As comunidades de energia renovável como fator de competitividade das empresas

  • Andreia Carreiro
  • 20 Dezembro 2022

Por esta via, é possível alcançar poupanças energéticas significativas, podendo ser atingidos valores na ordem dos 80% de redução no custo por kWh consumido com recurso a fonte solar, face aos atual.

A energia representa uma fatia muito considerável dos custos das empresas, muitas vezes superiores a 35%, podendo atingir os 40% a 50% com a escalada de preços a que temos vindo a assistir, sendo este um fator muito penalizador não só para a recuperação pós-pandemia covid-19, mas essencialmente para a manutenção da sua atividade. Por estas razões, pode colocar em causa a sustentabilidade, contribuindo decisivamente para a diminuição da competitividade, em combinação com outros fatores críticos, tais como a escassez e o aumento dos preços de serviços, matérias-primas e demais recursos.

Desta forma, é essencial aumentar a eficiência energética e descarbonizar os consumos energéticos, incrementar a integração de renováveis, reduzir a dependência energética externa e com isto assegurar a competitividade das empresas, robustecer a atividade económica e estimular a capacidade produtiva assente numa sustentabilidade social e ambiental. Para o efeito, existem novos caminhos alternativos e imediatos, como o autoconsumo coletivo e as Comunidades de Energia Renovável (CER), com produção local verdadeiramente descentralizada e partilhada.

Portugal tem já bons exemplos no terreno, que servem de inspiração para que este modelo seja aceite e reconhecido como uma forma de democratizar e descarbonizar o setor energético com a participação ativa dos utilizadores de energia, que se configuram como agentes ativos nas novas dinâmicas dos mercados de energia, onde as empresas desempenham um papel fundamental. As CER possibilitam que diversas entidades, sejam unidades industriais, edifícios empresariais ou residenciais, entre outras, possam: produzir energia a partir de fontes renováveis nas proximidades do local de consumo, resultando numa descarbonização do consumo, bem como na redução de custos energéticos de forma imediata; consumir, armazenar, comprar e vender energia, com os seus membros ou com terceiros, bem como partilhar, comercializar e transacionar a energia renovável, contribuindo para um maior equilíbrio de rede assente em produção distribuída para fazer face à crescente eletrificação dos consumos. Por esta via, é possível alcançar poupanças energéticas significativas, podendo ser atingidos valores na ordem dos 80% de redução no custo por kWh consumido com recurso a fonte solar, face aos atuais preços de mercado, a par dos proveitos gerados com a partilha do excedente produzido e não consumido.

As CER abrem também a possibilidade de aceder e desenvolver novos mercados de energia onde os membros da comunidade podem ser agentes ativos e, portanto, ressarcidos pelos serviços energéticos prestados. Este modelo contribui ainda para uma maior segurança de abastecimento dos territórios e uma maior independência energética do país.

Assim sendo, as empresas deverão ser alvo de análise prévia a fim de se desenhar a solução ideal para compor uma CER. Por um lado, para satisfazer as suas necessidades de consumo a um baixo custo, otimizando a gestão energética e maximizando proveitos com a comunidade envolvente, incluindo as unidades de produção, os sistemas de armazenamento, a frota de veículos, os equipamentos e cargas flexíveis (sistemas de aquecimento e ar condicionado, sistemas de águas quentes sanitárias, entre outros) bem como cargas controláveis (sistemas de iluminação, equipamentos de serviços administrativos, entre outros), que agregados poderão ser geridos de forma inteligente por via da eficiência e do autoconsumo. Por outro lado, pode maximizar os proveitos com o fornecimento/venda de serviços energéticos e/ou partilha de energia com os diversos membros da CER e nos futuros mercados de energia, uma vez que possibilita que as empresas gerem proveitos nos períodos em que não operam, por exemplo, nos feriados, fins de semana e períodos de férias, podendo representar cerca de 35% das horas anuais de sol.

Para o efeito, é absolutamente essencial recorrer ao uso de uma plataforma de gestão integrada, que possibilite a monitorização e controlo, remoto e em tempo real, bem como a gestão dos diversos ativos energéticos da CER, ou seja, quer ao nível do processo produtivo, dos sistemas e equipamentos, entre outros ativos energéticos que produzam, consumam e/ou armazenem, para que seja possível maximizar o uso de renováveis produzida nas proximidades do local de consumo, minimizar o uso de energia proveniente da rede e, por conseguinte, reduzir os custos energéticos. Em situações de excedente energético, por via da venda e/ou partilha da energia com a comunidade envolvente, pode abranger diversos membros de diversas tipologias, tais como entidades públicas, empresas e cidadãos, incluindo famílias economicamente vulneráveis e, assim, contribuir para combater a pobreza energética.

O desenvolvimento das CER promovida por setores económicos garante o alcance da neutralidade carbónica dos territórios e assegura a transição energética, aliada à transição digital, com potencial para gerar novos modelos de negócio e fomentar a criação de novos mercados com participação ativa das empresas, que por esta via asseguram um posicionamento estratégico verde e um aumento da competitividade da atividade económica. Paralelamente, asseguram uma perspetiva de cidadania e democratização energética, o desenvolvimento de uma economia local e sustentável, contribuindo para o combate às alterações climáticas.

  • Andreia Carreiro
  • Innovation Strategy Director na Cleanwatts

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