Like & Dislike: O processo de BESificação do Montepio
A Associação não só não cumpre as obrigações impostas pelo Banco de Portugal, como ainda faz alarde em não as cumprir.
Numa entrevista recente ao jornal Público, o governador do Banco de Portugal foi confrontado com a seguinte pergunta: não o preocupa que haja produtos da associação mutualista que são vendidos aos balcões da Caixa Económica Montepio Geral?
A resposta de Carlos Costa não foi propriamente reconfortante: “Os produtos não são supervisionados por nós. Em qualquer caso, no sentido de separar as entidades, nós requeremos a separação de marcas.”
A exigência de separação das marcas é para que ninguém compre gato por lebre. Ainda há dias a Deco alertava para o facto de haver quem esteja a comprar produtos com rendibilidades acima de 1% “e às vezes até pensam que é um depósito”.
Por isso é que o Banco de Portugal veio exigir que ao gato chamem gato, e à lebre chamem lebre.
Isto é uma forma de evitar que um cliente ou um associado compre um produto mutualista da Associação presidida por Tomás Correia, muitos dos quais dizem ter capital garantido, a pensar que está a fazer um depósito bancário da Caixa Económica com uma remuneração mais simpática.
Tratando-se de um produto mutualista, não existe qualquer garantia exterior (tal como o Fundo de Garantia de Depósitos) que assegure o reembolso das quantias aplicadas em caso de dificuldades da Associação Mutualista. A proteção é estritamente interna e dependente da respetiva solvência.
Ainda este fim de semana, fonte do Banco de Portugal dizia ao Expresso que existe muita confusão por parte dos clientes, sendo por isso necessária uma clara separação entre as duas entidades. “Por isso, é fundamental a mudança de marca”, explicava.
Hoje, em declarações ao Jornal de Negócios, uma fonte da Associação Mutualista vem dizer que não. “É algo que não está em cima da mesa. E se algum dia vier a estar, tratando-se de um assunto de natureza estratégica, teria de ser aprovado em assembleia-geral”.
Ou seja, a Associação diz que vai continuar a vender nos seus balcões um animal de quatro patas, e que vai continuar a chamar-lhe de gato. Mesmo que alguns possam ter umas orelhas compridas e umas pernas mais longas.
Resumindo, a Associação Mutualista não só não acata a recomendação do Banco de Portugal, como ainda faz questão de o vir dizer publicamente. São episódios que nos fazem lembrar outros de má memória, quando Carlos Costa tentava fazer um ring fencing entre o BES e o grupo GES e era olimpicamente ignorado por Ricardo Salgado.
Perante a resposta que a Associação dá hoje ao Jornal de Negócios, o Banco de Portugal vai continuar a fazer a sua supervisão ao estilo do gato (ou lebre) escondido com o rabo de fora, ou vai obrigar o banco a cumprir a sua determinação para que o processo de ring fencing desta vez seja eficaz?
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