Consumo privado e investimento podem atirar PIB para o vermelho no quarto trimestre
Portugal cresceu 0,4% no terceiro trimestre, face aos três meses anteriores, e 4,9% em termos homólogos. Mas os economistas apontam para uma contração nos últimos três meses deste ano.
Incerteza é a palavra de ordem na economia. Com as famílias a braços com os impactos da inflação e com a subida das taxas de juro, os economistas são unânimes em antecipar que o consumo privado terá um contributo menor para a evolução da economia e que o investimento, se mantiver a trajetória de contração dos últimos seis meses, poderão mesmo arrastar o PIB para terreno negativo no quarto trimestre.
O Instituto Nacional de Estatística confirmou as suas projeções iniciais de que Portugal cresceu 0,4% no terceiro trimestre, face aos três meses anteriores, e 4,9% em termos homólogos. Este abrandamento é explicado pelo facto de a procura interna ter contribuído menos para o Produto Interno Bruto (PIB). As famílias consumiram menos e o investimento caiu, passando de um crescimento de 3,5% no segundo trimestre, para uma contração de 0,4%.
“O contributo da procura interna para a variação homóloga do PIB diminuiu no terceiro trimestre, passando de quatro pontos percentuais (p.p.) no segundo trimestre, para 2,9 p.p., verificando-se um crescimento ligeiramente menos acentuado do consumo privado e uma diminuição do investimento, determinada pelo comportamento da variação de existências”, explicava o INE.
E os economistas estão preocupados com a manutenção desta tendência. “É expectável que o consumo privado apresente um desempenho menos favorável já no quarto trimestre deste ano”, explica a nota de conjuntura do Millennium BCP, assinada por Márcia Rodrigues. “Caso o investimento persista em contração, à semelhança dos últimos dois trimestres, a economia portuguesa poderá registar uma contração no último trimestre do ano”, antecipa a economista.
Caso o investimento persista em contração, à semelhança dos últimos dois trimestres, a economia portuguesa poderá registar uma contração no último trimestre do ano.
Pedro Braz Teixeira ainda não fechou os números para as previsões do quarto trimestre, “mas a incerteza permanece muito elevada”, sublinha ao ECO o economista-chefe do Fórum para a Competitividade. A grande incerteza é o comportamento das famílias. “Além da dificuldade em estimar o impacto da ajuda pública às famílias”, o economista admite que, no caso dos pensionistas, poderão optar por fazer poupanças neste final de ano para compensar “a perda de poder de compra no próximo ano”.
“O quarto trimestre dificilmente poderá ser melhor do que o terceiro, com mais uma queda na confiança e subida da inflação para novo máximo em outubro, bem como novas subidas de taxa de juro do BCE, num contexto de guerra”, frisou, aquando da antecipação dos valores do terceiro trimestre.
A incerteza permanece muito elevada, para além da dificuldade em estimar o impacto da ajuda pública às famílias, já que, no caso das pensões, poderá haver poupanças para a perda de poder de compra no próximo ano.
“Apesar do momento pujante da economia portuguesa, é de esperar um forte abrandamento ou mesmo uma retração do consumo das famílias e do investimento das empresas, sobretudo porque as administrações públicas estão a aumentar a sua poupança de forma muito rápida, sublinha o economista do ISEG, Ricardo Cabral, no seu artigo de opinião desta segunda-feira do Público (acesso pago).
De acordo com as previsões do BPI, a economia vai sofrer uma contração no quarto trimestre, mas poderá ser ligeiramente inferior ao inicialmente antecipado porque o desempenho do terceiro trimestre acabou por ser melhor. “A confirmação de que o PIB avançou 0,4% em cadeia e 4,9% em termos homólogos no terceiro trimestre permite admitir uma revisão em alta da nossa atual previsão – 6,3% no conjunto do ano – que, no entanto, mantemos para já”, diz Teresa Gil Pinheiro, em declarações ao ECO.
“A suportar uma hipotética revisão em alta está o facto de os dados disponíveis para o quarto trimestre sugerirem que a contração em cadeia do PIB neste trimestre será mais moderada”, diz a economista da equipa de research do BPI. “Por exemplo, o indicador diário de atividade continua a indicar queda da atividade e as vendas a retalho desaceleraram bastante em outubro, mas os indicadores de sentimento sugerem alguma estabilidade/melhoria”, sublinha.
“Em novembro, entre os consumidores a pioria do sentimento foi marginal, mas nos restantes setores houve melhoria, por via da melhoria das expectativas quanto à evolução dos preços e da procura futura, o que se refletiu na melhoria do indicador de clima económico para 1,3% em novembro vs 1% em outubro”, acrescentou.
A suportar uma hipotética revisão em alta está o facto de os dados disponíveis para o quarto trimestre sugerirem que a contração em cadeia do PIB neste trimestre será mais moderada.
No Orçamento do Estado para 2023, o Executivo aponta para um crescimento de 6,5% este ano e 1,3% no próximo. Já o Banco de Portugal prevê um crescimento de 6,7% para este ano, uma previsão partilhada pelo Conselho das Finanças Públicas (CFP) que antecipa um abrandamento para 1,2% em 2023, numa base de políticas invariantes, ou seja, que não tem em conta as medidas que o Governo vai tomar, nomeadamente no OE. A OCDE prevê um abrandamento para 1% em 2023. Mas o Fundo Monetário Internacional é a instituição mais pessimista e aponta para um crescimento de 6,2% este ano e de 0,7% no próximo.
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