Airbus Atlantic admite duplicar investimento em Santo Tirso

Decisão só será tomada no próximo ano, mas CEO está "muito confiante" que vai voltar a investir na fábrica em Portugal. Até ao final de 2023 terá 250 trabalhadores.

Quando em 2020 a Airbus Atlantic decidiu comprar o terreno para a fábrica em Santo Tirso, quis o dobro da área necessária para a unidade que quando estiver concluída ocupará 20 mil metros quadrados e empregará 250 trabalhadores. O motivo é simples: o investimento em Portugal poderá duplicar nos próximos anos.

A informação foi adianta pelo CEO da Airbus Atlantic, Cédric Gautier, numa conferecence call com jornalistas na quinta-feira à tarde. “Estou muito confiante que vamos voltar a investir“, afirmou o responsável. A decisão final só será tomada no próximo ano, adiantou.

Cédric Gautier, CEO da Airbus Atlantic.

“A minha experiência dos nossos investimentos em Marrocos, na Tunísia e no Canadá é que eles foram, pelo menos, duplicados ou até mais, face ao inicialmente previsto. Uma grande razão é o crescimento da aviação comercial e o sucesso da Airbus e dos seus bons produtos”, justifica Cédric Gautier. Uma tendência que deverá prosseguir, com o construtor europeu a apontar para a venda de 75 A320 por mês em 2025.

“Vamos certamente precisar de investimento adicional. A questão é onde? Faremos um pouco por todo o lado, mas mais especificamente no lugar onde for mais interessante. Durante o próximo ano vamos tomar decisões sobre os novos investimentos e a Airbus Atlantic Portugal é um bom candidato. Já estávamos a antecipar isto, porque a terra que comprámos há dois anos corresponde à duplicação do investimento atual“, afirmou o CEO.

A fábrica de Santo Tirso começou a laborar ainda em 2020, mas a inauguração oficial só acontecerá na quarta-feira, com a presença do primeiro-ministro, devido à pandemia. Conta atualmente com 130 trabalhadores, incluindo pessoal em formação, e deverá chegar aos 150 nos próximos meses. Até ao final de 2023 serão 250 colaboradores, antecipa o responsável.

Fábrica da Airbus Atlantic em Santo Tirso.

Da unidade na Zona Industrial da Ermida saem secções e painéis de fuselagem para os aviões da família A320 e A350, para já da parte frontal e porta de carga, mas no futuro também para outras secções da estrutura das aeronaves. O investimento rondou os 40 milhões de euros.

Talento com custo competitivo e elogios à AICEP

Cédric Gautier enumerou os cinco principais motivos que levaram a então STELIA Aerospace a investir em Portugal e em particular no Norte. Começou por destacar “o dinamismo do país, da região, a inovação e empreendedorismo” e “a qualificação dos trabalhadores e o nível elevado das estruturas de formação“.

“Em aeronáutica precisamos, por razões de segurança, de pessoas altamente qualificadas. Ter uma pool de talento e disponibilidade de formação era muito importante para nós”, explicou. A que se junta “a competitividade dos custos de trabalho, que é uma vantagem-chave de Portugal“, considerou.

O quarto é a logística, que é algo cada vez mais importante, tendo em conta o contexto global. Portugal está muito bem localizado, perto de infraestruturas de transporte-chave, por estrada, mar e ar. E também perto da atual rota logística da Airbus Atlantic. Há uma clara sinergia”, explicou o responsável.

Por último, disse que “Portugal é um país amigo do investimento. Tem uma agência de promoção do investimento muito eficiente, a AICEP, que desde o primeiro dia nos deu um ótimo apoio para a construção do nosso projeto”.

O grupo Airbus está absolutamente convencido de que apesar de alguns problemas que possamos ter com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, as companhias aéreas continuam com vontade de investir para modernizar as frotas.

Cédric Gautier

CEO da Airbus Atlantic

A travagem da economia global devido à elevada inflação e à subida das taxas de juro não preocupa Cédric Gautier. “Quando se olha para os aeroportos e o nível de voos, ainda não estamos ao nível pré-pandemia. Em média, estamos 25% abaixo. Apesar disso, mesmo a este nível existe uma grande necessidade de as companhias adquirirem novos aviões. Têm de substituir as aeronaves por outras mais eficientes no consumo de combustível”, aponta.

“O grupo Airbus está absolutamente convencido de que apesar de alguns problemas que possamos ter com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, as companhias aéreas continuam com vontade de investir para modernizar as frotas”, acrescentou.

Compras de 65 milhões a fornecedores e crescimento de 25% ao ano

A Airbus compra 65 milhões a fornecedores em Portugal e o número deverá crescer cerca de 25% ao ano, antecipa o CEO da empresa que desenha e constrói peças para aeronaves e que além da casa-mãe tem como clientes a Bombardier, a ATR, a Embraer ou a Dassault Aviation. Lauak, Mecachrome, Critical Software e Caetano são alguns dos principais fornecedores em solo nacional.

Segundo a empresa, Portugal é já “um dos principais contribuintes para todos os programas da Airbus, desde montagens de aeronaves comerciais a quadros elétricos de helicópteros, até ao fabrico a montagem de compósitos”, gerando cerca de mil empregos diretos e mais de 4.000 indiretos. A atividade no país cresceu, em média, 16% nos últimos quatro anos.

A aposta no país traduziu-se também no lançamento, em 2021, do Airbus Global Business Services Center, em Lisboa, onde o grupo pretende concentrar todos os seus serviços partilhados, como finanças, recursos humanos, compras, tecnologias de informação, serviço a clientes, entre outros. Conta já com cerca de 300 colaboradores e a expectativa é que possa chegar aos 800 até 2025.

O objetivo passa por “desenvolver gradualmente uma forte competência no fabrico de aeroestruturas no norte do país, de forma a apoiar a sua competitividade e complementar a sua presença industrial global”, aponta.

A Airbus Atlantic foi criada em janeiro de 2022, juntando as unidades da Airbus em Nantes e Montoir-de-Bretagne com a STELIA Aerospace. A nova empresa reclama o segundo lugar mundial na construção de aeroestruturas e a liderança no fabrico de assentos para pilotos e assentos premium (primeira classe e classe executiva). Está presente em cinco países (França, Canadá, Marrocos, Tunísia e Portugal) e emprega 13 mil colaboradores, dos quais 10 mil em França.

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