Exclusivo Obrigações da Greenvolt dão pouca energia à carteira dos investidores
Apesar de pagarem 5,2% por ano, as obrigações verdes da Greenvolt exigem o pagamento de muitos encargos que minguam os ganhos do investimento para um máximo de 3,56%.
A Greenvolt anunciou, na semana passada, a sua segunda emissão de obrigações verdes. A empresa liderada por João Manso Neto pretende financiar-se em 100 milhões de euros através de “green bonds” com maturidade a cinco anos, para financiar ou refinanciar projetos ligados às energias renováveis.
Segundo o prospeto das obrigações, o período da operação pública de subscrição (OPS) das “Obrigações Verdes Greenvolt 2027” arrancou a 2 de novembro e vai prolongar-se até 15 de novembro, e exige um investimento mínimo de 2.500 euros, o equivalente à compra de cinco obrigações.
Para convencer os investidores a emprestarem-lhe o dinheiro pretendido, a Greenvolt compromete-se a pagar 5,2% brutos por ano até 2027, o que sugere um negócio tentador. Não só porque a maioria das ações, obrigações e fundos de investimento está a registar correções na ordem dos dois dígitos desde o início do ano, como também os depósitos a prazo estão a oferecer taxas próximas de 0%. Mas nem tudo o que reluz é ouro.
Considerando o preçário atual dos 12 bancos colocadores desta operação no mercado, um investimento de 2.500 euros (mínimo permitido) traduz-se numa taxa interna de rentabilidade (TIR) média líquida de apenas 2% no bolso dos pequenos investidores que não tenham outros títulos em carteira. E mesmo que tenham mais ações ou obrigações e possam inclusive investir o máximo permitido na aquisição das “Obrigações Verdes Greenvolt 2027”, na melhor das hipóteses ganharão 3,56%.
Rendibilidade média anual das obrigações da Greenvolt
Fonte: ECO e preçários dos 12 bancos colocadores das Obrigações Verdes Greenvolt 2027. Rendibilidade média anual estimada de um investimento que leve as obrigações até à maturidade.
O potencial ganho que as obrigações da Grenvolt oferecem é limitado face ao risco do investimento. Os Certificados de Aforro, por exemplo, estão a pagar 2,5% em novembro (1,79% líquidos) e, ao contrário das obrigações da Greenvolt, são garantidos pela República Portuguesa, não têm oscilações de preço e não têm encargos associados.
Mas não é só face aos títulos de dívida do Estado que as obrigações da Greenvolt se mostram como um investimento com pouca energia para a carteira dos pequenos investidores. Também em comparação com outras obrigações semelhantes se chega à mesma conclusão.
Obrigações verdes com diferentes tratamentos
As empresas estão cada vez mais a procurar financiamento através da emissão de obrigações sustentáveis, com particular foco nas obrigações verdes. A EDP é disso exemplo. Desde 2018 já angariou quase 8.700 milhões de euros em “green bonds”, tornando-se já no principal instrumento de financiamento da elétrica nacional.
As duas últimas emissões de obrigações verdes da EDP foram realizadas a 3 e 4 de outubro e foram colocadas somente junto de institucionais. A primeira resultou no financiamento de 500 milhões de dólares a cinco anos, pelo qual a elétrica assumiu o compromisso de pagar 6,3% por ano até 2027. A segunda emissão permitiu à empresa levantar 500 milhões de euros a oito anos pelo preço de 3,875%.
É de notar ainda que a EDP detém 75% da EDP Renováveis, concorrente direta da Greenvolt, e é uma empresa que apresenta uma capitalização bolsista 16 vezes acima da Greenvolt e detém um rating creditício de “BBB” conferido pela S&P e pela Fitch, apenas um nível abaixo do rating de Portugal.
A Greenvolt não é avaliada por nenhuma das maiores empresas de análise de risco creditício (Moody’s, Fitch e S&P). Porém, tem um rating de “BBB-” atribuído pela agência de rating europeu Ethifinance e será sob este nível de risco que negoceiam as obrigações da Greenvolt.
Numa comparação com as emissões obrigacionista da EDP, particularmente na operação com o mesmo prazo de investimento das obrigações da Greenvolt, verifica-se que o potencial ganho que a OPS das “Obrigações Verdes Greenvolt 2027” confere aos pequenos investidores parece curto. Porém, é importante notar que ao contrário da emissão da Greenvolt que é realizada em euros e totalmente orientada para o retalho, a emissão da EDP foi realizada em dólares e foi colocada junto de investidores institucionais.
O mesmo sucede com a emissão verde de dívida sénior preferencial da Caixa, realizada a 24 de outubro, um dia antes do anúncio da operação da Greenvolt. Em vez de captar o interesse dos pequenos investidores, a Caixa preferiu financiar-se junto de investidores institucionais, obtendo um financiamento de 500 milhões de euros pelo qual o banco público assumiu o compromisso de pagar aos seus credores um juro de 5,75% por ano até 2028.
Tomando em conta as operações da EDP e da Caixa, fica-se com a ideia de que as emissões obrigacionistas das empresas pagam melhor os investidores institucionais do que os pequenos investidores. E isso não é culpa das empresas mas dos intermediários financeiros que continuam a cobrar comissões elevadas para negociar obrigações que ofuscam grande parte dos ganhos das operações, particularmente quando o montante do investimento é reduzido.
Os melhores negócios fazem-se depois da OPS
As últimas contas da Greenvolt mostram uma empresa com uma estrutura financeira orientada para um ambicioso plano de expansão para os próximos anos, que é sustentado por vários projetos em pipeline com capacidade de produção de 6,7 gigawatts, o equivalente à produção energética de cerca de 2400 turbinas eólicas, sendo que 43% destes projetos entrarão em atividade já no próximo ano.
No plano de investimento da empresa estão contabilizados investimentos entre 3,8 mil milhões e 4,2 mil milhões de euros até 2026 que, segundo a empresa, serão realizados através de um “aumento moderado da dívida financeira”.
Os resultados do último semestre apontam para uma dívida bruta de 590 milhões de euros até junho, o equivalente a 48% do ativo, e uma dívida líquida de 2,3 vezes o EBITDA, menos de metade da média dos cinco principais concorrentes da Greenvolt.
Todas estas métricas espelham a qualidade da equipa de Manso Neto, que assumiu a liderança da empresa no primeiro trimestre de 2021, após o spin-off da empresa da Altri. Porém, para os investidores que estão de olho na OPS das “Obrigações Verdes Greenvolt 2027”, há outras contas a fazer.
Por exemplo, a última emissão obrigacionista realizada pela Greenvolt, que teve lugar a 10 de novembro de 2021, resultou na emissão de 100 milhões de euros de obrigações verdes com data de vencimento em 2028 e uma taxa de cupão de 2,625%. Quem foi à OPS destas obrigações e mantiver os títulos até à maturidade, contará com uma rendibilidade média anual bruta equivalente à taxa de cupão.
No entanto, se hoje comprasse as mesmas obrigações no mercado aberto (estão a cotar na Euronext Lisboa) e as levasse até à maturidade, iria alcançar uma rendibilidade média anual de 4,6%. Isto porque as obrigações estão a negociar com um desconto de 13% face ao seu valor nominal e com uma yield de 4,6%.
Atualmente vivemos num período marcado por subidas das taxas de juro que têm provocado desvalorizações bastante acentuadas no preço das obrigações. É o caso das obrigações da Greenvolt com maturidade em 2028, e deverá ser assim com as “Obrigações Verdes Greenvolt 2027”, que tal como as anteriores também serão admitidas à negociação na Euronext Lisboa.
Até que as taxas de juro continuem a subir, dificilmente os preços das obrigações irão estabilizar. Assim, comprar obrigações abaixo do seu valor nominal no mercado aberto (na bolsa) e mantê-las até à maturidade será sempre um negócio mais vantajoso do que comprá-las no decorrer de uma operação pública de subscrição, quando a compra é realizada ao preço nominal.
Ficha técnica das “Obrigações Verdes Greenvolt 2027”
- Nome: Obrigações Verdes Greenvolt 2027
- ISIN: PTGNVGOM0004
- Valor nominal: 500 euros
- Investimento mínimo: 2.500 euros
- Taxa de cupão: 5,20%
- Prazo de subscrição: Entre 2 e 15 de novembro
- Data de reembolso: 18 de novembro de 2027
Juros: O pagamento dos cupões será realizado semestralmente a 18 de maio e 18 de novembro de cada ano. - Admissão: As obrigações serão admitidas à negociação na Euronext Lisboa.
- Emissão: 95,6 milhões de euros (já descontando os encargos da emissão)
Nota: A análise do ECO à emissão da Greenvolt não dispensa a consulta do prospeto.
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