Quiet Quitting: a versão 2.0 do Work-Life Balance

  • Pedro Pessoa
  • 26 Setembro 2022

Todos nós, em algum momento da nossa vida profissional, nos questionámos se era realmente necessário trabalhar tantas horas extra. Impõe-se uma velha máxima: Eficácia + Eficiência = Produtividade.

Corria o mês de julho quando o TikToker Zaid Khan, Engenheiro Informático de 24 anos a viver nos EUA, publicou um TikTok. Em 17 segundos, num banco do metropolitano, Zaid introduziu o termo “Quiet Quitting” explicando que não se trata de desistir do seu trabalho, mas sim, abandonar a ideia de trabalhar para além do que é suposto. Zaid aclarou a ideia afirmando que “continuas a desempenhar as tuas funções, mas já não subscreves a Hustle Culture que transforma o trabalho no teu centro vital”.

O vídeo tornou-se mundialmente viral e hoje, o Quiet Quitting assume-se como uma Super Nova no mundo do trabalho. Contudo, o conceito rapidamente ganhou diferentes interpretações, ganhando uma subjetividade fora do habitual.

O que é, afinal, o Quiet Quitting?

O conceito foi referido pela primeira vez em março de 2022, associado à área de IT&Tech nos EUA, e logo de seguida no Japão. Nos últimos anos, as culturas de trabalho Hustle Culture, nos EUA, e Shokunin, no Japão tornaram-se dominantes. Em termos simples, estas culturas assumem a produtividade no trabalho (Hustle Culture) e a perfeição na sua execução (Shokunin) como mandatório para se atingir o sucesso e concretização pessoal. Isto levou ao desenvolvimento de workaholics focados única e exclusivamente na sua concretização profissional.

É neste contexto — aliado à conjuntural condição pandémica — que o Quiet Quitting ganha força, procurando contrariar a Hustle Culture e o Shokunin, que haviam sido conduzidos ao extremo.

A pandemia Covid-19 – e a consequente conversão do contexto escritório em teletrabalho — conduziu à inflexão da cultura de trabalho. Pela primeira vez, as pessoas tiveram a oportunidade de parar e refletir. O conceito work-life balance conquista então um novo significado: é possível assegurar todas as dimensões (vida pessoal, social e profissional) bastando para isso, reposicionar a relevância do trabalho na sua vida. A ausência do contexto físico do escritório sem as conhecidas mordomias oferecidas pelas empresas de IT/Tech (oferta de snacks, acesso a atividades de lazer no espaço de trabalho), evidenciou a toxicidade do ambiente de trabalho e/ou das chefias em que estavam imersos.

Ao alienarem-se do ambiente de trabalho concluíram que não necessitavam de investir tanta energia e tempo para concretizar as tarefas/projetos. A partilha nas plataformas sociais levou a que os seus consumidores, maioritariamente Gen Z’s e Millennials contribuíssem para a sua viralização, tornando o Quiet Quitting uma tendência incontornável nos dias de hoje.

Será, então, o Quiet Quitting a versão 2.0 do Work-Life Balance?

A temática não é nova e há muito que ocupa a mesa de trabalho das áreas de People&Culture dos Departamentos de Recursos Humanos. Desde os anos 2010 que as empresas se focam em diferentes componentes capazes de influenciar o work-life balance e well-being dos seus colaboradores, começando na ergonomia e terminando em benefícios de diferentes tipologias. No entanto, o Quiet Quitting transcende tudo isso — há uma clara imposição de limites e correspondente reposicionamento da relação laboral por parte do colaborador. A muito estudada relação “indíviduo-organização” fica reduzida ao estrito cumprimento do contrato de trabalho.

Há quem se assuste com esta ideia, mas na realidade todos nós, em algum momento da nossa vida profissional, nos questionámos se era realmente necessário trabalhar tantas horas extra. Impõe-se uma velha máxima aprendida na universidade: Eficácia + Eficiência = Produtividade.

Talvez seja isso que o Quiet Quitting nos queira recordar, talvez não se trate de uma nova (e melhorada) versão do work-life balance, mas sim “o” conceito de work-life balance per si. Talvez o famoso TikTok de Zaid Khan espelhe um statement geracional que quer elevar a velha máxima a uma nova formulação: Eficácia + Eficiência = Produtividade = Work-Life Balance.

  • Pedro Pessoa
  • People Development Manager da Kelly

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