BRANDS' ECOSEGUROS Os velhos amigos do ESG

  • ECOSeguros + Innovarisk Underwriting
  • 21 Julho 2022

Os seguros são um agente catalisador da mudança em prol da sustentabilidade e do ESG. Mas como? Eduardo Félix, Responsável de Subscrição de Responsabilidades & Specialties da Innovarisk, explica.

Entre novas políticas, novos relatórios, muitas formações e fundos de investimento dedicados, o conceito ESG tem-se destacado no meio corporativo com uma velocidade impressionante.

ESG (environmental, social and corporate governance) corresponde a um conjunto de critérios adotados por cada empresa, que determinam padrões de atuação responsável, ética e sustentável. Impelido pela crescente atenção da sociedade para o tema da sustentabilidade, o conceito tem vindo a ganhar notoriedade e importância, tornando-o já muito pertinente para a capacidade de crescimento e de criação de lucros das empresas, e consequentemente muito relevante também para os investidores e para a sustentabilidade a longo prazo da própria empresa.

Eduardo Félix, Responsável de Subscrição de Responsabilidades & Specialties da Innovarisk.

O propósito nobre do ESG traz vantagens para todos, teoricamente, sejam operadores, investidores ou consumidores. Porém, a realidade tem mostrado que a qualidade e efetividade dos critérios definidos são difíceis de analisar e mais difíceis ainda de comprovar. Mesmo apesar de já existirem rankings de classificação para empresas, os pontos e critérios de avaliação ESG tendem a ser subjetivos, alterando-se naturalmente consoante o autor da análise, o seu objetivo e profundidade.

Ao mesmo tempo, como a pressão do ESG aumentou, as empresas ficaram com um prazo mais reduzido para implementarem (verdadeiramente) novas práticas de forma estruturada e o mercado com pouco tempo para as conseguir analisar e verificar, abrindo a porta ao chamado greenwashing. Nestes casos, o esforço das empresas focou-se numa transição de imagem e não de estrutura, isto é, na mudança da perceção do público em vez da mudança de atuação da empresa, criando uma ilusão de transparência que desvirtua os objetivos do ESG. As políticas que deveriam ser verdadeiros eixos de mudança assumem um caráter mais vago e em vez de ações a longo prazo são implementados mecanismos mais simples, como a alteração de logótipos ou a publicitação de certas iniciativas mais emblemáticas. Medidas que possivelmente serão eficazes a curto prazo e poderão aumentar a legitimidade da empresa percebida pelo mercado, mas que são certamente menos relevantes a longo prazo.

O greenwashing empresarial não é um fenómeno novo e já existe como prática de marketing há vários anos, mas a atenção às práticas ESG e a pressão da transição para um futuro mais sustentável vieram dar-lhe mais relevância. Um investidor, um parceiro ou mesmo um consumidor que estejam interessados em favorecer empresas com boas práticas ESG deparam-se com a dificuldade de conseguir diferenciar as empresas que são das empresas que parecem ser, sobretudo porque que as suas possibilidades de avaliação são ainda limitadas. E neste campo, na diferenciação das empresas e na capacidade de avaliação das suas práticas, o mercado dos seguros poderá ter um papel importante.

"Tal como numa avaliação ESG, os seguros exigem processos corporativos transparentes, assentes em boas práticas e na minimização de risco da atividade; e tal como no âmbito ESG, quanto mais determinada for a ação da empresa no sentido da ética e sustentabilidade, maior será o seu retorno financeiro.”

Eduardo Félix

Responsável de subscrição de Responsabilidade e Specialties da Innovarisk

Como foi referido há dias noutro artigo do ECOSeguros, os seguros terão necessariamente um papel ativo no tema ESG. Para cumprir os seus próprios objetivos, os seguradores terão de ter outra atenção e outra exigência para com os operadores, tal como os agentes terão de desempenhar um papel formativo junto dos seus clientes. Não obstante, para além deste papel mais institucional, os seguros são – e têm sido já há algum tempo – um agente catalisador da mudança em prol da sustentabilidade e do conceito ESG.

Tal como numa avaliação ESG, os seguros exigem processos corporativos transparentes, assentes em boas práticas e na minimização de risco da atividade; e tal como no âmbito ESG, quanto mais determinada for a ação da empresa no sentido da ética e sustentabilidade, maior será o seu retorno financeiro. A própria preocupação da empresa em ter um seguro ajustado às suas necessidades e responsabilidades é um aspeto positivo de ESG e significa, para os investidores, que pelo menos uma parte da atividade da empresa teve uma avaliação realizada de acordo com critérios consistentes e que foi concluída com sucesso.

Para o subscritor que analisa uma cobertura de responsabilidade ambiental, são mais relevantes as medidas efetivas de controlo e mitigação do risco do que a política ambiental definida nos valores da empresa. Em regra, uma atividade que consubstancie ameaças a recursos naturais por negligência do operador não será garantida num seguro. Para o subscritor D&O, mesmo perante uma extensa política corporativa de direitos dos colaboradores, é a frequência de litigância que é preponderante para a subscrição do seguro. Para quem subscreve seguros de responsabilidade civil, profissional ou de exploração, o caráter mais ou menos ético da atuação da empresa é certamente um fator significativo na análise do risco associado.

Mesmo que no futuro a atenção aos fatores ESG venha por si só a determinar a impossibilidade de subscrição de um seguro, as práticas tradicionais da subscrição de seguros oferecem já hoje um contributo muito positivo para a sustentabilidade, avaliando a exposição social, ambiental e organizacional dos operadores e incentivando-os a controlar os seus riscos da melhor forma possível. Inversamente, a inexistência de seguros configura um sinal de alerta para o mercado e pode por isso acarretar uma dupla penalização para os operadores, que diminuem o seu valor percebido ao mesmo tempo que aumentam a exposição ao risco.

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