OCDE pede contenção na subida das taxas de juro
Nos últimos dez anos o nível de endividamento das famílias e empresas aumentou substancialmente, levando a que hoje um choque monetário tenha um impacto muito maior na economia.
Desde o Verão, o Banco Central Europeu (BCE) já aumentou por três vezes as taxas de juro do euro, colocando fim a uma década marcada por uma política monetária expansionista, marcada inclusive por períodos de taxas de juro negativas.
O ritmo repentino de subidas das taxa de juro do BCE, que elevou a taxa diretora de 0% para os atuais 2% em menos de seis meses, tem sido repetido pela Reserva Federal norte-americana (Fed) e um pouco por todos os bancos centrais com o intuito de estancar as pressões inflacionistas que se têm sentido no último ano, particularmente após o eclodir da guerra na Ucrânia a 24 de fevereiro.
Apesar de a inflação na Zona Euro e nos EUA estar a dar sinais de algum abrandamento, este choque monetário está a provocar enormes dificuldades para empresas, famílias e Estados que procuram pagar as suas responsabilidades financeiras.
A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) chama a atenção esta terça-feira para esta situação, referindo que “um aumento acentuado das taxas de juro pode comprometer a capacidade das famílias e das empresas para pagar as suas dívidas, conduzindo potencialmente a incumprimentos e falências, e a correções nos preços das casas.”
No “Economic Outlook” de novembro, coordenado por Álvaro Santos Pereira, atualmente economista-chefe da OCDE, a organização internacional lembra que mesmo antes das recentes subidas das taxa de juro, o peso das prestações dos créditos das famílias sob os seus rendimentos no primeiro trimestre deste ano “já eram frequentemente superiores aos do início dos anos 2000, quando as taxas de juro eram significativamente mais elevadas”, o que indica níveis de endividamento mais elevados hoje do que há uma década.
No entanto, é notório que caso as taxas de juro continuem a subir muitas famílias enfrentarão um estrangulamento ainda maior do seu orçamento familiar. “Em muitas economias avançadas, o aumento das taxas políticas já foi repercutido nas taxas hipotecárias e os padrões de crédito bancário também se tornaram mais rigorosos”, refere a OCDE citando dados do BCE e do Banco de Inglaterra.
Famílias e empresas estão mais endividadas do que há dez anos
Entre os mais vulneráveis ao choque monetário estão as famílias de baixos rendimentos em países onde as famílias estão altamente endividadas e em países onde as hipotecas indexadas a taxas variáveis são amplamente utilizadas, como sucede em alguns países nórdicos e em Portugal, onde 93% dos contratos de crédito à habitação é de taxa variável.
Segundo uma análise do Banco de Pagamentos Internacionais citada pelo relatório da OCDE, “um aumento das taxas de juro de 425 pontos base (semelhante ao aumento da taxa da Fed no período 2004-2006 poderia levar a um aumento dos custos do serviço da dívida de mais de dois pontos percentuais em média nas economias avançadas”.
Para as empresas, o aumento das taxa de juro “pode expor vulnerabilidades financeiras” das suas operações, lembram os economistas da OCDE. De acordo com dados da organização internacional, a mediana da taxa de endividamento das empresas dos países da OCDE atingiu 141% do PIB em 2021, 29 pontos percentuais acima do registado em 2000, “e os rácios do serviço da dívida já estão próximos dos prevalecentes na altura”.
Embora os prazos de vencimento da dívida das empresas tenham aumentado durante a pandemia, “a percentagem de empresas incapazes de pagar o serviço da dívida poderia aumentar acentuadamente no caso de um aperto adicional por parte dos bancos centrais”, refere o relatório da OCDE.
Quem não fica de fora desta equação são os bancos. A OCDE alerta que o aumento da pressão sobre as famílias e as empresas, e a possibilidade de isso levar a um aumento de incumprimentos no pagamento dos empréstimos bancários, acrescenta “riscos de grandes perdas potenciais para instituições financeiras bancárias e não-bancárias”.
No entanto, a OCDE lembra que “os testes de stress [sobre as estruturas dos bancos] sugerem que, de uma forma geral, as medidas regulamentares mais rigorosas implementadas desde a crise financeira global ajudaram a melhorar a resistência do setor bancário aos choques”.
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