Aos 50 anos, primeira tecnológica portuguesa está insolvente
Dois anos depois de ter sido comprada pelo grupo de engenharia Future, Compta está em processo de insolvência e sem presidente executivo.
Fundada em 1972, a tecnológica portuguesa Compta foi declarada insolvente. A sentença foi emitida na passada quarta-feira pelo Juízo de Comércio de Sintra e agora a empresa está sob gestão de um administrador judicial, segundo o portal Citius. A situação acontece dois anos depois de a empresa ter sido comprada pelo grupo português de engenharia Future, que mudou o nome da tecnológica para Future Compta.
“Fiquei surpreendido e triste por saber desta situação. A empresa sempre apresentou argumentos bastante sólidos”, comenta ao ECO o anterior dono da Compta, Armindo Monteiro. O gestor de empresas vendeu a tecnológica ao grupo Future em 2020, depois de mais de uma década como principal acionista e presidente executivo. Após a transação, Armindo Monteiro ocupou funções não executivas até ao final de 2021 e garante que a empresa “provou ser resiliente ao longo dos últimos anos”.
A Compta começou em 1972 como uma empresa de processamento de dados. Uma década depois, acrescentou a camada da comercialização de sistemas e em 1988 entrou para a Bolsa de Lisboa – onde permaneceu até novembro de 2019. Em 1992, a Compta também entrou para o mercado de comunicações e chegou a dominar este mercado na viragem do milénio. A partir de 2010, a tecnológica passou a apostar em produtos próprios e criou quatro centros de inovação e desenvolvimento.
Quando foi comprada pelo grupo Future, a Compta ficou com a mira apontada para a internacionalização. Em outubro de 2020, havia um “objetivo de crescimento muito ambicioso para o próximo triénio”, quer em pessoas, quer em volume de negócios. “Diria que em três anos deveremos seguramente dobrar o número de colaboradores da Compta” – atualmente emprega 220 pessoas – e “triplicar a faturação”, fixou Alberto Gama Ferreira, então nomeado presidente executivo da tecnológica.
Na página da empresa, Alberto Jorge Ferreira ainda é apresentado como presidente executivo. No currículo, é assinalada a sua passagem profissional pelo Médio Oriente, uma das regiões em que a Compta iria apostar. Só através da sua página pessoal na rede social LinkedIn é que foi possível verificar que o gestor já não está ao leme da tecnológica, voltando ao seu papel de sócio numa empresa de consultoria de gestão. Contactado pelo ECO, Alberto Jorge Ferreira recusou-se a dar qualquer explicação sobre como a empresa chegou a este ponto.
No entanto, na sentença da declaração de insolvência, Alberto Jorge Ferreira continua a surgir como um dos administradores, assim como Nuno Roque Matos, que não respondeu ao contacto do ECO.
A decisão judicial relativa à tecnológica surgiu exatamente um mês depois de uma assembleia geral extraordinária em que um dos pontos em cima da mesa era a dissolução da sociedade, a redução do capital social ou possíveis injeções de capital pelos atuais acionistas.
A reunião magna foi convocada depois de se ter verificado que metade do capital social da empresa estava perdido, isto é, “quando o capital próprio da sociedade for igual ou inferior a metade do capital social”, refere o artigo 35.º do Código das Sociedades Comerciais. No final do primeiro semestre, o capital próprio da Compta era de 547 mil euros, o equivalente a 3,7% do seu capital social.
Nas próximas semanas será feito o apuramento da dívida da tecnológica aos seus fornecedores. Para já, sabe-se que Novobanco e SAP Portugal estão na lista dos credores. O administrador de insolvência recusou-se a adiantar quaisquer informações ao ECO.
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