Mecanismo ibérico trava negociação de contratos de eletricidade, diz OMIP. Caíram 60% até outubro
O mecanismo ibérico permitiu uma descida dos preços grossistas da eletricidade, reconhece o presidente do OMIP, mas os volumes de negociação foram afetados pela intervenção no mercado.
A implementação do mecanismo ibérico, que limita os preços da eletricidade na Europa, teve como consequência “um travão repentino aos volumes negociados” no mercado grossista da eletricidade, afirma o presidente da plataforma OMIP, que opera o mercado ibérico de futuros.
“De janeiro a outubro deste ano, a negociação de contratos ibéricos está 60% abaixo do mesmo volume do ano passado“, indicou o presidente do OMIP, Martim Vasconcellos e Sá, quando confrontado com a questão de quais foram as principais consequências da implementação do mecanismo ibérico. A questão surgiu no âmbito da Portugal Renewable Summit, organizada pela APREN – Associação Portuguesa de Energias Renováveis, a decorrer esta quarta e quinta-feira, na Culturgest.
“Como em qualquer mercado, basta haver um indício, rumor ou sinal, de intervenção para os participantes se retraírem e recolherem até perceberem o que se vai passar, como se vai passar, o impacto que isto tem em todos os produtos que dependem do preço diário. E foi isso que se verificou”, relatou Martim Vasconcellos e Sá, referindo que este comportamento se sente não só desde que o mecanismo entrou em vigor mas já desde que ficou claro que estava a ser desenhado.
A mesma perceção de que os volumes transacionados desceram substancialmente foi partilhada por Carlos Miguel Urro, que representou a EEX European Energy Exchange no mesmo painel. “Estamos a ver parceiros muito nervosos, a terem conversas muito intensas com os reguladores para perceber as decisões que estão a ser tomadas”. Vasconcellos e Sá acrescenta que muitos participantes afirmam que gostariam de ter uma política de cobertura diferente, mas que, de momento, não têm capacidade financeira para a executar.
Preços na ordem dos dois dígitos estão longe
A introdução do mecanismo “levou efetivamente a uma atenuação do nível de preços”, atesta o presidente do OMIP. Além disso, “provocou uma desconexão dos preços em Portugal com o resto da Europa”, conseguindo-se, na Península Ibérica, preços abaixo da generalidade do mercado europeu. Apesar da evolução descendente dos preços, estes “continuam bastante elevados”, reconhece Vasconcellos e Sá, assinalando que, enquanto no primeiro semestre do ano passado o preço médio rondava os 58 euros por megawatt-hora, no mesmo período deste ano situou-se nos 206 euros, “um aumento de quase quatro vezes”.
Numa descrição da curva de futuros, o presidente do OMIP assinalou que vê contenção dos preços no período em que vigora o mecanismo, mas que estes começam a subir já no segundo trimestre de 2023, pois este trimestre apanha já um mês, junho, no qual já não é suposto o mecanismo vigorar. Os preços de 2023 e 2024 estarão na ordem dos três dígitos, contando também com a eventual dificuldade em voltar a encher as reservas de gás, que, para já, estão em níveis máximos, mas vão precisar de voltar a ser preenchidas para o próximo inverno. Só de 2025 em diante é que a curva volta a descer para preços de dois dígitos, relata.
Questionados sobre a hipótese de os preços do mercado grossista da eletricidade voltarem a níveis em torno dos 40 megawatts-hora, tanto Carlos Urra como o presidente da APREN, Pedro Amaral Jorge, se mostraram descrentes. Este último justifica a crença com os desequilíbrios entre oferta e procura que decorrem da transição energética.
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