Guterres diz que falta de acordo em conferência nuclear traz ameaças à segurança coletiva
O secretário-geral das Nações Unidas afirma que "o risco crescente de utilização de armas nucleares por acidente ou erro de cálculo exige uma ação urgente e decisiva”.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, mostrou-se hoje dececionado com o fracasso da conferência de revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), que terminou na sexta-feira sem acordo devido às objeções russas, apontando que a falta de consenso ameaça a segurança coletiva.
“Embora o secretário-geral se congratule com o compromisso sincero e significativo das partes no TNP e com o facto de a conferência ter reconhecido o tratado como a ‘pedra angular’ do regime global de desarmamento e não-proliferação, lamenta que este não tenha conseguido enfrentar os desafios prementes que se avizinham, que ameaçam a nossa segurança coletiva”, afirmou o porta-voz de Guterres num comunicado.
O secretário-geral da ONU salientou ainda que o atual contexto internacional e “o risco crescente de utilização de armas nucleares por acidente ou erro de cálculo exige uma ação urgente e decisiva”.
“Um mundo livre de armas nucleares continua a ser a principal prioridade de desarmamento das Nações Unidas e um objetivo em que o secretário-geral continua firmemente empenhado”, acrescentou o porta-voz.
No final de quase um mês de discussões, e depois de várias horas de prolongado debate em busca de um consenso, a conferência encerrou na sexta-feira sem a adoção do documento final devido às objeções russas.
A Rússia bloqueou o acordo na 10.ª conferência de revisão do tratado, sobretudo em questões ligadas à invasão da Ucrânia e à ocupação da central nuclear de Zaporíjia.
A delegação de Moscovo foi a única a tomar a palavra na sessão final para se opor ao último projeto apresentado pelo presidente da conferência, o argentino Gustavo Zlauvinen, e que os restantes 191 signatários do TNP estavam dispostos a aceitar.
A Rússia alegou que, de todo o extenso documento, só tinha problemas com cinco parágrafos por considerar “serem politizados”.
Apesar de a delegação russa não ter indicado quais, fontes diplomáticas disseram que as divergências, surgidas nas últimas horas, centraram-se nas referências à situação na central nuclear ucraniana em Zaporíjia e na necessidade de o controlo ser devolvido às autoridades competentes.
Esta central, a maior da Europa, foi tomada pelas tropas russas no início da guerra e nos últimos dias tem sido alvo de repetidos ataques, dos quais Moscovo e Kiev se acusam mutuamente, que suscitaram alarmes sobre um possível desastre.
A ampla declaração final negociada como conclusão da conferência reviu a implementação do TNP e estabeleceu prioridades para o futuro, numa altura em que a ONU advertiu que o risco de conflito nuclear está no ponto mais alto em décadas.
Embora a guerra na Ucrânia tenha tornado esta reunião particularmente complicada, não é a primeira vez que a revisão periódica do TNP é encerrada sem consenso, como aconteceu na última edição, realizada há sete anos.
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