Biden recusa deixar Médio Oriente “vazio” para China, Rússia ou Irão
“EUA vão continuar a ser parceiro comprometido ativo no Médio Oriente. Não vamos afastar-nos e deixar um vazio para ser preenchido pela China, Rússia ou Irão”, garante Joe Biden na Arábia Saudita.
O Presidente norte-americano, Joe Biden, assegurou hoje que os Estados Unidos vão continuar a ser “um parceiro comprometido ativo no Médio Oriente”, recusando deixar um vazio para a China, Rússia ou Irão.
Biden falava na cimeira Conselho de Cooperação do Golfo (GCC)+3, em Jeddah, com a presença dos Estados de Omã, Bahrein, Kuwait, Qatar, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos (EAU), Egito, Iraque e Jordânia.
“Não vamos afastar-nos e deixar um vazio para ser preenchido pela China, Rússia ou Irão. Os Estados Unidos vão continuar a ser um parceiro comprometido ativo no Médio Oriente”, realçou o Presidente dos EUA, delineando os princípios da sua estratégia para a região, com foco na cooperação regional para enfrentar ameaças.
O chefe de Estado norte-americano reconheceu também hoje, junto ao príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salmán, que muitos países cometem erros, mas, alertou, apenas aqueles que aprendem com eles podem tornar-se “mais fortes”.
“Nenhum país está sempre certo, nem mesmo na maior parte das vezes, nem mesmo os Estados Unidos. Mas o nosso povo é a nossa força. Só os países que têm confiança para aprender com os seus erros ficam mais fortes”, afirmou.
O Presidente dos Estados Unidos chegou na sexta-feira à Arábia Saudita, para uma visita destinada a reparar a relação com o príncipe herdeiro Mohamed bin Salman e conseguir apoio saudita para baixar os preços do petróleo.
Bin Salman é acusado pelos serviços secretos norte-americanos de ter aprovado a operação que matou o jornalista saudita Jamal Khashoggi em 2018. O próprio Biden tinha denunciado o príncipe da coroa saudita pelo assassínio de Khashoggi, que foi desmembrado na embaixada saudita na Turquia.
O presidente norte-americano irá encontrar-se também com o rei saudita, Salman bin Abdulaziz. Durante a cimeira da NATO que decorreu em Madrid no final de junho, Biden disse que não estava prevista uma reunião com o rei e o príncipe da coroa, mas a Casa Branca afirmou o contrário em vésperas da partida do Presidente para o Médio Oriente.
Segundo fontes citadas pelas agências internacionais, Biden teve de ser convencido pelos conselheiros a considerar uma melhoria das relações entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita, o que implicaria deixar para trás o assassinato de Khashoggi.
É a primeira vez que Joe Biden visita o Médio Oriente desde que se tornou presidente dos Estados Unidos e chega a Jeddah depois de ter passado por Israel e pela Cisjordânia. Este sábado aproveitou ainda a ocasião para convidar o novo chefe de Estado dos Emirados Árabes Unidos (EAU), Mohammed bin Zayed, a visitar os EUA.
Na Arábia Saudita, Biden participará numa cimeira de chefes de Estado do Conselho de Cooperação do Golfo, bem como do Egito, Jordânia e Iraque. Em discussão estarão o aumento da produção de petróleo, o cessar-fogo no Iémen e a limitação da influência do Irão no Médio Oriente e da China no panorama global.
Ideias “irrealistas” para reduzir emissões
Por outro lado, o príncipe herdeiro e governante de facto da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, avisou também este sábado que ideias irrealistas para reduzir as emissões de carbono podem levar a um aumento “sem precedentes” da inflação, já alta em muitos países.
A declaração de bin Salman foi feita enquanto o príncipe estava sentado ao lado do Presidente dos EUA, Joe Biden, que quer acelerar a transição para energia limpa. Mas, face ao aumento dos preços do petróleo devido à guerra na Ucrânia, pediu a Riade para aumentar a produção de petróleo como forma de reduzir os preços.
“A adoção de políticas irrealistas para reduzir as emissões (…) levará, nos próximos anos, a uma inflação sem precedentes e ao aumento dos preços da energia, ao aumento do desemprego e a outros graves problemas sociais e de segurança, como pobreza, fome, extremismo e terrorismo”, referiu bin Salman.
A adoção de políticas irrealistas para reduzir as emissões levará, nos próximos anos, a uma inflação sem precedentes e ao aumento dos preços da energia, ao aumento do desemprego e a outros graves problemas sociais e de segurança.
O príncipe herdeiro secundou o argumento de Riade sobre a impossibilidade de fazer uma transição energética sustentável deixando de lado algumas “fontes fundamentais de energia”, como o petróleo e o gás natural, e a necessidade de que o processo de mudança seja gradual.
Bin Salman reafirmou “a importância” de continuar a bombear petróleo enquanto se investe em tecnologias limpas durante as próximas duas décadas para responder às crescentes necessidades globais. Além disso, considerou “necessário” tranquilizar os investidores de hidrocarbonetos e deixar claro que as políticas adotadas para uma transição de energia limpa não “ameaçarão os seus investimentos”.
A Arábia Saudita lidera a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e é o maior exportador mundial de petróleo bruto, embora nos últimos anos também tenha feito investimentos em energia limpa.
Joe Biden, por sua vez, está numa situação difícil, já que chegou à Casa Branca com a promessa de liderar a transição para energias limpas, tendo voltado a aderir ao Acordo Climático de Paris do qual os EUA saíram sob durante a administração de Donald Trump (2017-2021). No entanto, um ano e meio depois de assumir o poder, o Presidente não conseguiu ainda reduzir a dependência dos Estados Unidos dos hidrocarbonetos e, face à subida dos preços da gasolina, recorreu à Arábia Saudita para aumentar a produção de petróleo.
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