudos e análises, ações de sensibilização e debates. Foi dinamizado um think tank, coordenado por Jaime Quesado, do qual resultou um policy paper com ideias para seis áreas chave de desenvolvimento da hotelaria e do turismo.
O roadshow Hotel 4.0 Talks, que arrancou virtualmente, teve também sessões presenciais em Coimbra, Braga e Évora. Finalmente, foi ainda lançado um concurso de ideias para estudantes do ensino superior, que desafiou cerca de duas dezenas de escolas e universidades a apresentarem soluções inovadoras para acelerar a transformação digital na hotelaria.
Estado 4.0 para não “afundar” hoteleiros em burocracia
No encerramento da conferência, no Porto, a secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, lembrou que o turismo contava com perto de 400 mil trabalhadores antes da pandemia, perdeu 20% e está agora “em retoma na angariação de talento”. “Mas temos de reter, capacitar e fidelizar este talento para ficar connosco e continuar a permitir atingir as metas”, notou.
Visando os empresários na plateia, a governante assinalou que é igualmente relevante “trabalhar a Empresa 4.0”, sublinhando que “para transformar digitalmente o setor é preciso apostar no empreendedorismo e em instrumentos financeiros que acarinhem o investimento inteligente”.
Para transformar digitalmente o setor é preciso apostar no empreendedorismo e em instrumentos financeiros que acarinhem o investimento inteligente.
“E temos de ter também o Estado 4.0, que ainda não temos. Estamos um bocadinho longe disso. Temos de criar serviços digitais, condições para que o empresário não se afunde” em burocracia, reconheceu Rita Marques. Uma administração pública mais ágil a nível central e também local, notou, falando no “papel importante dos municípios, que têm de estar mais conectados e abertos às necessidades” da indústria hoteleira.
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