De saída da liderança, Jerónimo de Sousa apela à resistência do PCP

  • Lusa
  • 12 Novembro 2022

No último discurso enquanto secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa afirmou que o PS conseguiu maioria absoluta em janeiro graças a uma "operação de chantagem e mistificação".

No último discurso enquanto secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa reconheceu que o partido tem dificuldades e insuficiências que “importa superar” e apelou à resistência dos comunistas contra a “brutal ofensiva” em curso.

“Sabemos dos impactos negativos nos planos eleitorais, de expressão institucional, das nossas dificuldades, das nossas insuficiências e atrasos que estão identificados e importa superar”, disse Jerónimo de Sousa, na abertura dos trabalhos da Conferência Nacional do PCP, em Corroios, concelho do Seixal.

O apelo à resistência foi acentuado com o improviso no final do seu último discurso: “o vento está duro e muito forte, fustiga-nos o rosto, mas nunca hão de ver-nos levar com ele de costas, porque estaremos sempre virados para a frente, em todo o nosso projeto, do nosso ideal, do nosso partido!”.

Antes disso, numa parte da intervenção virada para dentro, o líder cessante, reconheceu: “sabemos quanto pesa a brutal ofensiva que se desenvolve contra o PCP, porque é o que é e não abdica de o ser, com os interesses de classe que assume, os objetivos por que luta e o projeto transformador de emancipação social de que é portador”, completou.

Ao longo dos últimos anos, continuou Jerónimo de Sousa, o PCP foi alvo de “campanhas de deturpação das suas posições, das calúnias e das tentativas de chantagem”, assim como de tentativas de “condicionamento e silenciamento”, em resultado da “sua corajosa intervenção”.

Jerónimo de Sousa apontou o dedo à “classe dominante, os senhores do mando no país”, que perante esta “ofensiva” queria que o PCP tivesse “abdicado de princípios e objetivos, se submetesse à sua agenda” e ‘fechasse os olhos’ às “opções de classe do PS, os projetos das forças reacionárias, a natureza da NATO, a guerra e as sanções”.

E continuando a falar para dentro, o secretário-geral cessante descansou os militantes que receavam uma mudança de rumo do PCP e falou para a “classe dominante”: “Enganaram-se e vão continuar enganados!”

“Sabemos igualmente que a ação do Partido, as condições de intervenção e luta resultam não apenas das decisões e opções próprias, mas também da ação dos seus adversários e do quadro mais geral – nacional e internacional – em que intervém”, completou.

Entre o “caderno de encargos que Jerónimo deixou ao seu sucessor, no plano da organização interna, está o desenvolvimento da ligação e do trabalho com outros democratas e patriotas” “seja no âmbito da CDU seja num plano mais largo” assumindo a realização de contactos regulares a partir de cada uma das organizações com aqueles que se destacam na vida coletiva”.

PS “cada vez mais inclinado para a direita”

Na parte mais virada para fora, Jerónimo de Sousa acusou neste sábado a governação de maioria absoluta de mostrar “um PS cada vez mais inclinado para a direita” e considerou que os socialistas, PSD, CDS e IL e Chega encenam e empolam divergências.

“Hoje está muito claro qual é o sentido da governação do PS maioritário e quão verdadeira era a palavra do PCP quando afirmava que o PS não queria resolver os problemas nacionais, mas tão só romper com a política de defesa, reposição e conquista de direitos e criar condições para retomar na plenitude a política de direita que sempre teve como sua”, acusou Jerónimo de Sousa, na abertura dos trabalhos da Conferência Nacional do PCP, em Corroios, concelho do Seixal.

Para Jerónimo de Sousa, a governação socialista “mostra um PS cada vez mais inclinado para a direita”, ao fazer opções de política económica e orçamental que conduzirão ao “perigo de uma nova fase de definhamento económico e degradação social”.

“As recentes alterações do quadro político”, continuou o líder cessante do PCP, vão “replicar, senão aprofundar a evolução negativa do país que décadas de política de direita impuseram”.

E a maioria absoluta que António Costa alcançou nas eleições legislativas de janeiro só foi alcançada com uma “operação de chantagem e mistificação”.

Segundo o secretário-geral comunista, a alteração no quadro político decorrente das eleições traduziu uma “ampla promoção” das forças reacionárias num quadro em que PS e os partidos de direita “empolam e encenam” uma oposição entre si quando na verdade tem uma “ação convergente” em aspetos essenciais.

Caderno de encargos

 

O PCP anunciou há uma semana que Jerónimo de Sousa ia deixar de ser secretário-geral do PCP por razões de saúde e que Paulo Raimundo era o nome proposto para o substituir. Paulo Raimundo, de 46 anos, vai ser hoje eleito o quarto secretário-geral do PCP depois de uma reunião do Comité Central que deverá começar assim que encerrarem os trabalhos do primeiro dia da conferência.

A Conferência Nacional do PCP, a quarta em 100 anos, foi organizada com o objetivo de reenquadrar a ação do partido em contexto de maioria absoluta do PS, aumento da inflação e consequente degradação das condições de vida da generalidade da população, e também de incerteza em relação ao redesenho do mapa geopolítico internacional.

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