Quase 50 mil alunos colocados na primeira fase do acesso ao ensino superior

  • Lusa
  • 11 Setembro 2022

Só 19% dos candidatos não obtiveram colocação na primeira fase de acesso ao ensino superior. Metade assegurou lugar na primeira escolha e 82% conseguiu vaga numa das três primeiras opções.

Quase 50 mil alunos conseguiram entrar para o ensino superior na primeira fase do concurso nacional de acesso, em que só 19% dos candidatos não obtiveram colocação, segundo os resultados hoje divulgados.

No total, são 49.806 novos estudantes no ensino superior público, o segundo maior número em 33 anos, superado apenas pelos quase 51 mil alunos que ficaram colocados na primeira fase do concurso em 2020.

Por outro lado, diminuiu o número de alunos que, para já, ficaram de fora: dos 61 mil candidatos, 11.701 não conseguiram ainda colocação numa universidade ou politécnico, o equivalente a 19%, menos quatro pontos percentuais face ao ano anterior.

Essa diminuição, escreve em comunicado o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, reflete “um crescente ajustamento entre a procura dos estudantes e a oferta das instituições”.

No dia em que, finalmente, os novos caloiros ficam a conhecer o seu futuro, as notícias não poderiam ser melhores para cerca de metade dos candidatos, que asseguraram um lugar na sua primeira escolha, e um total de 82% conseguiu vaga numa das três primeiras opções.

Em linha com as expectativas e objetivos do Governo, houve algumas áreas em que o número de estudantes colocados aumentou comparativamente a 2021. Por exemplo, os cursos com maior concentração de alunos de excelência vão receber, para já, 4.911 novos estudantes (mais 2%) e no caso das competências digitais, ciências de dados e engenharias aeroespaciais o aumento é de 9%.

As licenciaturas de Educação Básica também recuperaram face aos anos anteriores, com um total de 727 alunos colocados e mais 14% em relação a 2021.

Para todas estas áreas, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior tinha aberto a possibilidade de as instituições aumentarem o número de lugares disponíveis, à semelhança dos cursos previstos nas candidaturas aos programas Impulso Jovens STEAM e apoiados, nesse âmbito, pelo Plano de Recuperação e Resiliência.

São 72 licenciaturas em que, para já, entraram 3.383 novos alunos, registando uma taxa de ocupação média de 94% e que no caso de 53 cursos chegou mesmo aos 100%, incluindo 16 das 22 novas ofertas nestas áreas.

Há também mais alunos nas instituições localizadas em regiões com menor densidade populacional, onde foram colocados 13.351 novos caloiros. O número de colocados aumentou, por exemplo, nas universidades da Beira Interior, Évora e Trás-os-Montes e em vários institutos politécnicos do interior do país.

“O relevante crescimento dos colocados em instituições do interior, bem como o aumento dos candidatos em primeira opção para essas instituições, confirma a importância que os estímulos atribuídos à fixação naquelas regiões está a surtir”, sublinha o ministério.

Dos resultados do concurso deste ano, destaca-se o maior número de sempre de colocados através do contingente especial para estudantes com deficiência: 381 alunos, mais 66 do que em 2021.

Foram ainda colocados 489 estudantes emigrantes e lusodescendentes, crescendo 16% face ao ano anterior, quando tinham sido colocados 419 candidatos.

Para a primeira fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior foram disponibilizadas 54.641 vagas, incluindo cerca de mil vagas adicionais incluídas no concurso na sequência de um despacho da tutela para responder ao elevado número de candidatos.

Desse total, sobram agora 5.284 vagas para a segunda fase, que arranca na segunda-feira e termina a 23 de setembro. Os resultados serão depois conhecidos no dia 30 de setembro.

Instituições pressionadas em contexto de inflação

O Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup) “vê com muita satisfação” os resultados do concurso nacional de acesso, mas está preocupado com os efeitos da inflação nos orçamentos das instituições e pede uma “ação enérgica” de apoio ao Governo.

Em declarações à Lusa, a presidente do SNESup, Mariana Gaio Alves, olha para os resultados como “um sinal muito positivo da valorização que os jovens atribuem à formação de nível superior”, mas tem preocupações inerentes. A principal este ano é o peso da inflação, dado o contexto generalizado de aumento de preços, o que necessariamente tem consequências nos orçamentos das instituições, que “vão estar ainda mais sobre pressão”.

“O dinheiro que é transferido do Orçamento do Estado não chega já há vários anos para cobrir sequer os salários dos professores e dos outros profissionais que trabalham nas instituições e naturalmente estão ainda mais sobrecarregados este ano com os preços a aumentar, designadamente, as despesas de água e de luz e tudo isso”, disse a presidente do sindicato.

Face ao contexto, o que Mariana Gaio Alves espera é “uma ação enérgica da parte do Governo com medidas de apoio relativamente às condições de trabalho dos professores do ensino superior e às condições em geral das instituições para acolher este número crescente de estudantes”.

“O Governo tem mesmo de olhar para este aspeto. Não basta aumentar as vagas e esperar que assim por uma espécie de artes mágicas tudo corra bem nas instituições, precisamos de garantir condições, efetivamente”, acrescentou.

Sublinhou que nos últimos três anos o número de caloiros colocados na 1.ª fase tem rondado os 50 mil, mas acrescenta que também tem aumentado o número de estudantes em mestrados e pós-graduações. “Nas contas que fizemos, nos últimos três anos existem mais 40 mil alunos a frequentar as universidades e politécnicos em Portugal e aquilo que nos preocupa é que não tem existido da parte do Governo e das instituições um investimento nas condições para acolher estes estudantes que estão a aumentar”, disse.

Mariana Gaio Alves aponta “falta de condições físicas” nas instituições, ao nível de salas de aula e equipamentos, mas também “falta de condições de trabalho dos professores” para trabalhar com estudantes “cada vez mais diversos”.

“Nós temos uma lógica de funcionamento nos últimos anos no ensino superior em que os professores são cada vez em maior número contratados a prazo e contratados a tempo parcial. Cerca de 42% dos professores, nos últimos dados disponíveis, estão contratados a prazo e a tempo parcial. E isto é uma situação que nos preocupa muito, porque dificulta o trabalho das instituições e de constituir equipas estáveis docentes para planearem as atividades de ensino, para acolherem os alunos, para prepararem as aulas e as avaliações”, referiu.

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