Zero Cups. Projeto português quer tornar compras a granel mais sustentáveis

Primeiros dispensadores ficarão disponíveis na Loja do Zero já em setembro, mas há expectativas de expansão para outros espaços, uma vez que o produto já ganhou a atenção de gigantes do retalho.

As lojas a granel ou as secções de produtos avulso têm conquistado cada vez mais espaço nos supermercados a nível nacional. Para o consumidor que prefere comprar quantidades exatas de massas, arroz, especiarias, chás ou frutos secos, este é um método a considerar, mas o recurso ao saco de plástico descartável pode ser um problema do ponto de vista ambiental. É neste contexto que surgem as Zero Cups: um projeto de embalagens reutilizáveis inteligentes da autoria da startup portuguesa The Loop Co e da Loja Zero, que tem como objetivo pôr fim ao plástico descartável e revolucionar o consumo a granel, de forma a torná-lo mais eficiente e automático.

No fundo, os Zero Cups querem substituir os sacos de plástico descartáveis usados na compra avulso por um copo reutilizável inteligente, e substituir o processo manual por um sistema automatizado. Estes recipientes que vêm, para já, em três tamanhos (pequeno, médio e grande), têm a capacidade de armazenar toda a informação sobre o produto adquirido, desde a data de validade à sua origem, e ainda a quantidade de vezes que o Zero Cup foi reutilizado, através de um código, que se encontra no fundo do recipiente.

“Estávamos a trabalhar noutro projeto juntos, sobre bebidas circulares, e o tema surgiu numa reunião. Estávamos a tentar lançar este projeto há dois, três anos”, conta Catarina Barreiros, fundadora da Loja do Zero em conversa com o ECO/Capital Verde. A mesma vê a componente tecnológica e digital como fundamentais para a materialização do Zero Cups. “Foi assim que isto nasceu”.

Depois da reunião inicial, que ocorreu em fevereiro deste ano, o projeto começou a ganhar vida, em março, quando surgiram as primeiras linhas de código desenvolvidas pela The Loop Co. Mais tarde, veio a oportunidade de concorrer ao Prémio Novo Verde que lhes valeu um prémio de 25.000 euros. “Toda a gente tem interesse em ter um mundo com menos plástico e com mais circularidade”, considera a responsável.

Estes recipientes estiveram presentes na Cidade do Zero, no Parque das Nações, numa feira dedicada à sustentabilidade promovida pela loja de Catarina Barreiros, no início do mês. Ricardo Morgado, co-fundador da The Loop Co, fez a apresentação do projeto-piloto ao público convidado, através de demonstrações. Segundo o próprio, a iniciativa conseguiu chamar a atenção de empresas como o Continente Modelo ou a Delta, que veem potencial em integrar estes dispensadores automáticos nos seus negócios, assim como de investidores. “A recetividade superou as expectativas”, conta ao ECO/Capital Verde.

Na prática, o sistema da Zero Cups resume-se a três fases, que tanto podem passar pelo digital como o presencial. Na primeira, através da leitura de um código no telemóvel, o cliente pode consultar a sua dispensa digital num dispositivo presente no estabelecimento e ficar a saber algumas informações como o histórico de compras, os prazos de validade, dados relativos ao lote ou até mesmo a pegada ambiental. Se a compra for digital, os dados ficarão guardados na sua conta de utilizador.

ZeroCups (foto cedida)

Feita a leitura, o consumidor avança para uma nova compra ou reabastecimento do cup. Escolhido o produto e a quantidade que pretende, o consumidor segue para uma segunda fase, onde é apresentada uma operação automatizada, no caso da compra em loja (ilustrado na fotografia). Lá, os dispensadores robotizados leem o cup e enchem-no automaticamente com a quantidade adquirida, sendo que não é possível enganar o sistema com um grama a mais de grão-de-bico ou de milho. O código no fundo do copo está preparado para saber as medidas exatas adquiridas. Se a compra for online, não conseguirá ver este processo com os seus olhos, receberá apenas uma confirmação durante o processo da compra de que o copo foi enchido com o alimento pretendido. Depois, segue-se o pagamento.

Numa terceira fase, e já após o consumo, o cliente pode proceder à entrega dos cups na loja para uma nova utilização, onde são lidos e registados sendo que, de seguida, são atualizados os dados da dispensa digital do consumidor. Se a compra for online, a tal como na entrega, a recolha também será feita por um operador logístico,

Entregue o cup, segue-se um processo de limpeza e tratamento para ser reutilizada, seja pelo próprio consumidor, seja por outro. No fim, o cliente recebe um crédito, um novo Zero Cup, que pode ser descontado na próxima compra. Caso não pretenda fazer uma nova compra, o valor do cup ser-lhe-á devolvido.

A próxima fase do projeto-piloto será a materialização final da embalagem, que para já é um protótipo mas que deverá ser produzida a partir de plástico PET, “o mais reutilizável” e mais fácil em termos de transporte, explica Catarina Barreiros. “Considerámos outros materiais, como o aço inoxidável, mas depois era difícil a leitura do código, ou o vidro reutilizável, mas logisticamente é um pesadelo: é mais pesado e parte-se mais facilmente”, explica o co-fundador do The Loop Co. “O plástico é leve, reciclável, reutilizável e higienicamente é a melhor opção”, frisa, adiantando que a versão final do produto terá a tecnologia já embutida. Isto tudo, a tempo de em setembro o projeto ficar disponível online na Loja do Zero.

“Não queremos ficar milionários com a sustentabilidade”

Catarina Barreiros frisa que com este projeto a ideia não é expandir o negócio da loja: “temos uma loja online mínima, com dezenas de milhares de clientes, à escala do retalho tradicional. O objetivo é fazer da nossa loja uma incubadora de ideias e que este projeto seja uma ferramenta de promoção de comunicação para a sustentabilidade”, diz, referindo a título de exemplo as dezenas de outros projetos também presentes na Cidade do Zero. “Queremos dar a conhecer projetos bons, não queremos ficar milionários com a sustentabilidade”, frisa.

Ainda que não seja o propósito da Loja do Zero expandir com o projeto, a verdade é que próximos passos passam por fazer parcerias com retalhistas de forma a que o Zero Cups possa nascer em espaços físicos. O objetivo é implementar este sistema em retalhistas e marcas que pretendam ter operações de granel. O processo pode decorrer presencialmente em lojas físicas ou ser integrado num sistema de e-commerce pré-existente de cada retalhista. “A ideia é [o Zero Cups] ser o mais modelar possível e conseguirmos ter modelos diferentes para realidades diferentes”, explica Ricardo Morgado.

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