Medina: “Somos o país europeu mais afastado do conflito”

  • Lusa
  • 15 Outubro 2022

O ministro das Finanças esteve na reunião anual do FMI e defendeu que Portugal tem que se agarrar à sua "resiliência e força" para reduzir impactos da guerra na economia.

Apesar do ambiente geral de preocupação sentido nas reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI), o ministro das Finanças defendeu, em Washington, que Portugal tem que se agarrar à sua “resiliência e força” para reduzir os impactos na economia. “Nós somos o país europeu mais afastado do conflito. Somos um país com uma baixíssima dependência do gás natural, nomeadamente da Rússia, e com uma percentagem muito elevada de produção energética por energias renováveis, que ainda pode subir mais. Somos um país que tem hoje, felizmente, uma elevada taxa de emprego, ou seja, muitas pessoas estão a trabalhar e é difícil encontrar pessoas para trabalhar em muitos setores, e sabemos que o emprego é a base da coesão social“, disse, na sexta-feira, Fernando Medina, à margem da reunião anual do FMI.

O ministro das Finanças reconheceu o contexto difícil. “Há um ambiente geral na Europa de uma preocupação maior relativamente ao abrandamento e até a alguns trimestres de recessão em alguns países, que são países grandes, grandes economias, porque são mais atingidos por este choque: O choque do preço da energia, o choque da alteração das cadeias comerciais, nomeadamente com a China. E isso tem impacto no abrandamento geral da economia europeia“, disse, na sexta-feira, Fernando Medina, à margem da reunião anual do FMI.

Nos encontros que manteve na capital norte-americana, o governante insistiu que Portugal, apesar de não estar “de forma alguma imune a estas situações“, possuiu um “conjunto de resiliência, de forças, de diferenças” que vai tentar mobilizar para 2023. “Por isso, neste contexto, temos que nos agarrar a essas forças, num ano em que a inflação está a levar não só ao impacto nas famílias, mas à resposta do Banco Central Europeu, subindo os juros. Mas nós, se valorizarmos as nossas forças com as políticas corretas, que creio que são aquelas que definimos no Orçamento de Estado – melhorar os rendimentos, apoiar o investimento, continuar a diminuir a dívida pública -, poderemos, dentro do contexto muito exigente, encontrar respostas para minorar os impactos deste ano mais exigente sobre as famílias e sobre as empresas portuguesas“, defendeu.

São reuniões muito importantes que nos permitem uma troca de ideias muito profunda, muito atualizada, sobre aquilo que são as perspetivas do lado de cá do Atlântico e do lado europeu sobre os desenvolvimentos, com uma preocupação sobre o desenvolvimento da guerra.

Fernando Medina

As reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial decorrem, em Washington, até domingo. Na sexta-feira, a secretária do Tesouro norte-americana, Janet Yellen, reuniu com os ministros das Finanças do Eurogrupo, encontro no qual Medina esteve presente. E ainda na sexta-feira, o Departamento Europeu do FMI e a diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, relizaram um encontro conjunto.

O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, e o secretário-geral da ONU, António Guterres, também estiveram presentes, nesta sexta-feira, na reunião anual do FMI.

De acordo com o ministro português, a guerra da Rússia na Ucrânia tem sido um elemento marcante nestas reuniões, na medida em que estão a ser discutidas formas de desenhar políticas para mitigar os efeitos relativamente à inflação. “São reuniões muito importantes que nos permitem uma troca de ideias muito profunda, muito atualizada, sobre aquilo que são as perspetivas do lado de cá do Atlântico e do lado europeu sobre os desenvolvimentos, com uma preocupação sobre o desenvolvimento da guerra“, disse.

Medina evidenciou ainda uma preocupação grande com os países mais pobres e com as economias em desenvolvimento, que estão a sofrer de forma redobrada os impactos pela escassez de produtos alimentares e pelo aumento das pressões migratórias. Um apelo à unidade entre os dois lados do Atlântico na resposta à ameaça da Rússia a todo o continente.

O ministro português explicou ainda que teve reuniões com estruturas do Banco Mundial que trabalham com projetos a nível da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

“Trabalhámos – através da política da CPLP e de Portugal no âmbito da CPLP, em conjunto com o Banco Mundial -, para encontrar formas de obtermos mais recursos para poder apoiar essas economias em áreas críticas, sejam as áreas ambientais, seja nas áreas económicas, de apoio ao desenvolvimento e fortalecimento da economia. Em múltiplas áreas, Portugal e a CPLP, trabalhando com o Banco Mundial, podem construir melhores soluções”, acrescentou.

Isolamento face a sistema energético europeu tornou-se vantagem

O ministro das Finanças, Fernando Medina, defendeu ainda que o isolamento de Portugal e Espanha face ao sistema energético europeu, com cadeias de abastecimento próprias, transformou-se “numa vantagem”, depois de décadas a ser considerado “uma desvantagem”.

“Portugal e Espanha gozam de uma situação muito particular. É que durante décadas o nosso isolamento face ao sistema energético europeu foi um problema muito grave, e sê-lo-á também ainda no futuro, agora mais até prejudicial para a Europa do que para a Península Ibérica, na medida em que nós temos maior segurança de abastecimento”, disse à Lusa o ministro, na sexta-feira, em Washington, à margem das reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI).

“Agora, isso foi uma desvantagem e transformou-se numa vantagem, porque nos permitiu fazer a separação entre o preço do gás e o preço da eletricidade. A própria Europa ambiciona fazer isso para os restantes países. Portugal e Espanha já o estão a fazer e isso tem benefícios para os consumidores, seja domésticos, seja para as empresas”, argumentou.

Para o responsável, cada país deve adaptar os instrumentos ao seu dispor para “minorar os impactos da subida brutal dos preços da energia junto dos seus concidadãos e das suas empresas”.

O FMI e outras instituições defenderam que as medidas destinadas à poupança de energia devem passar, por exemplo, por transferências diretas e não por subsídios ou imposição de tetos de preços, como fez Portugal em conjunto com Espanha.

Na sede do FMI, na capital norte-americana, Medina lembrou que esta semana o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, anunciou um pacote de apoio à fatura energética das empresas, de três mil milhões de euros, previsto no acordo com os parceiros sociais assinado no domingo.

“O ministro do Ambiente teve a oportunidade de apresentar de forma detalhada o que será o novo apoio extraordinário ao sistema energético, no sentido da diminuição dos custos tarifários, seja relativamente aos consumidores domésticos, seja relativamente aos consumidores industriais, com grande ênfase nestes últimos, num sistema que irá receber uma injeção de cerca de três mil milhões de euros para que se possa, através da diminuição das tarifas de acesso à rede, diminuir, no fundo, a fatura que muitas empresas pagam e assim apoiarmos a manutenção do emprego e a manutenção da atividade em várias áreas”, declarou.

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