Constâncio recomenda ao BCE não seguir subida de juros da Fed
"Os bancos centrais podem obter recessão mais cavada, sem conseguir uma redução da inflação superior à que está prevista", alerta Vítor Constâncio, que recomenda prudência na subida dos juros.
O antigo vice-presidente do Banco Central Europeu considera que o regulador não deve acompanhar o nível de subida de juros levada a cabo pela Reserva Federal norte-americana. A política monetária deve evitar agravar a recessão que se aproxima, alerta Vítor Constâncio, no dia em que o banco central vai decidir uma nova subida jumbo da taxa diretora.
“O BCE não tem de seguir na mesma escala as decisões da Fed porque, tendo em conta o regime macroeconómico em vigor, vamos acentuar o enviesamento restritivo desse regime”, explicou Vítor Constâncio, numa conferência na Ordem do Economistas, na qual reconheceu que o seu pessimismo sobre a recessão que se aproxima se agravou. O responsável foi homenageado pelo Presidente da República, com o grande colar da Ordem do Infante D. Henrique pelo “cargo basilar nas instituições europeias” e “pela forma como inspirou, iluminou e influenciou com a sua visão de economista a intervenção do BCE num período crucial da nossa vida coletiva”.
Sugerindo que o pico da inflação já passou, o antigo governador do Banco de Portugal alerta para os efeitos que uma subida das taxas de juro podem ter na atividade económica. “Os bancos centrais têm de se preocupar com os níveis da atividade económica e com a estabilidade financeira, mas desta vez não dos bancos”, acrescentou.
Além disso recorda que à semelhança de episódios anteriores, a inflação importada — como é o caso da atual decorrente da guerra na Ucrânia e das quebras nas cadeias de abastecimento por efeitos da pandemia de Covid-19 — “é sempre passageira, embora haja incertezas relativamente à sua duração“. O antigo vice-presidente do BCE fez questão de sublinhar que os preços do gás, do petróleo e das matérias-primas já estão a começara a baixar e isso acabará por se refletir na taxa de inflação.
Vítor Constâncio considera que os bancos centrais deveriam ter iniciado a política de subida das taxas de juro mais cedo: a Fed ainda o ano passado e o BCE em março. Mas agora é preciso ter atenção para o nível de “agressividade do ciclo de subida das taxas de juros” que pode “desencadear uma ameaça de recessão e gerar uma crise financeira”.
O responsável considera “difícil de entender” a previsão de evolução da política monetária — os mercados antecipam, por exemplo, que a Fed venha a subir juros até aos 5% — “tendo em conta as previsões de evolução da inflação”. No caso da zona euro, a Comissão Europeia aponta para uma taxa de inflação de 5% em 2023 e de 2,3% em 2024. “Podem obter recessão mais cavada, sem conseguir uma redução da inflação superior à que está prevista”, alerta. Por isso, para Vítor Constâncio é claro que os bancos centrais “vão ter de parar a subida dos juros para avaliar os impactos”.
E se a Fed já tem em marcha o processo de redução do balanço, depois das compras maciça de dívida pública, Vítor Constâncio recorda que esta “redução dos balanços é equivalente a uma subida das taxas de juros”. “Não creio que este programa possa ser concretizado plenamente nos EUA” e “o BCE está mais limitado que a Fed e só o poderá fazer de forma muito gradual”.
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