Filha de Eduardo dos Santos pede funeral “organizado com o devido tempo”

  • Lusa
  • 20 Agosto 2022

Tchizé dos Santos apelou este sábado a um funeral do pai "organizado com o devido tempo" e reiterou que avalia uma queixa nas instâncias europeias por violação de Direitos Humanos.

Um das filhas do ex-Presidente de Angola José Eduardo dos Santos apelou este sábado a um funeral do pai “organizado com o devido tempo” e reiterou que avalia uma queixa nas instâncias europeias por violação de Direitos Humanos.

Através de um comunicado dos seus advogados, Tchizé dos Santos, uma dos cinco filhos de José Eduardo dos Santos que disputava a custódia do corpo do ex-Presidente na justiça, diz ter tido conhecimento esta manhã, através de imagens emitidas pela televisão pública angolana, que o corpo do seu pai tinha sido entregue à viúva, Ana Paula dos Santos.

O corpo foi entregue a Ana Paula dos Santos em Barcelona, Espanha, onde José Eduardo dos Santos morreu, e segundo o Governo de Angola, o cadáver chega este sábado a Luanda, para o funeral, cuja data ainda se desconhece.

“Por causa desta situação”, Tchizé dos Santos e quatro dos seus irmãos “não puderam despedir-se do seu pai”, pelo que a filha do ex-Presidente de Angola afirma que, “quando se esclarecer o ocorrido, avaliará se houve uma violação dos seus Direitos Humanos e dos seus irmãos”, lê-se no mesmo comunicado.

A advogada Carmen Varela, que representa Tchizé dos Santos, já havia dito este sábado à Lusa que os cinco filhos mais velhos de José Eduardo dos Santos desconheciam que o corpo do pai já tinha sido entregue à viúva, ponderando agora queixar-se ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.

Tchizé dos Santos e os irmãos haviam apresentado recursos da decisão de quarta-feira do tribunal de Barcelona de entregar o corpo a Ana Paula dos Santos e de permitir a trasladação para Angola.

Segundo os advogados de Tchizé dos Santos, apesar de um recurso ter sido rejeitado e um segundo não ter efeitos suspensivos dessa decisão judicial, estava pendente uma resposta ao pedido de realização do funeral em Barcelona, para permitir a presença de todos os filhos do ex-Presidente, uma vez que os cinco mais velhos invocaram que não podem deslocar-se a Angola por considerarem que isso representa um risco para as suas vidas.

No comunicado divulgado este sábado pelos advogados de Tchzié dos Santos, é dito que a viúva do ex-Presidente trasladou o corpo para Angola sem responder a esta questão do tribunal sobre a possibilidade de o funeral ser em Barcelona.

Nas redes sociais, Tchizé dos Santos, depois de se saber que o corpo do pai estava a caminho de Angola, apelou hoje ao voto dos angolanos nas eleições presidenciais de 24 de agosto no candidato Adalberto da Costa Júnior, da UNITA, na oposição, para isso permitir “de facto” uma “homenagem de Estado à altura” a José Eduardo dos Santos.

Tchizé dos Santos pede um funeral “organizado com o devido tempo, tal como está a fazer o Japão, que previu e anunciou mais de dois meses e meio para a organização do funeral de Estado do seu antigo primeiro-ministro [Shinzo Abe], falecido no mesmo dia que JES [José Eduardo dos Santos]”.

Neste tipo de funeral deve haver condições para que possa participar toda a sua família, chefes de Estado vindos de todo o mundo, dos quais vários já manifestaram publicamente a intenção de prestar a dos Santos uma última homenagem e é isto que os angolanos de boa fé de facto merecemos e queremos e não a vergonha mundial a que nos expõe o chefe de governo de Angola [João Lourenço] ao usar o cadáver do seu antecessor como ferramenta de campanha política e/ou de cobertura da fraude eleitoral”, acrescentou Tchizé dos Santos.

A filha de José Eduardo dos Santos considera que nos próximos dias haverá um “teatro fúnebre-eleitoral”, em que “as ‘feiticeiras’ e o ‘bruxo'” vão usar o corpo do antigo chefe de Estado “de forma hedionda e repugnante”.

Também a empresária Isabel dos Santos, outra das filhas de José Eduardo dos Santos, lamentou este sábado a trasladação do corpo do pai para Angola com uma publicação nas redes sociais em que escreveu que não poderá levar o ex-Presidente angolano à “última morada” por o terem “arrancado” dos seus braços.

Duas fações da família dos Santos disputavam, na Vara de Família do Tribunal Civil da Catalunha, quem ficaria com a guarda do corpo de José Eduardo dos Santos.

De um lado, estava Tchizé dos Santos e os irmãos mais velhos, que se opunham à entrega dos restos mortais à ex-primeira-dama e eram contra a realização de um funeral de Estado antes das eleições de 24 de agosto para evitar aproveitamentos políticos.

Do outro, estava a viúva Ana Paula dos Santos e os seus três filhos em comum com José Eduardo dos Santos, que reivindicavam também o corpo e queriam que fosse enterrado em Angola.

Na quarta-feira, o tribunal decidiu-se pela atribuição do cadáver à antiga mulher e autorizou a trasladação para Angola, depois de concluir definitivamente que José Eduardo dos Santos morreu de causas naturais.

Funeral de Eduardo dos Santos deve ser no dia 28, diz MPLA

O porta-voz do MPLA, Rui Falcão, admitiu este sábado que o funeral de Jose Eduardo dos Santos deve realizar-se em Luanda no dia 28 de agosto, coincidindo com a data do seu aniversário, e afirmou que “as filhas andaram distraídas”.

Foi esta a justificação avançada pelo responsável do MPLA para explicar o facto de os filhos mais velhos do ex-Presidente se terem este sábado queixado de não terem sido avisados de que o tribunal tinha dado autorização para a transladação do corpo de José Eduardo dos Santos, que morreu a 08 de julho em Barcelona, para Luanda.

As filhas andaram distraídas (…) estavam na praia, estavam a fazer desfiles de moda, etc.”, comentou o dirigente, indicando que vão ser feitos os “atos públicos que se impõem”, tal como o velório realizado em junho, agora na presença do corpo.

Questionado sobre se as filhas, nomeadamente Isabel dos Santos, a braços com a justiça angolana poderão vir ao funeral, replicou: “se não devem nada ao Estado, por que não? Se têm algum problema com a justiça, elas que o resolvam, nós temos de tratar o ex-Presidente da República como ele merece.

Rui Falcão falava aos jornalistas após um enorme comício – o último do candidato do MPLA, João Lourenço, para mobilizar os seus apoiantes e convencer o eleitorado que “a força do povo” continua a estar com o partido que governa Angola desde a independência, em 1975. “Temos eleições no dia 24 de agosto e o MPLA vai vencê-las, isso para nós é o mais importante. Depois das eleições vamos fazer o ato que ele merece”, declarou com visível satisfação.

Sobre a chegada do corpo hoje, data que em que o atual Presidente da República, João Lourenço, que se recandidata a um novo mandato fez o comício de encerramento da campanha, sublinhou que o partido não dita o calendário da justiça espanhola. “A justiça espanhola decidiu neste quadro e nós tivemos de tomar a decisão de Estado que se impunha, por isso o corpo vai chegar daqui a pouco”, afirmou.

Admitiu que o funeral será “provavelmente” no dia 28 de agosto, rejeitando aproveitamento político da situação.

“Se quiséssemos fazer aproveitamento político faríamos agora, esta mole humana que está aqui respeita o Jose Eduardo dos Santos como sempre respeitou”, frisou o porta-voz do MPLA, apontando a multidão de militantes que hoje se deslocaram ao recinto do Camama para ouvir João Lourenço que, optou no seu discurso, por não fazer qualquer referência ao seu antecessor no cargo. “Quem não respeita é a família”, acrescentou Rui Falcão.

(Notícia atualizada às 17h21 com as declarações do porta-voz do MPLA)

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