Economia global vai estagnar e Alemanha entra em recessão, prevê OCDE. “É o preço da guerra”
"É o preço da guerra", afirma Álvaro Santos Pereira ao ECO sobre as previsões para o G20. Economista-chefe da OCDE defende subida dos juros e alerta para riscos de estímulos orçamentais.
O ano de 2023 será de aterragem económica forçada para os países do G20 e respetivas regiões económicas, de acordo com as últimas previsões da OCDE. A Zona Euro vai passar de um crescimento económico de 3,1% em 2022 para uma estagnação no próximo ano (0,3%), pior do que que a anterior previsão, e a Alemanha vai mesmo entrar em recessão, com uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,7%.
A economia dos EUA vai abrandar dos 1,5% este ano para 0,5% em 2023, enquanto a China, uma exceção, vai recuperar do crescimento anémico em 2022 (3,2%) para 4,7% no próximo ano, um valor ainda assim historicamente baixo para a economia chinesa. É o “preço da guerra“, afirma ao ECO, em exclusivo, o diretor da organização, Álvaro Santos Pereira, agora a desempenhar as funções de economista-chefe.
“O que a guerra veio fazer foi, primeiro, exacerbar os problemas de inflação, a inflação tornou-se muito mais alta em muitos países, principalmente por causa dos preços de energia, claramente um dos um dos pontos que mais realçamos nestas previsões“, afirma o economista e diretor da OCDE.
O cenário central da OCDE para as economias do G20 em 2023 é, assim, de abrandamento económico generalizado. Nas previsões para o próximo ano, a organização com sede em Paris aponta para um crescimento do PIB mundial de 2,2%, uma revisão superior a 0,3 décimas face à anterior projeção, depois de uma variação positiva de 3% este ano, enquanto as economias do G20 passam de um crescimento do PIB de 2,8% este ano para 2,2% em 2023, um valor que é considerado na prática uma recessão, tendo em conta a evolução demográfica deste conjunto de países.
“Estamos a falar de uma revisão em baixa bastante acentuada do crescimento de quase todas as economias e uma revisão em alta da inflação. Portanto, é um cenário difícil que vai ter um impacto, certamente, no desemprego em muitos países. E este é o cenário central. Se falarmos num cenário menos favorável, então os números ainda serão piores”, afirma Santos Pereira ao ECO.
As previsões económicas da OCDE para o G20
Este é assim o cenário central, mas há um conjunto de riscos que poderá levar a OCDE a rever estas previsões em baixa. Em primeiro lugar, a inflação vai permanecer elevada em 2023, porque o contágio dos preços da energia e alimentação a outros produtos e serviços é evidente.
Neste contexto, a equipa de Álvaro Santos Pereira identifica os seguintes riscos: por um lado, poderá haver falhas de fornecimento de gás na Europa a não ser que se verifique mesmo uma redução do consumo e, neste quadro, novas disrupções de energia terão consequências no crescimento e na aceleração da inflação; por outro lado, a evolução da economia chinesa é incerta e enfrenta, ela própria, riscos, como a ‘bolha’ imobiliária e o nível de dívida elevado das empresas; finalmente, os constrangimentos das cadeias logísticas são menores agora, mas continuam a ser relevantes.
A OCDE defende, de forma clara, a estratégia seguida agora pelos bancos centrais de subida dos juros para travar a inflação. E aponta mesmo para uma subida dos juros do BCE para 4% em 2023, deixando um aviso aos governos. A política orçamental deve ser compatível com este objetivo de redução da inflação, por isso, os apoios públicos devem ser temporários e canalizados para grupos sociais específicos.
“A política monetária tem de ser restritiva, temos de subir os juros porque só assim vamos conseguir diminuir o consumo, o investimento e também outras áreas da economia para abrandar o ritmo de crescimento da inflação. Por outro lado, é importante realçar que não podem ser só os bancos centrais a fazer o ajustamento. É fundamental que a política fiscal contribua e ande na mesma direção da política monetária…”, insiste.
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