EsTofo só de carro

Não sei bem de onde veio a palavra Tofo mas imagino que foi parida algures na pergunta "Tens estofo para ir até aquela praia que fica lááá?" "Sim, tem 'stofo, tem!"

Pois eu cá é que não tinha. Mas quando saí de Maputo, ainda não sabia.

Ora diz que há várias maneiras de viajar por Moçambique, além da caravela. Mas as que não custam na carteira, custam na alma. Os aviões da LAM são a alternativa perfeita para casaizinhos audazes em luas-de-mel de dez dias. Mas nós, que temos um mês para gastar e coração fraco, ficamo-nos pela estrada, que o verdadeiro viajante viaja com jante mesmo.

Bom, se o incauto palerma quiser pagar férias aos polícias pode levar o próprio jipe e será parado uma data de vezes para agraciar a “altoridade“. Para prender um ladrão, eles são uma nulidade. Mas não perdem uma ocasião para equilibrar o rendimento. A sugestão é comprar, de antemão, tabaquinho e refrigerantes para ir distribuindo pelos pedintes fardados e fingir que são SCUTS humanas.

Se quiser pagar menos, vai de chapa (umas mini-vans que não se sabe se mini-voltam), de machibombo (nome-delícia para os autocarros grandes que ninguém sabe bem onde e a que horas se apanham) ou de Mylove, nome livre para quem quiser passar umas horas de pé, abraçado a 40 locais, numa carrinha de caixa aberta.

Como em tudo o que é moçambicano, a coisa acontece quando acontecer. Hakuna Matata aqui traduz-se por Aguenta-te à Bomboca e prepara-te para esperar. E, pelo que percebi até agora, os transportes acordam às quatro da manhã e só partem quando estiverem recheados que nem peru de Natal. Afinal quem é que quer ficar a dormir depois das três da manhã quando se pode (des)esperar dentro de um calhambeque suado até às 7h? Até deliro de entusiasmo!

A boa notícia é que a estrada é sempre em frente, a má notícia é que nos transformamos num híbrido entre uma sardinha em lata e um carapau de corrida, durante 10 horas seguidas.

Mas qual mãe, que se esquece dos dois dias de parto quando vê o filhote, também o viajante esquece as dores de tudo quando vê a sua primeira praia Moçambicana e exclama “Porrrrrra, daqui só saio à chapada” que é como quem diz, de chapa. Entretanto, chapinhemos, que a água é quente e o marisco que não é arisco, acaba sempre no prato (mais hora, menos hora).

Crónicas africanas são impressões, detalhes e apontamentos de viagem da autora e viajante Mami Pereira. Durante quatro meses, o ECO vai publicar as melhores histórias da viagem, que pode ir acompanhando também aqui e aqui.

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