Teletrabalho obriga empresas portuguesas a aumentar gastos com inovação
Efeitos da pandemia pressionam subida do investimento em atividades de inovação, sobretudo ao nível dos processos. Empresas grandes e de Lisboa foram as que mais gastaram nesta área entre 2018 e 2020.
Quase metade (48%) das empresas portuguesas reportou atividades de inovação entre 2018-2020, o que compara com uma percentagem de 32,4% no triénio anterior. Este crescimento assentou sobretudo nas alterações ao nível dos processos, registadas por 42,3% das inquiridas, uma vez que as novidades no produto até baixaram ligeiramente para 22,3% no período em análise, que culminou no primeiro ano da pandemia.
Ora, de acordo com o INE, há “fortes indícios” de que este aumento na inovação de processo esteja associado precisamente ao impacto da Covid-19. “Nomeadamente, à implementação do teletrabalho e consequente investimento em tecnologia e equipamentos que o viabilizassem, ao ajustamento dos canais de comunicação (incluindo a implementação de vendas online) e genericamente à adaptação de processos e procedimentos relacionados com a adoção do teletrabalho e a contactos não presenciais, para assegurar a continuidade de negócio”, detalha.
Os resultados do Inquérito Comunitário à Inovação, divulgados esta terça-feira, mostram que é entre as sociedades com mais de 250 trabalhadores que há maior percentagem de inovação empresarial (79,8%). Por atividade económica, destacam-se os setores da informação e comunicação (75,5%) e das atividades financeiras e de seguros (68,4%). E considerando a localização geográfica, as empresas sediadas na Área Metropolitana de Lisboa representaram 43,3% da despesa total com estas atividades de inovação, que atingiu 2.735,8 milhões de euros em 2020.
As empresas auscultadas pelo INE calculam ainda que 14% da sua faturação tenha resultado da introdução de produtos novos ou melhorados no mercado. E 24% reclama igualmente que essas inovações tiveram “algum tipo de benefício ambiental”, com destaque para os relacionados com a reciclagem de lixo, água ou materiais para consumo próprio ou venda, assim como a “reciclagem facilitada do produto após a sua utilização”. Uma em cada dez admite que, nessa tomada de decisão sustentável, a melhoria da reputação da empresa teve um “alto grau de importância”.
Pouca cooperação e leis sem importância na inovação
Um dos grandes temas associados à inovação empresarial em Portugal prende-se com a fraca colaboração entre as próprias empresas e destas com o chamado sistema científico e tecnológico. Este estudo mostra precisamente que, no período em análise, só 4,2% das empresas cooperaram com outras empresas ou organizações em atividades de Investigação e Desenvolvimento (I&D) e 3,6% noutras atividades de inovação. Como parceiros privilegiados mantiveram-se os fornecedores de equipamento, materiais, componentes ou software, e os consultores, laboratórios comerciais ou institutos de investigação privados.
Neste triénio, 8,4% registou uma marca, 3% utilizou segredos comerciais, 1,8% requereu uma patente e 1,2% um direito de autor (-0,4 p.p., +0,2 p.p. e -0,8 p.p. e +9,2 p.p. face a 2016-2018, respetivamente). E como é que as empresas financiam a inovação? “No mesmo período, 1,3% e 16,6% das empresas eram inovadoras e obtiveram financiamento através de, respetivamente, equity finance e debt finance. Cerca de 11,2% das empresas eram inovadoras e receberam apoio financeiro público e 4,8% utilizaram apoio público em I&D ou em outras atividades de inovação. Ainda 5,3% do total das empresas utilizaram incentivos fiscais ou subsídios para I&D ou outras atividades de inovação”, lê-se no destaque publicado pelo INE.
Por outro lado, estes resultados revelam que, para as empresas em Portugal, a natureza da legislação ou a regulamentação existente no país não influenciou ou não foi relevante para as atividades de inovação da empresa. Ainda assim, como influência positiva identificaram o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) e, no sentido oposto, foram os impostos cobrados pelo Fisco que mais impediram, dificultaram ou aumentaram os custos das atividades de inovação.
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