Importações europeias de gás russo podem cair 75% ainda este ano, estima AIE
Face à redução do fluxo do gás russo, a Agência Internacional de Energia prevê uma redução acentuada das importações até final ao final do ano, que poder ir até 75%.
As importações europeias de gás russo deverão cair de forma acentuada nos próximos anos, levando à Agência Internacional de Energia (AIE) a prever uma queda de 55% nas importações europeias de gás russo por gasoduto entre 2021 e 2025, sendo que o cenário que prevê a quebra mais acentuada aponta a possibilidade de as importações reduzirem-se em 75%.
A revelação surge no segundo o relatório da AIE, divulgado esta quarta-feira, que indica que a procura global por gás natural vai abrandar em 2022 e recuperar apenas nos três anos seguintes. “Os preços recorde do gás de hoje estão a deprimir a procura e a fazer com que alguns utilizadores de gás se virem para o carvão e o petróleo, enquanto os recentes cortes acentuados nos fluxos de gás russo para a Europa estão a fazer soar os alarmes sobre o abastecimento antes do inverno”, lê-se no documento publicado.
O consumo de gás deverá contrair em 2022, e o crescimento será limitado nos próximos anos. Entre 2021 e 2025, o consumo vai aumentar apenas 140 bcm, abaixo dos 370 bcm dos últimos cinco anos, e “muito abaixo do crescimento excecional da procura” verificado em 2021, de 175 bcm. “A revisão em baixa no crescimento da procura de gás nos próximos anos é principalmente o resultado de uma atividade económica mais fraca e não tanto pela troca do gás pelo carvão ou petróleo”, explica o relatório, revelando que apenas um quinto dessa redução da procura está associada a políticas de eficiência energética e à aposta em energias renováveis.
No relatório, a entidade liderada por Faith Birol antecipa que o comércio global de gás natural liquefeito (GNL) cresça a uma taxa média anual de cerca de 4% entre 2021 e 2025, bem abaixo da taxa de 7% registada nos cinco anos anteriores. Já o comércio através de gasodutos de longa distância deverá diminuir em média 1,9% ao ano, principalmente devido ao declínio dos fluxos russos para a Europa.
“As enormes incertezas nessa área são amplificadas pela possibilidade de a Rússia restringir ainda mais os fluxos de exportação unilateralmente, como já fez em 2022 em alguns países“, lê-se no documento da agência internacional.
Esta terça-feira, 5 de julho, a cotação de referência do gás natural na Europa, dada pelos contratos Title Transfer Facility (Dutch TTF) para entrega em agosto no mercado holandês, atingiu máximos de há quatro meses, com os futuros do TTF a chegar aos 175 euros por megawatt hora (MWh). O valor mais alto foi registado a 7 de março, quando o TTF fechou nos 200 euros por MWh e esta quinta-feira o preço do gás situava-se nos 179 euros por MWh pelas 10h.
“A guerra na Ucrânia está a afetar seriamente os mercados que já davam sinais de aperto: os aumentos de preços são inevitáveis, dada a alta concorrência global”, diz Keisuke Sadamori, chefe de Mercados de Energia e Segurança da AIE.
O aviso é especialmente importante numa situação como a atual, em que a capacidade de exportação de gás liquefeito a uma escala global crescerá a um ritmo lento nos próximos três anos, fruto do baixo investimento alocado a este segmento no segunda metade da década passada e dos atrasos na construção decorrentes dos bloqueios do covid-19. Embora tenha havido um aumento recente nas decisões de investimento em GNL, a infraestrutura resultante não estará operacional até depois de 2025, frisa a AIE.
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