Futuros deveres de diligência para a sustentabilidade nas empresas serão desafio para PME
O dever de diligência das empresas e responsabilidade empresarial está em debate na UE e visa obrigar empresas a adotar orientações que consagrem a proteção de direitos humanos, ambiente e governança.
No arranque deste ano, a Comissão Europeia adotou uma proposta de diretiva, no âmbito da Organização das Nações Unidas, que visa obrigar as empresas a adotar um conjunto de deveres de diligência e responsabilidade empresarial, que consagrem a proteção de direitos humanos, ambiente e boa governança. Se aprovada, a medida começará a ser transposta para o Estados-membros a partir de 2025.
Apesar de ainda não ser possível estimar, para já, quais serão os custos financeiros para as empresas face a este processo de adaptação, certo é que as grandes empresas do setor do retalho já começaram a sentir a pressão.
“É difícil determinar”, considerou o managing partner da PLMJ, esta quarta-feira, durante a 2ª edição do ESG Portugal Forum, organizada pela PLMJ, em parceria com o ECO/Capital Verde. “Existem custos mas também oportunidades de negócio porque sabemos que há empresas que têm uma melhor performance quando têm um conjunto de regras mais exigentes”, afirmou Bruno Fernandes.
O dever de diligência das empresas e responsabilidade empresarial prevê que as empresas que operem no espaço europeu (quer estejam estabelecidas ou não) sejam obrigadas a rastrear a cadeia de valor, até à sua origem, e analisar o seu impacto no meio ambiente, ao mesmo tempo que avaliam se os seus fornecedores respeitam as normas ambientais e não usam trabalho escravo ou infantil.
A título de exemplo, o responsável da PLMJ indicou que nos Estados Unidos ficou concluído que a importação de produtos a provincia chinesa Xinjiang coloca em causa a sustentabilidade das empresas, uma vez que naquela região prevalece o risco do trabalho escravo.
“As empresas vão ter que ter mais atenção em relação aos produtos que arranjam, dentro e fora da União Europeia“, disse. “Será preciso ganhar consciência da extensão das cadeias de fornecimento das empresas, porque hoje em dia comprar produtos, nas mais variadas jurisdições, pode ter riscos”.
As principais visadas deverão ser, para já, as grandes empresas que, segundo Bruno Fernandes “já estão preocupadas”, nomeadamente, as organizações do setor do retalho cuja cadeia de fornecimento tende a ser extensa e com várias origens. No entanto, existem preocupações para as PME exportadoras que, em muitos casos, são “fornecedores de grandes empresas europeias”.
De acordo com o managing partner, as empresas do tecido médio empresarial, “ainda não têm um nível de conhecimento” robusto o suficiente, em termos de serviços de consultoria e auditoria, que os permitam “cumprir com as exigências”.
“Preços praticados vão incorporando as preocupações sociais e ambientais”
Após a entrevista ao managing partner da PLMJ, seguiu-se um painel debruçado sobre o tema “Ligando os pontos: Compliance, Cadeia de Valor e Transparência”, que refletiu sobre alguns dos temas que se ligam às novas exigências de sustentabilidade.
João Paulo Carvalho, que esteve presente em representação da Quidgest, defende que “as questões do ESG inserem uma camadinha de gordura. Compete às empresas e consultores, que essa camada de gordura seja tão magra quanto possível”. O mesmo aponta que está a assistir-se a uma “internalização de custos que eram externalizados” — antes colocavam-se resíduo nos rios, libertavam-se para a atmosfera. “Não havia problemas com isso porque a própria sociedade não os tinha”, avalia. Agora, os preços praticados vão incorporando as preocupações sociais e ambientais.
Luís Marques, Chief Corporate Center Officer da Rangel Logistics Solutions, afirma que a UE tem procurado liderar o pelotão e tornar mandatórias um conjunto de mudanças estruturais. “Estamos a entrar num novo paradigma, de trabalhar a consciência das nossas pessoas, dos nossos colaboradores. É uma oportunidade fantástica dentro das organizações porque pode levar a um processo e melhoria e inovação“, acredita.
Joaquim Vale, administrador da Santos e Vale, indica que, no setor dos transportes e da logística, está a acontecer uma transição em termos de tecnologia, mas que, embora vão aparecendo alguns protótipos, não estão a avançar ao ritmo desejável. Na mobilidade elétrica urbana estão “muito mais desenvolvidos” os veículos ligeiros de passageiros do que os veículos pesados. E aproveitou para apontar que um veículo elétrico pesado, neste momento, custa 8 a 9 vezes mais que um veiculo a diesel, o que tem “um impacto muito grande de investimento”.
A Santos e Vale tem como compromisso reduzir em 20% a respetiva pegada ecológica e, só este ano, com uma subida de 2% no consumo de combustível, conseguiu ter mais 10% de toneladas entregues, uma eficiência para a qual contribuiu a inteligência artificial como guia para otimizar as rotas dos motoristas.
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