Isabel dos Santos recusa favorecimentos políticos em Lisboa
Em entrevista à TVI, a empresária angolana diz que não sabe se António Costa ligou mesmo a Carlos Costa, mas garante que a sua "relação com Portugal foi sempre através dos investimentos privados".
Isabel dos Santos insiste que nunca teve favores de nenhum governo em Portugal – “a relação que eu tive em Portugal nunca foi com os governos, mas, efetivamente, uma relação com os privados” – e, em entrevista à TVI, salvaguarda que a única queixa que tem em relação ao país está relacionada com a “lentidão da justiça”.
O poder político em Lisboa nunca a ajudou? “Os meus contactos foram sempre empresariais, de uma maneira ou de outra. Não tive contactos com o Governo, a não ser os normais dos licenciamentos, quando as empresas precisam de algum documento. São coisas das próprias empresas. A minha relação com Portugal foi sempre através dos investimentos privados”, respondeu.
Os meus contactos foram sempre empresariais, de uma maneira ou de outra. Não tive contactos com o governo, a não ser os normais dos licenciamentos.
Na entrevista divulgada esta terça-feira, a empresária angolana repete a ideia que já tinha passado há poucos dias, em declarações à alemã Deutsche Welle, afirmando que “o Estado português nunca interveio a [seu] favor ou fez pressões de género algum em relação aos investimentos” que tinha no país. Agora, sublinha que nem no período crítico da troika recebeu “pedidos específicos para investir em Portugal por parte do Governo” então liderado por Pedro Passos Coelho.
Já questionada sobre o episódio relatado por Carlos Costa no livro “O Governador”, em que o antecessor de Mário Centeno acusa o primeiro-ministro de intromissão política junto do supervisor bancário no caso de Isabel dos Santos, a empresária é lacónica. “Não sei se a chamada [de António Costa a Carlos Costa] aconteceu. O que posso dizer é que, do meu lado, as relações foram sempre empresariais, e não com o Estado” português, frisa.
Não sei se a chamada [de António Costa a Carlos Costa] aconteceu. O que posso dizer é que, do meu lado, as relações foram sempre empresariais, e não com o Estado português.
O Chega já propôs uma comissão eventual de inquérito parlamentar “para apurar a eventual ingerência do primeiro-ministro na autonomia do Banco de Portugal para proteger a filha do Presidente de Angola”. O partido liderado por André Ventura quer “apurar se houve abuso de poder por parte do líder do governo com o intuito de salvaguardar objetivos ou interesses externos à estabilidade do mercado financeiro português”.
Antes de tomar uma posição sobre este pedido de inquérito parlamentar, o grupo parlamentar do PSD quer esperar pelas respostas do primeiro-ministro às 12 perguntas que seguiram para o Palácio de São Bento com o intuito de esclarecer as declarações do ex-governador do BdP, Carlos Costa, tanto sobre o afastamento de Isabel dos Santos do BIC, como da resolução do Banif.
“Vingança” em Luanda, “carinho” por Moscovo
Alvo de um mandado de captura internacional emitido pela Interpol para extradição, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) de Angola, a filha do ex-presidente José Eduardo dos Santos reclama ainda que está a ser vítima de uma “perseguição política” no país natal.
“Não há dúvidas de que estamos perante um cenário de perseguição política. Olhando para Angola e para o seu sistema jurídico, é fácil de entender que o Procurador-Geral da República recebe ordens diretamente do Presidente João Lourenço. Acredito que haja uma vingança política e uma perseguição política em relação à minha pessoa e à minha família”, afirma.
Sobre o processo Luanda Leaks, Isabel dos Santos argumenta que “foi uma construção do Estado angolano, especificamente do presidente João Lourenço”. “Hoje tenho provas disso. É uma histórica mal contada. Quem leu 715 mil documentos? Vimos 140 documentos [disponibilizados] no website e a maior parte são completamente inócuos”, resume.
Nesta entrevista em que afirma que “o único sítio em que não [estará] a salvo é em Angola”, numa altura em que é procurada pelas autoridades policiais, a empresária africana admite ter “um carinho especial” pela Rússia, a terra onde nasceu a sua mãe e onde tem família, evidenciando “muito respeito pela história e pela cultura” do país liderado por Vladimir Putin.
E como é que encara a invasão russa da Ucrânia? “Espero que as coisas se resolvam. A paz é importante para todos”, sentencia Isabel dos Santos.
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