Truss não acalma mercados: libra cai e juros da dívida agravam

Analistas esperavam uma inversão de marcha a 100% e ficaram desapontados com anúncio de reversão parcial do “mini-orçamento” que lançou o Reino Unido para o caos.

“U-turn” ou, em português, inversão de marcha. Era o que esperavam os analistas e investidores quando Liz Truss falou aos jornalistas ao início da tarde, já depois de ter afastado Kwasi Kwarteng do cargo de ministro das Finanças. Num esforço para recuperar a credibilidade, a primeira-ministra anunciou uma reversão parcial do “mini-orçamento” que lançou o Reino Unido no caos financeiro nas últimas semanas. Não foi o suficiente para tranquilizar os mercados.

A libra caiu contra o dólar esta sexta-feira, recuando cerca de 1,3% para 1,1183 dólares – nos últimos dias chegou a bater num mínimo de sempre nos 1,0327 dólares.

Libra em mínimos históricos

Fonte: Reuters

Já as obrigações do Tesouro a dez anos – as chamadas gilts – viram os juros agravarem 17 pontos base para os 4,371%, o valor mais elevado desde a crise financeira mundial, em 2008, já lá vão 14 anos.

O que anunciou Truss? Além de trocar o ministro das Finanças, com Kwarteng a sair do cargo apenas 38 dias depois de o ter assumido para dar lugar a Jeremy Hunt, a primeira-ministra britânica adiantou que o imposto sobre as empresas vai subir para 25%, deixando cair congelamento nos 19% que previa o plano inicial.

Juros das gilts disparam

Fonte: Reuters

Com isto, Truss, que admitiu que estava a ir “além e depressa demais” para o desejo dos mercados, garantirá uma receita fiscal adicional de 18 mil milhões de libras, mas vai ter de se esforçar mais para equilibrar as contas públicas e restaurar a calma dos mercados. Os analistas dizem que um plano credível terá de incluir medidas no valor de 60 mil milhões em cortes na despesa pública e aumentos de impostos.

“Fazer uma inversão de marcha forçada não dá realmente a impressão de que Liz Truss está a avançar com um plano de política confiável”, referiu Richard McGuire, chefe de estratégia de taxas do Rabobank, citado pela agência Reuters.

“Não vejo como essa conferência de imprensa terá feito muito para reforçar o apelo do Reino Unido em relação aos investidores estrangeiros. Vemos a fraqueza da libra esterlina… esperaria que as gilts e a libra permanecessem sob pressão daqui para frente”, acrescentou. Cresce agora a tensão em torno do Banco de Inglaterra, que disse que ia terminar as compras de emergência de obrigações esta sexta-feira.

Na véspera, a libra recuperou terreno com os investidores na expectativa de uma completa inversão de marcha em relação ao “malfadado” plano fiscal de Kwarteng e Truss, mas não foi isso que aconteceu.

“O mercado criou expectativas de que quase todo o mini-orçamento ia ser cancelado, quando vemos a inversão apenas na taxa de imposto sobre as empresas… foi um desapontamento”, sublinhou Michael Borw, da Caxton.

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