Gerir pessoas em tempo de pandemia
Maioria não quer regressar ao modelo de trabalho presencial – até porque isso significa mais gastos e menos qualidade de vida. Desafio para as empresas é encontrar compromisso com colaboradores.
A pandemia por Covid-19 trouxe para a ordem do dia o tema do trabalho à distância, com todas as implicações que este traz para a vida das pessoas, para as empresas e para a sociedade. De um dia para o outro foi necessário que as empresas encontrassem soluções que lhes permitissem ter as suas equipas a trabalhar de casa com eficácia, segurança e oferecendo aos clientes a mesma qualidade de serviço. O teletrabalho veio, assim, desafiar as empresas de vários setores a contrariar o seu modus operandi, promovendo uma nova mentalidade e formas de relacionamento sustentadas na confiança, na responsabilização e no empowerment.
Posso falar na primeira pessoa: quando a pandemia eclodiu em Portugal e fomos para o primeiro confinamento, em apenas 10 dias conseguimos colocar 97% dos 3.000 colaboradores que empresa tinha na altura a trabalhar a partir de casa. Para além da preocupação em assegurar a manutenção da qualidade de serviço aos nossos clientes, a maior prioridade foi garantir o bem-estar, o cuidado e o apoio a todos os colaboradores. Foi um desafio, mas hoje sabemos que foi excelente termos sido obrigados a sair da nossa zona de conforto!
Trabalhar a partir de casa proporcionou algumas vantagens aos colaboradores, como terem horários mais flexíveis, reduzirem custos de deslocação, terem maior disponibilidade para dar assistência à família, conseguirem um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional e uma produtividade otimizada. Mas, temos de reconhecer que não foram só os colaboradores que ganharam. As empresas também ganharam com a pandemia, não só porque passaram a ter colaboradores mais motivados e comprometidos, o que se traduz num aumento da sua produtividade, mas também porque tiveram uma significativa redução de custos. Apesar disso, as empresas tiveram que fazer significativos investimentos nas suas plataformas tecnológicas, para terem condições para oferecer os seus serviços, nas condições mais adequadas.
Se o sucesso do teletrabalho se deve muito à inovação tecnológica, também se deve à mudança de paradigma na mentalidade e na forma de gerir pessoas, que esta pandemia aportou de forma radical. Como em qualquer crise, houve também oportunidades que a pandemia trouxe, que se traduziram em desenvolvimentos para as empresas e para o mundo a todos os níveis.
O teletrabalho exigiu, assim, um esforço de proximidade, uma conexão regular e comunicação por diversas vias entre os colaboradores e as empresas, apesar do distanciamento social, o que levou a uma maior preocupação com o bem-estar dos colaboradores e a uma maior humanização das relações pessoais em contexto de trabalho. Com a pandemia, a cultura das empresas, a sua capacidade de comunicação interna, de engagement e o reforço do compromisso dos colaboradores passaram agora a ter uma maior relevância nos departamentos de Recursos Humanos.
A inovação tecnológica, sem dúvida, teve um papel muito importante, mas a forma de gerir as pessoas ganhou uma nova dimensão. Sendo uma Peoples’ Company, no nosso caso vimos uma oportunidade de apostar num novo conceito de call center nos mercados em que atuamos e convertemos alguns dos atuais sites em empower centers onde os colaboradores, em regime de teletrabalho, podem ir uma vez em cada oito semanas, e incrementarem a sua formação, motivação e engagement com a empresa.
Esta preocupação com as pessoas e a rápida resposta na gestão da pandemia foram cruciais para as empresas que tiveram de lidar com a pandemia e, quem o soube fazer de forma rápida e correta, está agora a colher os frutos do investimento, com colaboradores mais empenhados, comprometidos com a empresa, e com clientes que –- ao voltarem ao seu ritmo normal de trabalho, reconhecem e premeiam os fornecedores que souberam acompanhá-los em tempos sem precedentes. Organizações fortes, que têm uma cultura diferenciada e um sentido de propósito único e diferenciador, podem ultrapassar todas as adversidades. Uma pandemia reforça, sem dúvida, este propósito.
E agora? Sabemos que a maioria dos colaboradores não quer regressar ao modelo de trabalho presencial – até porque isso significa mais gastos e menos qualidade de vida. Agora, o grande desafio para as empresas, no contexto pós-pandémico, é encontrarem o seu “novo normal” e encontrarem uma solução de compromisso que não as faça perder a motivação dos colaboradores, mas que, ao mesmo tempo, permita que cumpram as expectativas de clientes e consumidores que estão ávidos por esquecerem dois anos atípicos.
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