BCE vai continuar a aumentar juros, mesmo com maior risco de recessão

  • ECO e Lusa
  • 1 Novembro 2022

Imune ao aumento da pressão política, Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, insiste que irá concretizar objetivo da estabilidade de preços “usando todas as ferramentas disponíveis".

Depois de o Banco Central Europeu (BCE) ter anunciado na semana passada uma nova subida “jumbo” das taxas de juro na Zona Euro, de 75 pontos base, apertando ainda mais as condições financeiras para famílias e empresas da região, Christine Lagarde garantiu que a instituição vai continuar a tentar domar por esta via a escalada dramática dos preços, mesmo com um aumento do risco de recessão.

Numa entrevista a um jornal da Letónia, divulgada esta terça-feira, a presidente do BCE lembrou o mandato para a “estabilidade de preços”, que irá ser concretizado “usando todas as ferramentas que tem disponíveis”. “Estamos determinados a fazer o que for necessário para trazer a taxa de inflação de volta ao objetivo dos 2% (…) Vamos ter mais aumentos das taxas de juro no futuro. Quanto mais tempo a inflação se mantiver a estes níveis elevados, maior é o risco de se espalhar por toda a economia”, afirmou.

De acordo com a estimativa rápida divulgada esta segunda-feira pelo Eurostat, a taxa de inflação homóloga na Zona Euro terá acelerado para 10,7% em outubro, uma subida de 0,8 pontos percentuais face aos 9,9% registados no mês anterior. Portugal voltou a ficar ligeiramente abaixo da média dos países do euro, ao registar uma taxa de 10,6% (no indicador utilizado para a comparação europeia).

No sábado, o primeiro-ministro insistiu na necessidade de o BCE ser prudente na linha de “normalização da política monetária” para combater a inflação, advertindo que uma recessão agravará a situação social na Europa. “O BCE é independente [dos governos] e devemos respeitar essa independência, o que não quer dizer que não tenhamos uma opinião sobre a matéria”, declarou António Costa, durante uma conferência de imprensa conjunta com a primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne.

Impacto direto da guerra sobre os bancos tem sido limitado

Relativamente aos riscos da conjuntura atual para o mercado imobiliário, Christine Lagarde reconheceu que a forte subida dos preços está a ter efeitos adversos no rendimento disponível das famílias, especialmente nas famílias de baixos rendimentos. Ao mesmo tempo, indicou que os níveis de emprego são “notavelmente sólidos” na zona euro, o que ajudou a fortalecer as finanças das famílias até agora, juntamente com as poupanças acumuladas durante a pandemia e os apoios públicos.

No entanto, admitiu que as famílias podem ser vulneráveis ao aumento dos custos do serviço da dívida, especialmente em países onde as propriedades residenciais estão sobrevalorizadas, os níveis de dívida são altos e uma parcela maior da dívida das famílias está sujeita a taxas de juro variáveis.

A este propósito, considerou que esses riscos “são mais bem abordados através de políticas específicas de cada país”. “Vamos dar uma imagem no final deste mês, quando publicarmos nossa Revisão de Estabilidade Financeira semestral”, acrescentou.

Em matéria bancária e sobre o impacto de um eventual aumento do crédito vencido, Lagarde explicou que os supervisores do BCE iniciaram uma revisão das práticas de provisionamento dos bancos mais importantes da zona euro, para garantir que estão preparados. No entanto, disse que o impacto direto da guerra sobre os bancos da zona euro tem sido limitado até agora, embora o ambiente para as empresas e para a economia como um todo se tenha alterado.

Quanto à questão de saber se esta crise é semelhante à de 2008, Lagarde salientou que os bancos estão atualmente em melhor posição, em grande parte porque o BCE tem agora uma supervisão bancária conjunta em toda a área do euro. Ainda assim, enfatizou: “Todos devemos estar atentos e prontos para responder ao que possa acontecer”.

Finalmente, a presidente do BCE recordou as previsões do banco central. “Publicámos a nossa última ronda de projeções em setembro. As projeções de linha de referência apontam para uma inflação de 8,1% este ano, 5,5% no próximo e 2,3% em 2024. O crescimento deve desacelerar para 0,9% no próximo ano e atingir 1,9% em 2024”, precisou.

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