BCE sobe juros em 75 pontos base para nível mais alto desde 2008
Sem surpresas, o BCE subiu novamente as taxas de juro em 75 pontos base, para o nível mais elevado desde 2008, para controlar a escalada dos preços. Anuncia medidas para travar borlas na banca.
Ainda sem sinais de tréguas da inflação, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou esta quinta-feira uma nova subida “jumbo” das taxas de juro na Zona Euro, de 75 pontos base, apertando ainda mais as condições financeiras para famílias e empresas da região, num esforço para domar a escalada dramática dos preços.
O conselho de governadores do banco central decidiu-se por um aumento de 75 pontos base, o segundo seguido desta dimensão depois da subida de setembro (e de 50 pontos em julho), elevando a taxa dos depósitos para 1,5% e a taxa de refinanciamento para 2%, o nível mais elevado desde julho de 2008, na antecâmara da grave crise financeira mundial.
“Com este terceiro grande aumento consecutivo das taxas diretoras, o conselho do BCE avançou consideravelmente com a eliminação da acomodação da política monetária“, diz a instituição em comunicado.
Adianta ainda que “espera continuar a aumentar as taxas de juro” com o objetivo de “assegurar o retorno atempado da inflação ao seu objetivo de 2% a médio prazo” e que a “trajetória futura das taxas de juro diretoras na evolução das perspetivas de inflação e económicas, seguindo a sua abordagem reunião a reunião”.
Esta subida já era amplamente esperada pelos investidores, que aguardam agora por sinais em relação a um eventual abrandamento do ritmo de aumentos das taxas já na próxima reunião de dezembro. Em cima da mesa poderá estar outro aperto das taxas, mas de 50 pontos base, de acordo com os analistas, o que faria com que a taxa de depósitos do BCE terminasse o ano nos 2%, o nível considerado “neutral” para a economia. Depois restará saber quando é que terminará este ciclo de subidas — os analistas antecipam o fim do caminho perto dos 3%.
Este será um dos principais temas de discussão na conferência de imprensa com a presidente do banco central, Christine Lagarde, a partir das 14h45.
Para as famílias e empresas, o agravamento das taxas de juros traduz-se num aumento dos encargos com os empréstimos dos bancos (como da compra de casa, por exemplo), isto enquanto já têm de lidar com o impacto brutal do aumento do custo de vida – a inflação ficou nos 9,9% em setembro, uma taxa sem precedentes na história de duas décadas da moeda única.
Já o BCE, ao apertar as condições financeiras, procura resfriar a procura e, assim, aliviar os preços para o seu objetivo simétrico de 2% a médio prazo, mas tem de avaliar o outro lado da moeda: o aperto monetário poderá traduzir-se numa recessão na Zona Euro, quando a economia atravessa uma crise energética e enfrenta uma guerra às suas portas.
BCE tenta acabar com borla aos bancos
Outros dois assuntos deverão ganhar destaque na conferência de Lagarde com os jornalistas, em Frankfurt: a redução do balanço do BCE e ainda os planos do banco central para acabar com as borlas que os bancos estão a ter com os empréstimos baratos concedidos na pandemia.
Sobre a redução do balanço de títulos de dívida, Lagarde deverá reafirmar que o processo de quantitative tightening (QT) só deverá iniciar após o fim deste ciclo de subida dos juros, perspetivando-se que isso possa acontecer no próximo ano.
Em relação aos empréstimos baratos, o banco central anunciou alterações no esquema dos empréstimos TLTRO de 2,1 biliões de euros, de forma a cortar as borlas à banca comercial. “Devido à subida inesperada e extraordinária da inflação, este instrumento necessita de ser recalibrado para assegurar a sua compatibilidade com o processo mais geral de normalização da política monetária e reforçar a transmissão dos aumentos das taxas diretoras às condições de financiamento bancário”, explicou.
O que mudou? O BCE disse que as taxas de juro das operações TLRO serão indexadas à média das taxas de juro diretoras aplicáveis durante este período com o objetivo de os bancos reembolsarem os empréstimos mais cedo. Além disso, o banco central também decidiu que as reservas mínimas serão remuneradas à taxa de depósito do BCE, em vez da taxa principal, que é 50 pontos base mais alta. Lagarde explicou que vão ser abertas três janelas para os bancos procederem ao reembolso dos empréstimos, caso pretendam.
Depois de terem pedido emprestado a taxas zero ou mesmo negativas junto do BCE, os bancos podem agora parquear estes fundos baratos junto do banco central para beneficiar de um retorno sem risco com a subida da taxa de depósito.
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(Notícia atualizada às 13h37)
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