Produtores defendem aumento do preço do leite perante subida dos custos

  • Lusa
  • 17 Dezembro 2022

Os produtores consideram que a subida do preço do leite foi abrupta, mas era necessária para fazer face aos custos mais elevados. Para o arranque de 2023 não esperam um aumento.

O preço do leite e dos seus derivados não deverá ter uma grande alteração no início de 2023, mas o resto do ano continua a ser uma incógnita face à evolução dos custos de produção e ao contexto externo, adiantaram os produtores à Lusa.

“Em janeiro, pressuponho que não vai acontecer nenhuma alteração de grande monta. Durante o ano, é impossível estar a fazer algum tipo de conjeturas porque depende de fatores a que nenhum analista nos consegue dar respostas”, afirmou o secretário-geral da Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite (Fenalac), Fernando Cardoso. No entanto, espera que se verifique “alguma acalmia”, uma vez que os rendimentos dos consumidores estão já a ser pressionados.

No mesmo sentido, o secretário-geral da Associação dos Produtores de Leite de Portugal (Aprolep), Carlos Neves, disse não haver, neste momento, qualquer indicação que aponte para uma subida do preço do leite pago aos profissionais do setor e, consequentemente, do valor pago pelo consumidor final. “Se houver alguma coisa, será muito ligeira”, sublinhou.

O preço do leite e dos laticínios tem vindo a aumentar, pelo menos desde fevereiro, uma evolução que os produtores consideram tardia, abrupta, mas necessária face à pressão que os custos de produção exercem no setor desde 2021.

“No caso do leite e dos produtos lácteos, a questão que se põe é mais por que é que aconteceu tão tarde? Nós já vínhamos a viver, até previamente à guerra da Ucrânia, com um aumento enorme da energia e dos alimentos para os animais produzirem leite”, defendeu o secretário-geral da Federação Nacional das Cooperativas de Produtores. A invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro, fez disparar o preço da energia e também dos cereais.

Assim, conforme defendeu Fernando Cardoso, “mais tarde ou mais cedo” teria que haver uma transmissão dos custos do produtor para o consumidor. Esta transmissão acabou por acontecer muito tarde, levando a uma escalada repentina dos preços, situação que o setor reconhece, mas não deixa de notar ser imprescindível para a sua sobrevivência.

“O produtor não podia suportar mais este aumento de custos. É uma atividade que vive de margens reduzidas e teve mais um ano de défice”, referiu. Fernando Cardoso lembrou ainda que rubricas como a energia, alimentos para animais, fertilizantes, fitofármacos e mão-de-obra representam entre 80% a 90% dos custos de produção do leite, daí a necessidade de se verificar um aumento.

O secretário-geral da Associação dos Produtores de Leite de Portugal, Carlos Neves, por seu turno, lembrou ainda que para este aumento também contribuiu a seca, que levou mesmo muitos produtores a abaterem os seus animais. “Não tendo forragens e pastagens e tendo a ração muito cara, muitos produtores optaram por abater animais, o que levou a reduzir a produção e obrigou os vários compradores a subirem o preço ao agricultor e a repercutirem isso no preço de venda”, explicou.

Questionado sobre se o preço ao produtor também aumentou, Fernando Cardoso adiantou que Portugal está agora “muito mais perto” da média comunitária. “Estamos, neste momento, com um preço à volta de 0,57 euros, eventualmente um bocadinho mais elevado. No início deste movimento, estávamos com preços de 0,36 euros ou 0,37 euros por litro. Houve uma escalada muito marcada do preço do leite ao produtor, numa proporção um bocadinho até maior do que o preço do consumidor”, apontou.

Carlos Neves também referiu que houve um aumento “muito significativo” no preço pago ao produtor, sobretudo entre outubro e novembro. Porém, o secretário-geral da Aprolep notou que ainda não foi possível recuperar os prejuízos acumulados desde 2021. “Será preciso bastante tempo até se ganhar o suficiente para equilibrar o prejuízo que se acumulou nos últimos anos. Os agricultores ainda olham com muita apreensão para o futuro. Não sabemos quanto é que este preço vai durar. Não esperamos que continue a haver um aumento generalizado, embora fosse desejável que se nivelasse pelo preço mais alto”, concluiu.

Segundo dados compilados pela Deco, organização de defesa do consumidor, um litro de leite UHT meio gordo custava 0,68 euros em 23 de fevereiro deste ano, valor que ascendeu a 0,96 euros no dia 07 de dezembro. Neste período, um litro de leite UHT meio gordo registou o seu valor mais alto em 30 de novembro (0,97 euros).

Por sua vez, uma embalagem de 200 gramas de queijo flamengo fatiado passou de 1,99 euros para 2,65 euros, enquanto uma embalagem de 250 gramas de manteiga com sal passou a custar 2,32 euros, quando, em 23 de fevereiro, estava em 1,85 euros. Já uma embalagem de 200 gramas de queijo curado fatiado teve um aumento, até 07 de dezembro, de 0,47 euros, passando de dois euros para 2,47 euros.

Um ‘pack’ de quatro unidades de iogurte líquido aumentou, no período em causa, 0,23 euros, estando o seu valor em 2,16 euros, enquanto um ‘pack’ de oito unidades de iogurte com aroma passou de 1,83 euros para 1,87 euros, tendo chegado a custar 1,89 euros.

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