CIN investe 45 milhões para modernizar complexo industrial na Maia
Grupo de tintas que emprega 1.800 pessoas e fatura 365 milhões de euros está a revolucionar a principal área fabril. Após aquisição em Itália, procura ativos para “complementar” operação em Espanha.
A CIN – Corporação Industrial do Norte está a realizar um investimento total a rondar os 45 milhões de euros para “modernizar, expandir, aumentar a capacidade e, sobretudo, acelerar o processo produtivo” no complexo industrial da Maia, revelou ao ECO o presidente executivo do grupo de tintas e vernizes.
João Serrenho explica que esta aposta vai permitir “fazer mais e mais rápido” nesta que é a principal área fabril do grupo – tem outra unidade de tintas em pó a cerca de cinco quilómetros, situada no mesmo concelho do distrito do Porto –, que está dedicada à construção civil, aos produtos industriais de grande volume e aos anticorrosivos.
“Esta zona aqui começou a trabalhar em 1965, já levou muitas voltas e acertos, e estávamos com alguns problemas de eficiência. Estamos a refazer tudo – a informatizar, a tirar algumas as máquinas mais obsoletas, a modificar os circuitos todos – e vai estar pronto no final do ano”, relata o empresário.
Do montante de investimento total, “se tudo correr bem”, o proprietário da CIN conta receber cerca de dois milhões de euros de fundos comunitários. “Nós não fazemos nada porque há dinheiro para se fazer. Fazemos o que temos de fazer. Depois se houver [apoios públicos], o diretor financeiro é que tem de ir ver isso, porque tem uma responsabilidade para com os acionistas”, ressalva.
Fundada em 1926, a CIN assumiu a liderança nacional do setor em 1992 e na Península Ibérica em 1995. A 11.ª maior fabricante europeia de tintas e vernizes soma dez fábricas em Portugal, Espanha, França, Itália, Angola e Moçambique, além de presença direta também na Polónia, África do Sul e México, com estruturas comerciais. Na Maia, onde está sediada, tem ainda a principal unidade de investigação e desenvolvimento (I&D) e o centro de distribuição para o mercado nacional.
No ano passado, o volume de negócios consolidado cresceu para 365 milhões de euros (vs. 313 milhões em 2020), com o segmento de atividade da construção a valer 61% do total. Seguiram-se a indústria (26%), a proteção corrosiva (9%) e as tintas para barcos (5%), um mercado em que passou a atuar com a aquisição da genovesa Boero. Apesar da instabilidade provocada pela guerra na Ucrânia, a CIN mantém a expectativa de chegar aos 400 milhões de euros de vendas no final deste ano. Maio foi mesmo o melhor mês de sempre em termos comerciais.
João Serrenho indica que a indústria “continua a puxar” pelos resultados e mantém-se estável, enquanto a construção está 15% acima do registo homólogo. Isto apesar de haver um desvio de comportamento entre o segmento profissional (que continua a subir) e o particular, com o consumo individual a cair depois de ter estado em alta durante a fase mais aguda da pandemia. Isso reflete-se na queda das vendas nas lojas próprias da CIN, face a 2020 e 2021 e em cadeias como a Leroy Merlin.
Sem exposição direta à Rússia ou à Ucrânia – “nunca nos tentámos [por essas geografias], são mercados pouco organizados e com umas estruturas que a gente não percebe” – é no mercado polaco, vizinho do conflito, que o grupo de tintas e vernizes sente “um desconforto claro” dos consumidores e perdas comerciais. De resto, resume o empresário nortenho, que é um dos acionistas do ECO, “o pior problema da guerra é que cria uma incerteza brutal e as pessoas começam a hesitar” nas decisões de investimento.
De regresso às compras em Espanha
Foi com a chegada de João Serrenho à administração, em 1985, que a CIN começou a desenhar a estratégia de expansão global. A primeira grande aquisição internacional foi a espanhola Barnices Valentine em 1994; a última foi anunciada em fevereiro de 2021, ao passar de 13% para deter uma participação de controlo na italiana Boero. E admite que tem “mais duas ou três” hipóteses debaixo de olho. “Andamos sempre aí a sulfatar, como costumo dizer, com contactos para trás e para a frente. Às vezes as coisas propiciam-se”.
“Andamos à procura de um complemento para a nossa operação em Espanha, que é boa, mas que podia ser melhor. Não é fácil. Em Espanha fazem-se poucas transações e o mercado é um bocado complicado, por razões históricas. Protecionismo? Não, isso já se usa pouco – e este negócio não é estratégico para os países. A primeira barreira são as expectativas das pessoas, que são elevadíssimas [em termos de preço]. Começa logo por aí. Já lhes disse várias vezes: por esse preço vendo eu. Não percebo como é que eles fazem as contas”, desabafa.
Andamos sempre aí a sulfatar, como costumo dizer, com contactos para trás e para a frente. Às vezes as coisas propiciam-se. Andamos à procura de um complemento para a nossa operação em Espanha, que é boa, mas que podia ser melhor.
Espanha, onde reclama uma quota de mercado de 6% e “gostava e [acha] que pode ter mais” – tem fábricas em Barcelona, Madrid e Girona, além de uma operação nas Canárias –, é definida pelo grupo como um dos mercados domésticos, tal como Portugal e Itália. Já entre aqueles que trata como mercados de exportação, num total de 50 na Europa, África e América Latina, o maior é o alemão, onde fatura mais de 13 milhões por ano e tem uma joint-venture com um parceiro comercial local. Ali vende sobretudo tintas em pó, que já valem perto de 50 milhões de euros no negócio global da CIN.
Matérias-primas em falta e “preços insuportáveis”
Embora não seja um consumidor tão pesado de energia, como outras indústrias, a CIN está a pagar o dobro em relação ao ano passado. Mais complicada tem sido a gestão das matérias-primas. Na segunda metade do ano passado e no primeiro trimestre deste ano, os custos das resinas, solventes ou aditivos subiram quase 40%, com o grupo português a deixar mesmo de ter acesso a alguns materiais. Foi o caso de uma cera proveniente dos EUA, por exemplo, que nessa altura interrompeu o fabrico de um dos produtos-estrela da companhia. Serrenho conta que as restrições no fornecimento “já começaram a amainar um bocado, mas os preços estão insuportáveis”.
O grupo industrial de capital português e familiar reconhece que não tem alternativa nas compras – “se a gente não pagar ao fornecedor, não temos matéria-prima” – nem do lado das vendas, estando a aumentar os preços “quase todos os meses”. “O que posso fazer? Não posso andar a subsidiar os meus clientes. E eles sabem porque não compram só tintas, mas aço, alumínio. Disparou tudo. É uma coisa completamente desbragada. E tão cedo não teremos uma descida eficaz dos preços”, contextualiza.
A equipa de I&D, composta por 180 pessoas espalhada por sete centros em quatro países, tem estado a “inventar alternativas” e “a minimizar alguns problemas”. O presidente da CIN nota que “estas alturas mais duras em termos de mercado ajudam muito a inovação” e “quem não tem cão caça com gato”. A empresa calcula um investimento anual próximo dos seis milhões de euros nesta estrutura.
Com cerca de 1.800 trabalhadores em 15 países, dos quais 650 em Portugal, o líder do grupo de tintas declara que o recrutamento “não está fácil”. Em particular para as áreas de operação e logística, para as quais precisa de quadros treinados e que saibam manobrar maquinaria cada vez mais complexa. “Estamos a simplificar os processos, a automatizar mais, a aumentar os salários de entrada, intermédios e ao fim de um ano, a dar mais umas regalias. Mas é muito difícil arranjar gente. Temos de as formar e depois pô-las a rolar pela fábrica”, conclui.
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