Líder da indústria têxtil antecipa “enorme purga” no setor
Mário Jorge Machado avisa que “atual cenário de crise profunda ainda vai piorar antes de melhorar”, dramatizando impactos nos custos do gás natural e matérias-primas, nas taxas de juro e no consumo.
Depois de dois anos em que a pandemia dominou as atenções da indústria têxtil e do vestuário, forçando-a a “reinventar os negócios de forma a sobreviver”, as empresas do setor enfrentam agora as “consequências trágicas” da guerra na Europa que têm um “impacto profundo” na indústria, ao nível das cadeias de abastecimento e distribuição, dos custos da energia, da inflação ou da subida das taxas de juro, além da queda no consumo que aí vem.
“Este é o cenário de crise profunda em que vivemos e, infelizmente, estamos certos de que ainda vai piorar antes de melhorar. Pelos cenários semelhantes que vivenciámos no passado, sabemos que vai causar uma enorme purga nos negócios, permitindo apenas aos mais capazes sobreviver”, resumiu Mário Jorge Machado, reeleito presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) até 2024.
Algumas empresas não vão ser capazes de sobreviver. Vão ser tempos difíceis para todos.
Na abertura da convenção europeia do setor, que arrancou esta quinta-feira num hotel do Porto, o porta-voz da indústria nacional advertiu que a Europa não pode ficar “novamente refém de cadeias produtivas extensas e de dependências difíceis de substituir”, apontado à reindustrialização e ao reshoring de atividades económicas no Velho Continente. Uma lição que veio da pandemia e “aprofundada” pela guerra na Ucrânia, sobretudo pela “perigosa dependência” do gás russo.
“Algumas empresas não vão ser capazes de sobreviver. Vão ser tempos difíceis para todos. (…) Se não apoiarmos as empresas no custo do gás natural, de forma efetiva, elas vão continuar a ser atingidas fortemente e muitas podem desaparecer. Isto seria uma vitória para o Sr. Putin, que está a usar o gás como arma económica. Temos de encontrar soluções para que esta situação não seja uma realidade”, acrescentou o presidente da ATP, sediada em Vila Nova de Famalicão (distrito de Braga).
Outro tema no qual Mário Jorge Machado insistiu, neste evento que coincide com o habitual fórum anual do têxtil português, foi a “compatibilização da sustentabilidade – ambiental, social e económica – com a necessidade indispensável de a indústria manter a sua competitividade”. Orientada às novas necessidades do mercado, mas sem prejudicar o ambiente, a renovação dos recursos naturais e o “respeito pelos mais básicos direitos humanos e sociais, que terão de ser o padrão universal no comércio internacional”.
Pressão têxtil em Bruxelas
Alberto Paccanelli, presidente da Euratex, advertiu igualmente para esse “balanceamento entre competitividade e sustentabilidade”. E alertou que, ao contrário das crises anteriores, como a decorrente da pandemia, esta “crise energética não coloca todos no mesmo pé”, numa comparação com os competidores de fora da União Europeia, como a Turquia.
“Pedimos à Comissão Europeia medidas como um teto para o preço do gás ou mais apoios às empresas, mas a resposta até agora deixou-nos desapontados”, reconheceu, na abertura da convenção, o líder da confederação patronal da indústria têxtil e do vestuário, que tem sede em Bruxelas. O setor emprega cerca de 1,2 milhões de trabalhadores em toda a Europa.
A ATP aproveitou ainda esta convenção da Euratex para apresentar a nova revista “The Green Materials From Portugal”, enquadrada no projeto Sustainable Fashion From Portugal. Esta publicação, explica a associação empresarial, tem como objetivo destacar os materiais e processos sustentáveis desenvolvidos pelo setor têxtil e vestuário nacional, como diferentes fibras e processos de reciclagem e de tingimento natural.
No local do evento, um hotel de luxo localizado na Avenida da Boavista, no Porto, vão estar também em exposição as inovações de várias empresas nacionais, como a Acatel, Albano Morgado, Burel Factory, Lemar, LMA, RDD, Tintex Textiles e Troficolor. Um showcase a que se juntou igualmente um hub criativo formado por jovens designers portugueses.
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