Fábricas turcas ocupam montra da indústria têxtil portuguesa
Mais de uma dezena de empresas da Turquia, um dos principais concorrentes da indústria portuguesa do têxtil e do vestuário, compraram stands para expor na feira Modtissimo, ao lado da oferta nacional.
Com pequenos galhardetes de Portugal e da Turquia entrelaçados em cima das mesas e concentrados no corredor mais à esquerda do pavilhão 5 da Exponor, em Matosinhos, os stands da extensa delegação turca, que ultrapassou uma dezena de expositores, foram uma das surpresas da 60ª edição do Modtíssimo, o mais antigo salão têxtil da Península Ibérica e que reclama o estatuto de único em Portugal dedicado à fileira do têxtil e vestuário.
Naquela que é considerada a principal montra deste setor em solo nacional – a edição que terminou esta quarta-feira contou com um total de 240 expositores, dos quais apenas 16 oriundos do estrangeiro –, o reforço da presença das empresas turcas, uma das principais concorrentes da indústria nacional, é encarado por Manuel Serrão como uma forma de internacionalização do próprio evento. “E não vêm todos os que querem. Gostariam de vir mais ainda, mas temos um teto”, disse ao ECO o porta-voz da organização.
“Dos turcos que que estão aqui, há alguns que são uma concorrência mais direta, mas isso é a vida – na Première Vision [feira para profissionais de moda organizada em Paris] estão 160. Mas a maioria tem produções complementares, como nos bordados ou alguns tecidos, em segmentos em que Portugal não é competitivo”, descreve o CEO da Associação Selectiva Moda, notando que o interesse por parte desta origem tem crescido nas últimas três edições e que já há algumas parcerias entre empresas dos dois países, como é o caso da Antik Dantel na área das malhas com a LMA, de Santo Tirso.
Por que escolhem vir a este evento em Portugal? “Por um lado, acham que esta feira atrai agentes estrangeiros interessantes; mas estão essencialmente interessados nos compradores portugueses porque sabem que eles vêm ao Modtissimo com mais tempo e em maior número do que vão ao estrangeiro. Temos muitas confeções [nacionais] a visitar a feira para comprar tecidos, por exemplo”, responde Manuel Serrão, que lidera o “braço” da principal associação do setor (ATP) para a área da internacionalização.
Alguns turcos são concorrentes diretos, mas isso é a vida – na Première Vision estão 160. Mas a maioria tem produções complementares, como nos bordados ou alguns tecidos, em segmentos em que Portugal não é competitivo.
É o caso da Ugurteks, especializada no fabrico de tecidos e oriunda da cidade de Tekirdağ, no noroeste da Turquia, que tem a Inditex (dona da Zara) na lista de clientes e Espanha como melhor mercado. Ainda assim, o diretor de vendas e de marketing, Murat Gezgin, conta ao ECO que foi por sugestão da agente com que trabalham em Itália que veio pela primeira vez a esta feira no Norte de Portugal.
“Quando vendemos tecidos para Itália, por vezes eles compram diretamente e outras vezes pedem-nos para enviá-los para Portugal porque há aqui uma indústria de confeção. E também há algumas marcas portuguesas de vestuário que estamos interessados em fornecer. Esperamos que nos aceitem”, resume o gestor desta empresa turca, reclamando que são “mais baratos que os fabricantes de tecidos em Itália e a qualidade é tão boa como a deles”.
Recorde de compradores com regresso neerlandês
Mais de 350 coleções, com destaque para os tecidos e acessórios para confeção, estiveram em exposição na Exponor, num espaço com 9.500 metros quadrados – quase dois mil a mais do que na edição de fevereiro – e que, mesmo depois desse aumento de área, foram insuficientes para dar resposta à procura dos expositores. De acordo com a organização, o número de visitantes rondou os 4.000 durante os dois dias do evento.
À volta de 400 registaram-se como compradores estrangeiros, um novo máximo. Nesta fase pós-pandemia voltaram os japoneses, os americanos e os colombianos, embora o grosso dos potenciais clientes internacionais tenha chegado de países europeus, como Espanha, Áustria, Alemanha ou Países Baixos. Este último com o estatuto de país convidado e beneficiando da missão inversa com quase meia de centena de empresas neerlandesas que a Associação Empresarial de Portugal (AEP) fez coincidir com as datas da feira. Tiveram inclusive ali uma zona para reuniões rápidas com empresas do setor que não expuseram no Modtissimo.
“Os Países Baixos sempre foram um país interessante em termos de compradores, mas nos últimos anos tinham andado mais pela Ásia e agora estão a acompanhar a tendência do Norte da Europa e a fazer regressar uma parte da produção à Europa. Alguns eram clientes antigos, de há 20 anos, que com tudo o que está a acontecer – restrições da pandemia, prazos de entrega maiores, disparo dos preços dos contentores no transporte marítimo – querem salvaguardar-se com uma parte da produção na Europa, pelo menos”, resume Manuel Serrão.
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